O Grito da Terra e a Ecologia Integral

O Grito da Terra e a Ecologia Integral

Na tradição dos povos ameríndios, a terra é chamada de Pachamama, a Mãe-terra. Nas culturas africanas, a terra é uma entidade espiritual, na qual a vida se origina e para a qual toda vida retorna. No universo da mitologia grega, ela é representada como Gaia, a Grande Terra-mãe. Na tradição judaico-cristã, a humanidade, a natureza e o planeta são criações divinas, expressões do amor de Deus. Culturas que revelam compreensões complexas sobre a vida, demonstrando que o planeta compõe uma totalidade orgânica que nutre e sustenta a vida em sua integralidade.

As terríveis imagens da floresta em chamas, de animaizinhos mortos carbonizados e as densas fumaças tomando os céus impactam profundamente o mundo, colocando em evidência os perigos da devastação ambiental. Há um dilacerante grito que ecoa da floresta, alertando que toda vida no planeta terra está em risco. É preciso ter a compreensão de que o processo em curso de ecocídio representa, por extensão, a morte para todos as formas de vida.

A visão equivocada de desenvolvimento e progresso tem produzido graves consequências para o meio ambiente. Tal equívoco evidencia-se no uso inadequado e irracional dos recursos naturais, provocando escassez e esgotamento; na poluição do ar, das águas e dos oceanos, impossibilitando a continuidade e a manutenção de ecossistemas; na sistemática queimada de florestas e na liberação de nocivos agrotóxicos, alargando as fronteiras do agronegócio; na contínua destruição da camada de ozônio, desencadeando um superaquecimento do planeta; no profundo abismo social, delineando uma sociedade marcadamente desigual, injusta e excludente.

Diante deste grave estado de coisas, torna-se urgente e imprescindível a construção de um novo paradigma de desenvolvimento, pautado na ética da ecologia integral. A concepção da ecologia integral parte do princípio básico de que a humanidade e a natureza compõem uma mesma realidade complexa. Isso significa que não é possível se separar o ser humano do meio ambiente, pois há uma integração profunda entre ambos.

A política de preservação ambiental, ancorada na perspectiva ética da ecologia integral, deve se constituir como uma dimensão inegociável na atuação de todos os governos. Os princípios de justiça ambiental e social precisam ser assumidos por meio de políticas públicas voltadas à manutenção da biodiversidade. A utilização responsável do meio ambiente está sendo solapada frente a um projeto ganancioso e predatório de exploração e enriquecimento que ameaça a sobrevivência do planeta. Há medidas fundamentais a serem tomadas, de maneira a combater o contínuo processo de destruição ambiental. As queimadas florestais talvez sejam o exemplo mais gritante de uma política mercantil e imediatista, que se revela incapaz de contemplar o bem comum.

Torna-se urgente a articulação de uma resistência vigorosa ao movimento de violação do meio ambiente, das florestas, rios, mares e ecossistemas, de maneira a salvaguardar a sociedade e o planeta, afirmando a postura ética que entende a humanidade em profunda integração e partilha com a natureza, sentindo-se como parte e também protetora dela.

É um grande equívoco se apegar à ideia de uma arca redentora apenas para alguns. É urgente a percepção e construção de uma comunhão profunda, um pacto universal que garanta a sobrevivência de todos, sem exceção alguma. Em consonância com as culturas tradicionais, um caminho mais longo consiste em promover um amplo movimento de formação, delineando uma cultura pautada na ética da ecologia integral, de maneira a resgatar a percepção de que toda vida é sagrada, a humanidade e a natureza compõem uma totalidade complexa.

 

 

 

 

Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal, campus Piracicaba, doutor em Filosofia e mestre em Ciências da Religião.

adelino.oliveira@ifsp.edu.br

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