O Absurdo do Racismo!

O Absurdo do Racismo!

Às vezes é bem difícil explicar o racismo. Difícil também compreender um comportamento em relação ao outro que coloca a cor da pele como critério a priori de qualquer julgamento. O que faz as pessoas se tornarem racistas? Por que em pleno século XXI o racismo ainda persiste como um elemento de cultura capaz de definir as relações sociais? Por que o racista se entende como uma pessoa superior ao outro que tem um tom de pele diferente do que a dele? Que absurdo é mesmo o racismo?

O racismo se manifesta no cotidiano, na intersubjetividade das relações humanas. Muitas vezes as atitudes racistas se tornam tão banais que nem se quer são percebidas, passando a ser naturalizadas. Aliás essa naturalização é uma das estratégias sub-reptícias da ideologia racista, que pode ser violenta e impactante, mas também pode se revelar de maneira muito sutil, quase imperceptível para a pessoa menos atenta. O racismo busca anular, apagar e invisibilizar a população negra, como se a pessoa negra fosse insignificante, com uma existência nula.

Para além das relações pessoais, como uma postura exclusivamente decorrente de um comportamento moral individual, o racismo é também institucionalizado, fazendo-se presente nas estruturas das organizações e instituições. O caráter institucional acaba por revelar que o racismo contempla uma dimensão estruturante da sociedade. Entender o racismo em seu aspecto estruturante é perceber os movimentos e desdobramentos da própria história colonial, que teve na exploração da mão-de-obra escrava todo o seu suporte econômico. A população negra, sob a perversidade da escravidão, representou a força de trabalho para a produção de toda riqueza material no período colonial. O lugar social do negro na estrutura colonial era o do escravizado, produzindo toda abundância de bens para o colonizador branco.

Importante agora compreender como as estruturas racistas se renovaram e se perpetuaram no tempo histórico, mesmo em sociedades republicanas e democráticas. Por quais mecanismos o racismo se impôs, relegando à população negra um lugar social de subalternidade? Como a mentalidade racista, portanto escravocrata, perpassou as fronteiras históricas, impondo uma ferida aberta nas relações sociais, mesmo nas sociedades compreendidas como modernas ou pós-modernas?

Seja nas relações interpessoais ou mesmo em sua forma institucional e estrutural, o racismo tem como fundamento a negação da humanidade do outro, do negro. O ponto de partida do racismo, que é também seu grande erro de princípio, é que a humanidade se encontraria dividida em uma diversidade de raças, sendo a parcela branca pertencente à raça superior e a população negra seria marcadamente inferior. Compreendido como pertencente a uma raça inferior, ao negro é negado tudo: sua humanidade plena, sua cultura, sua religiosidade, seu lugar no mundo.

A verdade é que existe tão somente uma única e mesma espécie humana, da qual todas as pessoas se encontram vinculadas. Em outras palavras, somos todos seres humanos, portanto, não há justificativa para uma classificação das pessoas a partir de um critério, equivocado e falso, de raça. Contrariando toda racionalidade, o fato é que o racismo persiste e insiste em se manifestar, dando o tom das relações no contemporâneo. A superação do racismo passa, necessariamente, pela concepção de uma outra forma de vida em sociedade, em perspectiva decolonial, alicerçada na ética da igualdade, da equidade e da justiça e, ao mesmo tempo, livre de todos os mecanismos que produzem opressão e exploração. Já é tempo de se forjar outra história, essencialmente antirracista!

(foto de capa:  @Elineudo Meira / @fotografia.75)

 

 

 

Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba. Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião.

adelino.oliveira@ifsp.edu.br

11 thoughts on “O Absurdo do Racismo!

  1. Fomos feitos à imagem e semelhança de Deus e é inadmissível que se naturalizem atitudes racista , que haja qualquer discriminação por alguém ter uma cor de pele diferente da minha da nossa

  2. Muito bom!
    Lembrando sempre que racismo é crime.
    Injúria racial também.
    O absurdo de se perpetuar o racismo no Brasil, mantém o país, longe de uma democracia plena e de uma melhor qualidade de vida para todos.

  3. Olá professor sou o Pedro Arthur aluno do 4°ano de manutenção e suuper concordo com o senhor em relação a isso, sou negro e muitas vejo como essa “banalidade do mal” tem ainda afetando, infelizmente, nossos dias aqui e como é de extrema importância lutar contra isso e ter representantes como o senhor em nosso meio.

