O neoproletariado (?)

O neoproletariado (?)

Corria o início da Revolução Industrial, e em Paris, França, na Place de La Grève, todos os dias, os trabalhadores se apresentavam para oferecer sua mão de obra aos tomadores de serviço, patrões capitalistas, que assim contratavam a mão de obra por jornada, ou seja, paga diária. (v.g. A greve e o direito, “in” Curso de Direito do Trabalho, Amauri Mascaro Nascimento, pg. 1137. 21ª Edição, Ed. Saraiva, S.P. 2006).

O nome da Praça, “grève”, parece derivar do fato de que tal praça se situa às margens do Rio Sena, e, quando das cheias e recuo das águas, costumava o chão ficar juncado de galhos, folhas e outros detritos que teriam dado origem à denominação, eis que aquela palavra denotaria tal fenômeno. (há controvérsias).

Seja como for, dizem os historiadores do Direito do Trabalho que, um dia, os proletários ali reunidos entenderam que o valor diário pago estava aviltante, até porque os valores ao invés de subir, decresciam, fenômeno conhecido no capitalismo como Lei da Oferta e da Procura. Como a mão de obra é sempre abundante, seu preço, obviamente, tende a baixar continuadamente (Marx explica).

Daí que uns líderes dos trabalhadores propuseram uma ação conjunta para buscar enfrentar o problema. Permaneceriam todos eles, na Place de La Grève, sem sair portanto para o trabalho, salvo se lhes fosse pago uma diária satisfatória. Tal atitude, pensavam, pressionaria os tomadores de serviços a lhes oferecer um valor digno pelo trabalho.

Assim, como se vê, quem não ia ao trabalho ficava na “grève”, tendo surgido assim a greve. A palavra, etimologicamente falando, parece portanto não significar nada, a não ser que a associemos àquele fato histórico-geográfico.

Leio agora nos jornais que os “moto-boys” e outros diaristas, talvez “uberistas”, tal qual seus antecessores franceses, vêm se reunindo – como de fato se reuniram recentemente na Avenida Paulista em São Paulo –  não prestando serviços naqueles dias aos neoliberais, reclamando da falta de condições dignas de trabalho em geral, tais como pagamento de diárias em valores  pífios,  falta de previdência social e/ou de seguro contra acidentes e doenças, e até, (imaginem só) falta de Carteira Profissional anotada, (um absurdo, verdadeira ideia de jerico, naturalmente, na ótica neoliberal).

Curioso como a história se repete, agora com os neoproletários.

A diferença talvez seja que, assim como no passado, os proletários chamavam de “greve” a paralisação naquela praça na luta por melhores condições de vida e trabalho, hoje talvez devêssemos denominar de “pauliceiada” ou “paulicéia desvairada” (poético, né?!), ou coisa parecida, a luta dos “neoproletários”. Mas seriam “neos” mesmo? O que há de novo?

Trabalhadores precisam ver que tecnologia não muda em nada a relação capital-trabalho. Os únicos interessados em nos convencer (e há muita propaganda), que existe algo de diferente no “front” são os capitalistas, que vão continuar lucrando, e muito, com os temores e desorganização dos “neo” proletários, que a bem ver, não são nada novos. São os de sempre. Aliás, como os “neo” capitalistas.


Alexandre A. Gualazzi é advogado, professor e doutor em Direito.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *