O Brasil é um país de grandes possibilidades econômicas. Mesmo com a desaceleração da economia, teve um PIB (produto interno bruto, ou seja, a soma de tudo o que foi produzido no Brasil em 2019) na ordem de R$7,3 Trilhões. Se fossemos dividir o PIB de forma igualitária entre a população brasileira ela deveria ser uma renda mensal de R$11 Mil para uma família de quatro pessoas.
A mentalidade de financeirização da economia torna utópica a minha afirmação anterior, pois os caminhos do capitalismo nos trouxeram para esse momento nefasto da existência. Trabalhos como de Paul Collier (O futuro do Capitalismo), de Martin Ford (Os robôs e o futuro do emprego) Ladislau Dowbor (A Era do Capital Improdutivo) e Maurizio Lazzarato (O Governo do Homem Endividado) revelam a preocupação com o futuro do emprego, com a ganância incontrolável de uma elite que esta bloqueando as possibilidades de um grupo enorme cidadãos pelo mundo.
Não bastasse essa condição apocalíptica apresentada, estamos vivendo mais um ciclo de crise que o capitalismo (agora financeiro) é “expert” produzir. A crise do COVID 19 ou simplesmente Corona vírus, somada com a recente crise do petróleo, tem seu ponto de encontro no restrito mundo financeiro.
O Coronavírus, por motivos óbvios, esta interferindo no ritmo de produção de bens e serviços do mundo, visto que as restrições na circulação por conta de confinamentos vão produzir um estado de baixa produção no mercado chinês e que já está refletindo na Europa, vindo a se interferir na indústria agropecuária e de mineração brasileira.
Temos também a crise do petróleo provocando um choque de oferta, em função da unilateral decisão da Arábia Saudita em aumentar sua produção de barris de petróleo de 9,7 Milhões/dia para 11 Milhões/dia. Isto significa que os sauditas cortaram de US$ 4 a US$ 6 no preço por barril com entrega para Ásia e US$ 7 com entrega para os Estados Unidos.
A pergunta que se faz é o quanto o Brasil esta preparado para enfrentar este cenário de pandemia por causa do Coronavírus e pela a crise no petróleo, conseqüência da guerra de árabes e russos.
Os noticiários têm mostrado que os problemas no mercado financeiro estão se avolumando, basta ver a sequencia de “Circuit Breaker” (que é quando a bolsa de valores faz uma parada de 30 minutos para evitar grandes perdas), somando-se a isso a opção do mercado agropecuário ter apostado no processo de produção a partir de grandes extensões de terra para “financeirizar” sua produção com a emissão das chamadas CÉDULA DE PRODUÇÃO RURAL (CPR),a qual, a partir da expectativa de produção, negociam no mercado financeiro.
Isso explica a rejeição ao incentivo às pequenas propriedades e a agroecologia. Com a crise do Coronavírus, a expectativa de venda para o mercado chinês está comprometida. Então, com grande estoque, esses produtores terão que vender no mercado interno, mas como a produção está financeirizada os produtores poderão amargar grandes prejuízos.
Temos também o problema crônico provocado pela crise do petróleo, que na realidade como apresentado anteriormente é um choque de oferta. Porém, o modelo de negócios escolhido pela atual gestão da Petrobras em dar ênfase muito mais a extração do petróleo e desprezar o refino est´s tirando competitividade da petrolífera nacional. A Petrobras possui um capacidade instalada de refinar 2,4 milhões de barris/dia de petróleo, mas decidiu refinar 1,7 milhões de barris/dia, sendo que importa 1 milhão de barril por dia. Isso em função de sua política liberal de vender as refinarias nacionais a preço de ocasião, indo na contramão das grandes petrolíferas do mundo que apostam muito mais no refino.
O modelo de negócio adotado pela Petrobras (orientado pelo ministro liberal Paulo Guedes) a deixa vulnerável nas oscilações de mercado, o explica o fato da estatal brasileira ter perdido em apenas um dia R$ 91 bilhões, ou seja, o equivale a 15 vezes o prejuízo que a lava jato alega que a Petrobrás teve.
O ponto de encontro da crise do Coronavírus com a crise do petróleo vai demonstrar o quanto é obsoleto e ultrapassado o modelo liberal de nosso ministro “Chicago Boy”. Afinal, a economia é movida por 4 motores, a saber:
- Comercio externo
- Demanda interna
- Atividade Empresarial
- Investimentos públicos
A principal mola propulsora desse motor da economia para realidade brasileira é os estados, por meio dos investimentos públicos. Pois o Brasil é um país em construção e somente o estado possui capacidade fazer esse motor funcionar e as estatais, como a Petrobrás, são uma grande ferramenta para a defesa da economia nacional frente a este encontro de crises.
Fleides Teodoro de Lima é professor de Economia e Gestão no Instituto Federal de São Paulo, campus Capivari