  4. Muito relevante a discussão do professor sobre um tema que infelizmente ainda se faz presente em nossa sociedade. A discriminação do indivíduo por sua cor de pele, cultura, religião e afins é um dos maiores absurdos da humanidade, sendo reflexo da “hierarquia” de classe imposta aos povos anteriormente dominados pelas elites colonizadoras e que ainda perdura nos dias de hoje como se fossem cicatrizes mal curadas, realmente muito triste.

    Luiza B. T. de Oliveira, 4° ano de Informática

  5. É sempre bom ler artigos que nos proporciona aprendizado, melhor ainda é ler um artigo na qual é mostrado o quão o racismo ainda é presente em nosso cotidiano. Apesar de ter se passado anos após a escravatura, ainda é muito comum escutar falar, assistir atitudes e ações racistas, e nós como cidadãos que se dizem “ser contra o racismo” devemos lutar contra essa opressão não somente pelo meio digital ou com falas em nosso dia a dia, mas também tomando a atitude quando vemos uma pessoas sendo racista ou sofrendo o racismo.

    Ana Isabel F. Rodrigues
    4° de Informática

  6. LUANA LOPES
    2 ANO DE MANUTENÇÃO
    Devemos e podemos compreender atraves dessa leitura que o racismo continua constantemente em nossas vidas e devemos dizer não ao racismo.
    Temos que ser contra essa ideia que brancos são melhores que negros,estamos em pleno século XXI e ainda muito de nós temos esses pensamentos do colonialismo. Para mudarmos essa geração de ideias hipócritas temos que abrir vozes a eles(negros,afrodescendente,entre outros),não podemos apagar a cultura deles e nem calar eles,temos que adquirir a luta de mais de 300 anos deles,temos que dar oportunidade a eles,e só assim nosso mundo irá mudar essa ideia,então sim eu quero mas cultura,gastronomia,história e muito mas desses povos e das lutas deles,afinal devemos ser antiracistas 🙂🙂🙂.

  7. A publicação representa perfeitamente o absurdo que é atualmente ainda termos traços de uma era antiga como a escravidão. E que seja dito que tais traços devem ser atentamente observados para que esse racismo estrutural tenha cada vez mais possibilidade de cair por terra, sendo nossa sociedade liberta deste mal que o preconceito representa.

    2° INF / IFSP

  8. O artigo traz uma discussão importante sobre um tema já muito falado mas não tão bem combatido: o racismo. É essencial reconhecer que a banalização e naturalização desse problema só perpetua injustiças e desigualdades em nossa sociedade.
    Michelle Cordeiro, 3° ano de Informática.

  9. Muito importante esse tópico, porque “enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho nos olhos, haverá guerra” Jr, Vinicius. Com isso saliento a importantancia dessas discuções e de implementar politicas publicas para acabar com o racismo gradualmente.Pedro Previtalli de Toledo, 4º ano de Manutenção Automotiva

  10. O artigo aborda uma perspectiva essencial na luta contra o racismo, destacando a necessidade de uma sociedade baseada na igualdade, equidade e justiça, livre de opressão e exploração. É crucial forjar uma história antirracista, transformando nossa forma de viver em sociedade. Devemos trabalhar juntos para construir um futuro mais justo e inclusivo!

    Laisa Marchezani, 4° Informática.

  11. O racismo é, em seu cerne, uma afronta à humanidade, ao caráter humano; extirpar tal ideologia hedionda de nossa sociedade deve ser um objetivo uno. Para tal, é fundamental que procuremos o conhecimento, para que, munidos da civilidade, da educação e dos preceitos da equidade e justiça social, consigamos eliminar tal horrenda visão. Este artigo faz-se conveniente, pois exprime a realidade e norteia as importantes decisões que necessitamos tomar para garantir a superação do racismo.
    Relembrando-os, aos que lêem:
    “Os racistas hão de herdar o Hades, assim como o fogo abrasador da história os julgará. Não restará, de suas imagens, nada mais que o escrutínio; por seus desprezíveis atos contra a dignidade humana, relembrados como vis devem ser, e apenas como tais”.
    Lucas E. S. Gomes—–3°INFO

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