Comunidade Frederico e Ausência de Políticas Públicas

Comunidade Frederico e Ausência de Políticas Públicas

A primeira vez que ouvi falar sobre a Comunidade Frederico, situada na região norte de Piracicaba, no Bosques do Lenheiro, foi em uma conversa com o Frade Capuchinho, Frei Marcelo, que contava sobre os trabalhos que desenvolvia por lá nos finais de semana. Depois também conheci a Comunidade Frederico pelos relatos de Dona Ivone Moura, assistente social aposentada, que atuava com o jovem Frei Marcelo, ambos empenhados na construção de um importante projeto social naquela Comunidade, buscando ser presença de esperança, em um contexto de total abandono por parte do poder público.

Talvez nem todos saibam, mas o nome da comunidade de ocupação é Frederico em homenagem a um de seus primeiros moradores, o Frederico, que morreu assassinado. E essa tem sido a sina trágica de tantos daquela Comunidade, que acolhe, sobretudo, migrantes nordestinos, mas vivem por lá também muitos mineiros e paranaenses. Todos com o bonito – e tantas vezes ingênuo – sonho de refazer a vida, na ilusão de uma promessa de prosperidade em Piracicaba.

A Comunidade Frederico é um lugar de muitas ausências, mas também de expectativas e esperanças. A população de Frederico é composta por uma classe trabalhadora, que enfrenta a dura labuta para ganhar o pão, com seus direitos de cidadania diariamente violados. É um povo, em sua vasta maioria, guiado pela fé evangélica, esperando alcançar a graça de alguma retribuição e prosperidade, de maneira a compor uma vida com melhores condições. Em muitas andanças pela Comunidade, acabei conhecendo por lá alguns pastores e muitas famílias, improvisando o cotidiano em seus precários barracos, construídos de madeirite, minúsculos, apertados, sem nenhum conforto e quase incapazes de conter os parcos móveis, os surrados utensílios domésticos e de dar alguma proteção diante das intempéries do tempo.

Quinze barracos da Comunidade Frederico, em uma tragédia anunciada, pegaram fogo. Logo surgiu na cidade uma grande e bonita rede de solidariedade, doando alimentos, roupas, móveis, força de trabalho, madeirites. Gestos importantes, demonstrando empatia, caridade e a mais profunda humanidade. O Centro Comunitário do Bosques do Lenheiro se tornou a sede de todos os esforços solidários.

Em um amplo e incansável trabalho de mutirão, a população já está se organizando e reconstruindo seus barracos das mesmas madeirites que viraram carvão e cinzas, recompondo com eles seus frágeis sonhos de retribuição e alguma prosperidade. Por um momento a Comunidade Frederico deixou de ser invisível em Piracicaba. Mas só por um momento. A Comunidade segue perseverando em sua longa espera de que a prefeitura traga auxílio e alento, por meio de projetos sociais permanentes e políticas públicas que garantam o direito constitucional à moradia, realizando o sonho migrante de uma Piracicaba como a terra da promessa.

 

 

 

 

Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal, campus Piracicaba. Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião.

adelino.oliveira@ifsp.edu.br

 

 

 


(Foto de capa: autor)

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