Um estado licitado

Um estado licitado

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Aqui no interior, o dito popular mais usado em resposta à qualquer afirmação que soe mentirosa ou enganosa aos ouvidos do povo era sempre a pilhéria que pregava: “mas vá… isso é mai farso du que nota de trêis.” Apesar de ainda não termos notas de três circulando pelo país, atualmente a essência dessa piada (mesmo aqui no interior) parece que perdeu a força e a graça ante o anúncio público das falcatruas e irregularidades praticadas em muitos dos processos licitatórios ocorridos em nosso Estado de São Paulo. Agora, à boca pequena, quando se quer ridicularizar um  mentiroso que conta suas vantagens num descontraído papo diário, o que mais se ouve como resposta na glosa gostosa do interiorano é: “Credo em cruiz, que isso é ‘mai farso’ que licitação do PS…”

Não é para menos. Um estado (irregularmente) licitado é o que parece que restou de São Paulo. Afinal – e se as declarações veiculadas pela mídia impressa do país estiverem certas, e se ficar comprovado na justiça o que já fora declarado e confessado pela empresa alemã Siemens –, podemos dizer que os partidos (ou “o” partido?) que governam o estado deixaram definitivamente cair suas sacrossantas máscaras junto à lama da propina que escoa grossa por túneis de trens e metrôs. Se verídico o cartel (ou cartéis?) da máfia das licitações ocorridas no estado, estaremos nós diante do maior caso de corrupção já perpetrado contra nosso país: mais de 400 milhões de Reais desviados de nossos cofres públicos em pouco mais de 20 anos.

Em verdade, quanto mais achamos que os casos de corrupção chegaram ao limite do insuperável no Brasil, novas calamidades vêm à tona e destroem  a esperança de vermos, um dia, um país melhor. Redes de informação, jogos de interesse, manipulação de dados, propinas… Não há limites para partidos e políticos quando se trata de desviar o erário público para cofres particulares. E nessa seara não há diferentes ou santos – todos os “Ps” estão fatalmente ao pé do mesmo altar e inequivocamente prestam louvores aos mesmos deuses. A diferença – perdoem este Diário pela franqueza – está na tolerância e na repulsa que (misteriosamente) à população, à justiça e mesmo à imprensa dedica a esse ou àquele político – a esse ou àquele partido.

Ainda de acordo com a mídia impressa do país, desde que o chamado caso Siemens veio a público – caso também jocosamente intitulado “propinoduto do estado de São Paulo” –, mais de 50 novos processos que contestam processos licitatórios surgiram na pauta do Ministério Público de nosso Estado nos últimos dias. Os líderes envolvidos, obviamente, negam qualquer acusação e seguem dizendo que o problema com as licitações é nacional. (Ora, veja… Se eles sabem que o problema é nacional, por que é que não impediram antes que tais irregularidades acontecessem? Ora veja…).

Mas fiquemos tranquilos. Os órgãos envolvidos nas investigações desses casos – no plano estadual e nacional, diga-se de passagem – já avisaram que nada poderá ser resolvido e esclarecido num prazo menor do que o de dois anos. Dois anos! Ou seja: não se afobe, não! Você ainda terá tempo para esquecer toda essa bandalheira e votar com tranquilidade.

(E ainda tem gente que diz que o voto pode mudar tudo)

Será?

 

4 thoughts on “Um estado licitado

  1. Esperamos que mais jovens conscientes e preparados como você, preocupados com a verdade e honestidade no trato com a coisa pública, possam fazer a diferença. Nosso país merece.
    Parabéns, Alê.
    E obrigada.

  2. Um rombo justo no chão do cômodo de cima e ninguém sabia. Como muitos que acalentam a crítica outras de quê, como não saber? Conforme nas campanhas passadas em relação ao mensalão e a José Dirceu. E agora? Ninguém viu, ninguém sabe, somente os alemães. É complô da gestapo?

  3. Pois é, difícil não desanimar, né? A Corte continua, desde a monarquia, só mudaram as formas, ficaram mais sofisticadas. Só haverá algum nível de solução quando as pessoas começarem de fato a participar, no dia-a-dia, das decisões políticas, das instituições e de tudo o que se refere ao bem público.

  4. em 04/07/2011 o colunista Augusto Nunes da revista veja publicou a matéria comparando o preço da ponte sobre o Rio Guaiba, com uma ponte chinesa de proporções muito superiores a brasileira, obra a ser executada pelo ministério dos transportes através do DNIT, na tal matéria o colunista chama a atenção ao custo por km de ponte, no Brasil aproximadamente OITO VEZES mais caro.

    Temos no Brasil meia duzia de mega-construtoras que constroem quase tudo que o governo federal licita em termos de obras faraônicas, em comparação com os demais países do globo terrestre nossas licitações recebem preços muito acima da media mundial, um exemplo bem fácil de se ver é o caso dos estádios de futebol que estão sendo construídos no Brasil, comparado aos estádios alemães estão quase quarenta por cento mais caros.

    Lembrando que o mensalão começou com a filmagem de um fornecedor pagando propina a um servidor do correio, o que obrigou um certo deputado a dedurar o esquema por não terem poupado seu partido desta pequena propina, assim percebemos que a corrupção esta em todas as instancias de todos os poderes, penso que este caso citado seja apenas um grão de areia em meio a um oceano de falcatruas.

    O que me deixa intrigado é ver que todo este lamaçal de acusações foram feitas em maio de 2012 e só agora tomaram a mídia, me parece um pouco oportuno para alguns partidos políticos se beneficiarem dos efeitos negativos que estas denuncias estão provocando no partido que governa o estado paulista, lembrando que no próximo ano haverá eleições para governadores e presidente e que fatalmente as denuncias de falcatruas estarão estampadas nas campanhas, assim os dois principais partidos desta terrinha de cabral terão armas para se atacarem e se defenderem, afinal de contas o partido mandatário federal esta enterrado até o pescoço nas lamas da corrupção.

    Não tenho duvidas que o redator deveria mudar o nome da matéria para BRASIL! UM PAIS LICITADO! Senão vou pensar que quem governa o Brasil é a Alice e o resto é país das maravilhas!

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