No Palácio da Penha, em Sintra, é bem visível na capela local a inscrição SMIDME. A confiança que D. Manuel I tinha é um exemplo para nós hoje, pois o monarca lusitano assim colocava toda a sua esperança em Deus (Salmo 61, 8).
Para os gregos, Élpis era a sua personificação, a única que permaneceu na caixa de Pandora após sua abertura. Mas a lenda conta outros fatos bem atuais. Por exemplo, quando Epimeteu – irmão de Prometeu, Atlas, Hésperos e Menoécio – roubou o fogo dos deuses para dar aos homens, Zeus ordenou furioso que se criasse uma mulher parecida com as deusas. Pandora ou “aquela que tem todos os dons”, encantou ao infeliz com uma visita, trazendo certa caixa com formato de jarro como presente de casamento. O titã pediu que ela não abrisse a caixa, porém a curiosidade foi maior e saíram de lá todos os males que afligem a humanidade até hoje – como desentendimentos, pestes, doenças e as guerras. A pobre criatura curiosa consegue fechar a caixa, prendendo nela a esperança.
Por um lado, a interpretação de ter a esperança bem guardada nos dá alento nesses momentos de crise, por outro, pessimistamente, há quem enxergue esse mito como o fato de a humanidade não ter esperança para continuar sua jornada. Qual o motivo dessa abordagem?
Todas as culturas, principalmente a ocidental, colocam a Esperança em um patamar divino. Ela é vista como uma das três virtudes teologais, entre a Fé e a Caridade. É nome de várias pessoas, referenciada por vários mártires, como Oscar Romero e Steve Biko, entre tantos outros que colocaram sua Esperança em Deus.
Vários são os compositores que criaram suas obras sobre a inspiração desse salmo, desde Schutz (séc. XVII) até Paolo Pandolfo (séc. XXI). Suas ressignificações musicais sempre mantêm viva a alma desse texto, independente da distância entre as composições e suas línguas.
Coloquemos nossa Esperança no Altíssimo, independente da sua confissão religiosa ou crença. O momento pede isso, resiliência para superar os percalços que a própria humanidade criou com seus entraves.
Sairemos melhores juntos!
Antonio Pessotti é músico, doutor pela Universidade de Campinas (Unicamp), pesquisador colaborador do Laboratório de Fonética e Psicolinguística (IEL – Unicamp) e professor de Canto e História da Música na Escola de Música Maestro Ernst Mahle (EMPEM).
Imagem de capa: “Pandora” – de John William Waterhouse (XIX).
Meu Amado Irmão. Eu tenho outro viés para certas teorias. Usando da premissa de “pousar” a esperança no esotérico, minha esperança se inspira em São Tomé. É um assunto difícil de responder em pouco tempo. Mas, interessante. Um fraterno abraço.