Reumatismo não “dá” só em velho!

Reumatismo não “dá” só em velho!

Certamente você já ouviu a frase dizendo que quem gosta de velho é reumatismo, não é? Pois saiba que além de politicamente incorreta, do ponto de vista médico também está. Primeiro porque é melhor chamarmos “velho” de “idoso” e todos amamos nossos idosos. Segundo, porque reumatismos, infelizmente, acometem jovens e crianças.

A palavra reumatismo vem do grego rheuma (εῦμα) e significa fluir ou correr. O motivo de se associar esse grupo de doenças a essa palavra é responsabilidade de Hipócrates (460 a.C. – 370 a.C.), considerado o pai da medicina. Na época em que viveu Hipócrates, acreditava-se que os reumatismos causavam dor e limitação às articulações devido a humores ou fluídos maléficos que saíam do cérebro e da bile e fluíam para as articulações levando à inflamação. O primeiro reumatismo documentado por ele foi a gota. Hoje sabemos que a inflamação da gota é causada por cristais de ácido úrico na articulação. Assim, a teoria de Hipócrates pode não ser tão estranha se considerarmos que o ácido úrico na forma solúvel está circulando pelo nosso corpo através de um fluído, o sangue.

                                                    Hipócrates, pai da medicina     Inflamação da gota

Fontes –https://esacademic.com/dic.nsf/eswiki/942191          – https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3crates)

Atualmente, são considerados reumatismos mais de 100 doenças que têm em comum o acometimento das articulações, dos ossos e dos músculos e limitam os movimentos.

            O mais comum deles é a artrose ou osteoartrose ou osteoartrite ou simplesmente desgaste das juntas. A forma chamada de primária está, de fato, relacionada ao avançar da idade. Porém, mesmo no caso da artrose, pode ocorrer em jovens de maneira secundária como, p.ex.,na articulação em que houve um trauma ou uma cirurgia articular prévia. Após alguns anos, a artrose pode se desenvolver naquela junta.

A artrose é bastante conhecida por causar deformidades e os famosos bicos de papagaio na coluna. Essas deformidades e bicos nada mais são do que um crescimento ósseo anormal chamado osteófito. Alguns estudiosos acreditam que eles surjam numa tentativa de restabelecer a estabilidade articular perdida com a doença.Nas figuras abaixo, podemos ver os nódulos muito comuns nas mãos de mulheres acima dos 40 anos, os chamados nódulos de Heberden. Além dos nódulos, é possível entender o motivo do osteófito ser chamado popularmente de “bico de papagaio”, que fica evidente quando realizamos um raio X da coluna. Felizmente, grande parte das pessoas com artrose são assintomáticas e nem sempre existe limitação para realizar suas atividades diárias.

Os reumatismos que ocorrem nos adultos jovens e crianças são em grande parte causados por doenças autoimunes, ou seja, o organismo produz anticorpos contra elementos do próprio corpo e os atacam como se fossem inimigos. Dentro desse grupo de doenças estão o lúpus eritematoso sistêmico e a artrite reumatóide, por exemplo.

 

Nódulos de Heberden e Osteófito (“bico de papagaio”)

Os vírus também podem causar reumatismos. O vírus da hepatite é um importante exemplo de como a infecção pode levar a problemas articulares, seja por ação direta do vírus, seja por alterar nosso sistema imune a ponto de produzir uma doença. Em época de pandemia causada por um vírus novo como o coronavírus, é importantíssimo que estudos sejam realizados para conhecer os efeitos da COVID-19 também no nosso sistema esquelético e muscular a curto e longo prazos.

Os reumatismos estão dentre as maiores causas de afastamentos do trabalho e aposentadorias por invalidez. Outro ponto importante é saber que os reumatismos não se manifestam somente por dor e inflamação das articulações, mas essas podem ser uma das muitas manifestações de uma doença sistêmica. Ou seja, uma enfermidade que pode afetar vários órgãos e sistemas do nosso corpo. Desse modo, é importante cuidarmos da saúde de nossas juntas e procurar um reumatologista sempre que houver alguma queixa. Esse profissional poderá, somente através de uma consulta médica presencial e exame físico completo, fazer uma avaliação adequada e levantar as hipóteses de quais tipos de reumatismo podem estar por trás dessas queixas.

Manter uma rotina de exercícios físicos e dieta balanceada por toda a vida podem auxiliar na boa saúde das articulações. Para isso, é preciso avaliação e orientação individualizadas que devem levar em conta todas as limitações e comorbidades como diabetes, hipertensão, doenças do coração ou mesmo reumatismos que possam estar presentes.

A importância dos exercícios e da dieta foi ressaltada no texto que pode ser acessado em https://diariodoengenho.com.br/como-cuidar-da-saude-dos-ossos/. Para a saúde articular, não é diferente e não há segredos. Uma boa avaliação e a persistência no seguimento das orientações podem determinar a longevidade da nossa autonomia de movimentos.

 


 

 

 

 

Beatriz Funayama Alvarenga Freire é médica, cantora,  atleta, doutora em medicina pela Unesp, pós-doutora pela Rijkuniversiteit Groningen – na Holanda – e mestre em linguística pela Unicamp.

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