Unimep em agonia lenta

Unimep em agonia lenta

As notícias em torno do destino fúnebre que, dia a dia, engole lentamente o que sobrou da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) parece hoje causar pouca ou quase nenhuma repercussão entre piracicabanos e piracicabanas que – ao longo da última década – acompanharam com tristeza e apreensão os rumos tenebrosos que a instituição insistia em seguir.

Há alguns anos – vale lembrar – informações como a de que esse ou aquele curso da Unimep iria encerrar suas atividades ou ainda  que a universidade veria (mais uma e outra vez) seus administradores sendo repentinamente trocados causavam uma imensa repercussão na imprensa local e corriam como rastilho de pólvora pela cidade. E não era para menos – afinal, qual comunidade acadêmica de uma instituição privada piracicabana chegou a  contar com mais de 14 mil alunos a um só tempo?

A repercussão razoável em torno da cada vez mais próxima venda do prédio da Escola de Música Maestro Ernst Mahle – talvez o último elo emotivo do IEP com a cidade – rompeu no final do ano passado o que ainda restava de ligação afetiva do fantasma unimepiano com o coração piracicabano. Agora, o anúncio – neste início de semana – de que o campus Taquaral encerrará também as suas atividades parece que toca apenas mais diretamente aos credores que esperam receber ao menos parte do que lhe deve a instituição e àqueles que (saudosamente) não deixam morrer em sua alma as lembranças boas (e fundamentais) que carregam a memória unimepiana de tempos (e reitores) notáveis.

Em breve, e esperemos que essa não seja uma previsão (apesar de, sim, prefigurar aqui quase como uma constatação) a Unimep oficialmente deverá (deverá, ressalte-se) deixar de ser oficialmente uma universidade para se converter (muito provavelmente, e o tempo brevemente dirá) em um centro universitário ou mesmo numa faculdade. Cadáver adiado, a instituição – potência de outrora, repita-se – deverá (quem sabe?) manter um ou outro curso para “resistir”.

Solução para uns, tentativa de sobrevivência para outros, a carcaça unimepiana só comprova que a instituição (e a rede à qual ela desastrosamente passou a compor) – e não façamos aqui juízo de valor nem apontemos dedos ou culpados – perdeu seu corpo, deixou de ser, acabou-se (ao que pesem tantos esforços, especialmente de professores (as) e de toda a comunidade acadêmica que por décadas lutou pela instituição). Dizer que a Unimep resiste ou que vai resistir apenas com esse ou aquele curso no campus Centro é – para usarmos um eufemismo – força retórica a não reconhecer que a Unimep/IEP, de verdade, já não existe há muito.

Por fim, agonizando lenta e quase solitariamente, fato é que a Universidade Metodista de Piracicaba (aproveitemos ao menos para mais uma vez podermos registrar esse nome, enquanto ele ainda pode ser usado), que em outros tempos deu a Piracicaba também prefeitos – como José Machado e Barjas Negri – é o reflexo (e o alerta) de um tempo em que também parece agonizar o próprio município de Piracicaba – cada vez mais distante de suas potencialidades intelectuais, culturais e humanas; cada vez mais carente de administradores capazes e dispostos a investir no patrimônio cultural material e imaterial de Piracicaba.

O réquiem para a Unimep já está se encerrando. Se vale o exemplo, que a cidade de Piracicaba não permita que o seu próprio réquiem continue a ser tocado.

 

 

 

 


*O editorial, como gênero jornalístico, é texto sem assinatura personalizada – porque reflete a opinião de editores e/ou veículo de comunicação. 

One thought on “Unimep em agonia lenta

  1. Excelente, apesar de muito triste realidade. Muito bem escrito essa triste história. Não consigo entender a intenção desse abandono e destruição dessa instituição de ensino. Ensino que esse Paus vem destruindo há anos. Muito triste . Parabéns. Quem sabe haja sensibilidade…
    ….

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