Há uma questão em disputa na sociedade, que talvez afete mais diretamente os cristãos, das mais diversas designações: por onde caminhava Jesus Cristo? Em outras palavras, Jesus tinha um lado, uma posição? Qual seria o posicionamento de Jesus diante do cenário social e político do contemporâneo? A indagação não deixa de contemplar uma profundidade teológica. Não cabe dizer, em hipótese alguma, que as ações de Jesus eram tomadas pela neutralidade ou omissão. Poderíamos fechar o debate afirmando logo: o lado de Jesus é o da justiça, o da verdade!
Para não se vislumbrar uma resposta simplista ou mesmo anacrônica, a exegese e a hermenêutica, enquanto recursos da teologia, revelam-se fundamentais. O que significa a verdade e justiça diante das relações existenciais e da vida cotidiana? As concepções de verdade e justiça podem ser apenas perspectivas abstrações subjetivas, sem nenhuma dimensão e aderência com a história, a cultura e a vida real das pessoas?
Verdade e justiça lançam o debate para o tema da ética. A pergunta então passa a ser: qual é a ética que se deve abstrair na profundidade da mensagem anunciada pelo movimento de Jesus Cristo? A ética demarca um certo posicionamento diante das situações da vida. Talvez seja possível afirmar que a ética de Jesus coincide com a própria verdade e justiça.
Para se desviar dos equívocos interpretativos e superar subjetivismos que esvaziam a dimensão histórica da mensagem de Jesus, torna-se importante dizer que há uma complementariedade nos sentidos que alcançam os termos verdade, justiça e ética, que devem ser compreendidos à luz da mais estreita relação com as concepções de beleza, de bondade, de despojamento, de transparência, de direito e do mais profundo amor.
A ética de Jesus é, sem dúvida, a ética da vida, a partir de uma dimensão de plenitude. Por contraposição pode-se concluir que tudo que gera e promova morte, injustiça, ódio, mentira projeta-se de forma antagônica aos ensinamentos de Jesus. A pobreza, por exemplo, é consequência de uma situação social e política de profunda injustiça, gerando uma vida diminuída, sem possibilidades. Se a ética de Jesus se coloca contrariamente a todas as formas de injustiça, logo é uma ética que condena e se levanta contra as estruturas que produzem desigualdade e pobreza.
É evidente que o movimento de Jesus Cristo difunde sua mensagem para todas as pessoas, sem acepção de classe social ou origem cultural. Mas há sempre a exigência da conversão, da mudança na maneira de pensar e agir. Essa dinâmica de conversão cristã conduz, necessariamente, a um rompimento com tudo que não está em acordo com os princípios de verdade, justiça e ética. Aqui deve acontecer uma transformação pessoal, no âmbito da visão cultural e das práticas mais cotidianas, mas também uma transformação estrutural, criando nova formatação social e política, capaz de refletir a elevada ética do amor.
Pode-se dizer que há uma “boniteza” ética, estética e política em todas as atitudes e gestos de Jesus. A salvação que Jesus anuncia é para todos e todas, mas antes é preciso superar a realidade do pecado na dupla dimensão pessoal e estrutural. Jesus sempre caminhou ao lado da verdade, da justiça e da ética. Quer dizer que Ele nunca deixou de ter um lado, um posicionamento firme e contundente. Ser seu discípulo hoje representa também ter sabedoria para discernir qual é esse lado. Talvez o conselho de Dom Pedro Casaldáliga seja muito oportuno: na dúvida, fique sempre ao lado dos pobres!
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal, campus Piracicaba, doutor em Filosofia e mestre em Ciências da Religião.