“Rua a Rua” – crônica de Suzane Lindoso

– Bom dia! Empresa “Tá na mão: entregas rápidas” às suas ordens!

– Bom dia! Por gentileza, preciso que entreguem uma encomenda no bairro Viveiros. Quanto tempo demora?

– Não muito. Onde pegaremos a encomenda?

– No centro.

– É o tempo de programarmos o GPS.

Finalizada a conversa, endereços anotados e GPS programado, Valquíria chamou Maicon para as últimas orientações. O funcionário partiu em sua moto, pois a encomenda era pequena. Isto facilitaria o trabalho e adiantaria ainda mais a entrega.

Já na rua, Maicon se deu conta de que não havia conferido. Confiou na modernidade, pois nunca estivera naquele bairro. Apenas sabia que era antigo e bem distante do centro da cidade. Se sua memória não falhava, uma tia de seu pai já morara lá.

Entregue aos pensamentos, nem percebera aquele buraco. Quando menos esperava, passar por ele e a moto cambaleou fazendo-o perder o equilíbrio. Ambos foram ao chão. Levantou-se e verificou que nada de grave havia acontecido, apenas o pneu da frente estava furado.

Pediu ajuda e logo localizou alguém que poderia arrumá-lo. Não contava com o tempo gasto ali. A espera era inevitável. Resolveu conferir o endereço que teria de procurar. Começou a dar risada com o nome da rua: da Concórdia. Que esquisito! Parece que nunca ouvira falar dela.

Terminado o serviço, pagou e saiu voando para recuperar aquela meia hora perdida. Depois de uns três quarteirões andados, percebeu que o GPS não estava funcionando.

– Puxa, mais essa! Só pode ter sido por causa da queda.

Sorte que sua cidade era bem sinalizada. Foi se guiando pela placas até a entrada do bairro. Lá parou para dar uma olhada nas placas com o nome das ruas. Deveria ser a principal, pois era um pouco larga. Estava numa esquina.

Rua da União. Rua da Saúde.

– Vixe! Vou ter que perguntar. Por aqui não é.

– Senhora, por favor, onde fica a rua da Concórdia?

– Ih, moço, vai ter que andar uns par de quarteirão. Ande até aquele sinal e dobre à direita. Lá você pergunta de novo, sim?

“Parece que isto vai dar mais trabalho que imaginei.”

– Seu guarda, por favor, a rua da Concórdia?

– Ah! Vá reto e são três, quatro ruas pra baixo: a da Saudade, da Aurora, do Sol, da Concórdia.

– Obrigada.

A moto roncando partiu.

Maicon entrou e foi logo procurando o número 338. Não era grande a rua. Subiu, desceu, mas não localizou o número desejado.

“Era só o que faltava.”

Com o celular na mão, já ligando pra empresa, resolveu verificar a placa. Desligou. Era a rua do Hospício. Ele deveria estar ficando louco! A rua estava tão deserta que só faltava aparecer um camelo a quem pedir ajuda. Saiu devagar e viu uma senhora aguando o jardim. Todo o ritual de novo. Nova indicação. Começou a rir sem parar! O que teria acontecido? Seria o medo de estar perdido?

– Só mesmo dando risada! – falou alto como se alguém o ouvisse. – União, Saúde, Saudade, Aurora, Sol, Hospício. Cada nome de rua!

Entrou numa viela. Reduziu a velocidade, se isso ainda fosse possível. Conferiu o nome na placa: Concórdia. Estava em frente ao número 338. Tocou a campainha. Latidos fortes podiam ser ouvidos de muito longe. Nada. Tocou novamente. Esperou uns segundos. Silêncio.

– Margarete, estou no endereço, mas ninguém atende?

– Maicon, o que houve com você? A pessoa esperou até cinco minutos atrás, como você não chegou rápido ela foi embora.

Sorte que aquela era a rua da Concórdia, porque se fosse do Arsenal Bélico…

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A autora:

 

 

Pernambucana de nascimento, mas piracicabana por opção e por coração, Suzane Lindoso é professora de Língua Portuguesa do Colégio Piracicabano. Suas crônicas, sempre muito leves e atraentes, fazem sempre muito sucesso em nosso Diário.

 

  

16 thoughts on ““Rua a Rua” – crônica de Suzane Lindoso

  1. Suzane, bacana seu texto.. Realmente, hoje em dia a gente nunca sabe se vai chegar a tempo… São as ruas da vida, seus aclives e declives, seus tantos buracos…

    Abraços e parabéns.
    Geraldo
    (amigo do Geide)

  2. Agradeço a todos as palavras de incentivo. Neste texto brinco com nome de ruas de minha cidade natal, Recife.
    Verdadeiramente Samantha tem razão, Boa Morte é mesmo campeã.
    Um abraço fraterno.

    1. Meu despretensioso texto busca uma viagem por nome de ruas, como já havia dito. Que bom podermos ver nele a realidade. As palavras são mesmo mágicas, nos levam consigo.
      Obrigada pelo incentivo contínuo.
      Um abraço.

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