O Coronavírus – ou, como tecnicamente é denominado, o COVID-19 – é tema que tem, obviamente, dominado as conversas, as discussões e as matérias veiculadas nos mais variados meios de comunicação nos últimos dias. E não é para menos. A pandemia que assola o mundo só poderia ser, mesmo, o tópico mais importante neste triste momento histórico que atravessamos. Por isso, temos visto, ouvido e lido em diferentes plataformas uma verdadeira avalanche de informações técnico-científicas sobre a pandemia e sobre as formas que temos para combatê-la.
Enquanto uma parcela da sociedade, no entanto,tem tido a devida preocupação e mesmo medo – ou até, em alguns casos, pânico – em relação aos impactos e prejuízos que o Coronavírus pode causar no conjunto da sociedade brasileira, outra parcela – nela incluída o Presidente da República e seus seguidores ideológicos – tem procurado minimizar o problema, doentiamente ridicularizando-o (vale lembrar aqui a infeliz expressão do “Digníssimo Senhor Presidente,” alguns dias atrás, ao afirmar que não é uma gripezinha que o derrubará).
Por incrível que possa parecer, tal afirmação descabida e absurda não foi a única façanha do “Presidente” nesses dias – pois tantas outras ocorreram (e, podem apostar, outras tantas ainda virão por aí). Veja-se, por exemplo, a edição da Medida Provisória – MP nº 927 – feita na calada da noite para proteger a milionários e fascistas, propondo arbitrariamente a prévia suspensão dos contratos de trabalho por quatro meses sem devida remuneração dos trabalhadores. Com a gritaria vinda das ruas e também da oposição, o governo recuou e alterou a medida.
No mesmo rol das sandices presidenciais, ou provável má fé, cabe lembrar também a crise criada com a China pelo filho do “presidente”, o deputado Eduardo Bolsonaro – crise diplomática agravada, diga-se, com o estapafúrdio pedido de retratação feito pelo Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo ao Embaixador da China no Brasil! Que vergonha!
Neste cenário manicomial instaurado por Bolsonaro em meio à crise, talvez até agora nada supere (ao menos até o momento!) o pronunciamento em cadeia nacional feito pelo senhor “Presidente” na noite dessa terça-feira, dia 24 de março. Falando diretamente à nação, o “chefe de estado”minimizou os riscos aos quais está exposta a sociedade e reforçou que o Coronavírus não passa de uma “gripezinha”, de um “resfriadinho”, atribuindo aos meios de comunicação (como se fossem eles conspiradores contra seu governo) a “culpa” por uma suposta disseminação de pânico e histeria junto à população. Ora! A conspiração contra ele quem faz é ele mesmo! E os meios de comunicação apenas têm demonstrado o que vem acontecendo no mundo, especialmente, na Itália, e reforçam o que o Brasil pode evitar se adotar as devidas medidas protetivas contra o vírus.
Na contramão do que o mundo já sabe sobre a epidemia e o combate a ela, o“Presidente” do Brasil segue desdenhoso com a saúde pública, segue provocativo e seu comportamento desumano diante da grande aflição do povo é abominável. Trata-se de um genocida colocado no lugar mais alto do país.
Apesar dos desencontros entre os entes federados, nove Estados do Nordeste que, em 2019, formaram um consórcio para buscar parcerias em projetos econômicos, políticos, infraestrutural e social neste momento de crise pandêmica. Conjuntamente, têm eles adotado medidas que protejam a população – inclusive os estados pediram ajuda humanitária internacional a China, que de pronto estendeu a mão solidariamente.
Há que se destacar ainda que o Covid-19 veio para colocar em xeque o sistema capitalista neoliberal, cuja defesa é a do Estado mínimo para proteção do bem estar social, que não deve interferir no mercado de trabalho, nem tampouco na economia, em contraponto à acumulação de riqueza e poder nas mãos de uma minoria em detrimento da pobreza e da miséria de uma grande maioria. Igualmente, essa minoria explora as riquezas naturais – florestas, matas, rios, terras, minerais, animais silvestres, todas sem exceção, como se finitas fossem comprometendo as futuras gerações.
Esperamos que, passada essa pandemia, tenhamos uma outra realidade – pautada no espírito de solidariedade e coletividade, no respeito à diversidade e no bem-estar social.
Rai de Almeida é advogada.
Texto lúcido e poderoso.