Os bons tempos do correio

Os bons tempos do correio

Carta

Era um tempo que tudo era mais difícil de comprar e de encontrar à venda,
pois o mercado ainda não era tão desenvolvido como hoje. No mês de junho e julho, infalivelmente tínhamos nas ruas serração, e no mês de agosto o
vento era tanto que era propício para soltar papagaios e colorir o céu.

Na Rua Alferes José Caetano, esquina com a Rua 13 de maio, estava localizada a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (antiga denominação). Ficava um prédio antigo, mas era aconchegante – além de possuir funcionários simpáticos e de eficiência no trabalho e no atendimento.

O correio brasileiro sempre teve uma aura de inexpugnável e eficiente. Lembro-me que uma carta era coisa sagrada e ninguém poderia abri-la, e se alguém encontrasse uma carta perdida na rua deveria entregá-la na agência do correio – ou se chegasse uma carta, por engano, em nossa casa, deveríamos devolvê-la de imediato. O carteiro de nosso bairro era nosso amigo e querido, as crianças – quando o avistavam – gritavam “lá vem o Vicentão carteiro.”

Através do correio desenvolvi minha paixão pelos selos (filatelia). Era um
tempo que os selos eram mais bonitos, mais vistosos, mais pensados e
elaborados. Foi na filatelia que aprendi Geografia, História, Ciência e a
amar mais o correio brasileiro. Foi através dos correios que descobri que o grande escritor francês Antoine de Saint Exupéry, autor da obra prima O Pequeno Príncipe, trabalhou como piloto para uma empresa francesa – transportando correspondências através do correio aéreo e tendo como uma das rotas o Brasil. Aqui ele também viveu muitas aventuras, isto lá pelos idos de 1926. Foi essa empresa que mais tarde deu origem a Air France.

Os tempos mudaram e os Correios hoje, em algumas cidades, trabalham com
varias agências (operando com licença). Tudo passou por várias
transformações e, é claro, tornou-se mais comercial que uma verdadeira paixão. Por ali, na Rua Alferes, passávamos todos os dias para “emprestar” goma arábica,que era usada para fechar envelopes e colar os selos. Existiam lá várias mesas com recipiente de vidro, que sempre estavam cheios de cola – que era útil também, para nós, no fabrico de papagaios.

Mas o meu “correio”, aquele de minha memória, ficou. No entanto, às vezes, quando fecho os olhos, enxergo a agência e seus sorridentes funcionários – e também uma turminha alegre de crianças “surrupiando” cola às vistas (cúmplices) dos funcionários. Tudo para empinar os nossos sonhos nos papéis celofanes que coloriam os céus da nossa amada Noiva da Colina.

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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor dos cursos de Comunicação da Universidade metodista de Piracicaba (Unimep) e consultor em Comunicação e Marketing de empresas.

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