Unimep: desmonte a toque de caixa

Unimep: desmonte a toque de caixa

Grandes mudanças exigem planejamento. O desmonte, a toque de caixa, do campus Taquaral da UNIMEP, iniciado com caminhões fotografados pelo Jornal de Piracicaba menos de 24 horas após o anúncio da decisão pelo reitor, deixa claro que os interessados em sua aquisição já existem – e certamente já indicam algumas exigências de tempo e desocupação para que a transação possa ser realizada. Foi o que ocorreu com o campus de Santa Bárbara D’Oeste – quando a abertura do processo de leilão se tornou público, todas as tratativas para a venda para a Fundação Hermínio Ometto já haviam sido realizadas.

A velocidade surpreendente com que o campus Taquaral começa a ser desmontado é retrato da “eficiência” dos escritórios contratados pela Rede Metodista para administrar o processo de recuperação judicial das escolas metodistas. Desta vez, talvez razoavelmente conscientes da falta de competência de seus próprios quadros, a Igreja Metodista contratou escritórios para gerir o planejamento da recuperação judicial – envolvendo inclusive a negociação dos débitos tributários em seus diversos níveis especificamente – entre os grandes que existem no mercado. Fazem seu papel, no qual certamente não se inclui a preocupação com a preservação de documentos que contam a história da UNIMEP, o cuidado com itens que se mesclam com o próprio desenvolvimento de Piracicaba, registros de processos de consolidação acadêmica e de pesquisa – e de como se construiu uma Universidade forte em termos de participação institucional de seus conselhos, seus espaços de escolha e comprometimento.

A rapidez com que a “mudança” para o campus Centro acontece – e o fato de se saber ser fisicamente impossível ali se acolher sequer percentual significativo do que compõem o Taquaral em termos de laboratórios, biblioteca, mobiliário básico – faz lembrar a posse de outro reitor, ainda no início dos anos 2000, quando a Igreja deixou explícita a decisão de desmonte da UNIMEP, mesmo que ela tenha sido mais lenta do que inicialmente proposta. Em seus primeiros dias de mandato, depois de tentar demitir com uma única canetada mais de 150 docentes, depois reintegrados por ordem da Justiça do Trabalho, o novo gestor fez encostar, no Campus Centro, caminhões de lixo nos quais se despejavam arquivos com todo tipo de documentação dos anos anteriores – enquanto as atividades acadêmicas aconteciam em outros campi, os arquivos até então haviam sido mantidos e preservados no Centro. Fotos de funcionários – alguns apavorados, outros indignados – registraram o que acontecia, sem que se pudesse deter.

Ainda sob o impacto do fim do Taquaral, meios de comunicação da região noticiaram ontem – 18/01/23 – o reitor destacando a possibilidade de acomodar no Centro cerca de 500 estudantes que hoje frequentariam os cursos já oferecidos. Entre tantas inconsistências, há que se questionar esse número, quase metade do informado no processo de recuperação judicial, onde aparecem como matriculados na UNIMEP 996 alunos. Onde estarão os demais? Em Lins, em cursos de EAD? Para além dessa questão, pergunte-se ainda: e os 500 estudantes significam hoje quantos cursos realmente ainda em atividade? Faz sentido, neste contexto, um vestibular que oferece 23 opções, algumas das quais exigiriam laboratórios que se sabe lá como funcionariam no Centro? A se considerar as declarações de ontem, o quadro de sobrevivência da UNIMEP é ainda muito mais deteriorado do que se supunha.

 

 

 

 

 

Beatriz Vicentini é jornalista

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