Contemplado pelo Proac, projeto faz chamamento a grupos e coletivos negros de teatro profissional ou amador.
Reivindicar condições para o desenvolvimento do teatro profissional ou amador feito por coletivos e grupos negros – especialmente os periféricos –, quebrar paradigmas e cânones de um universo teatral pensado por e para a branquitude e propor reflexões fundamentais sobre arte, política e as potencialidades do povo negro também no mundo da dramaturgia são apenas alguns dos muitos objetivos da “I Mostra Preta Periférica de Teatro” que está em produção em Piracicaba e contará com mais de 50 pessoas envolvidas e trabalhando.
Inspirado no “Teatro Experimental Negro” (TEN), fundado em 1944, a “I Mostra Preta Periférica de Teatro” tratará exclusivamente da temática afro, a ser trazida a público por coletivos teatrais que, para além de pensarem e proporem em sua montagens e encenações o tema da negritude, sejam também compostos por negros e negras – especialmente por aqueles que entendem a importância de se fomentar a construção de um pensamento político sobre a negritude que favoreça a expansão de sua representatividade e possa ampliar adifusão da consciênciaeda luta do povo negro.
Tendo como proponente a atriz Eva Prudêncio, a “I Mostra Preta Periférica de Teatro” acontecerá entre os dias 12 e 15 de maio (data em que se discute a “abolição” da escravatura). Serão quatro dias consecutivos de atividades teatrais a acontecerem nas ruas e em alguns pontos representativos do povo negro piracicabano e periférico, como a “Vila África”, a “Casa do Hip Hop” e o “Barranco Cultural” – lugares esses que podem ser considerados como verdadeiros quilombos atuais de reunião da arte, cultura e resistência negra na cidade de Piracicaba.
A Mostra – que tem sua programação centrada numa série de apresentações de espetáculos teatrais, esquetes e cenas produzidas e apresentadas por negros e negras, contará também, em paralelo, com oficinas, palestras, debates, exibição de filmes e rodas de bate-papo.Todas essas atividades igualmente pensadas, conduzidas e executadas por profissionais negros e negras (senão na sua totalidade, pelo menos na maioria delas), num processo que, como afirma Eva Prudêncio, se constituirá como um verdadeiro aquilombamento cultural. “Quando uma mulher negra se movimenta ela movimenta toda uma estrutura”, afirma Eva Prudêncio, citando Angela Davis.
Um corpo de debatedores, formadopor profissionais negros, também será composto para contribuir tecnicamente com os espetáculos que forem selecionados para a Mostra – que em sua programação contemplará ainda a produção de entrevistas e depoimentos de atrizes e atores negros da cidade de Piracicaba, os quais poderão compartilhar suas trajetórias de vida, de arte e de negritude.
Aberta a todos os públicos que estejam dispostos a dialogar e a contribuir com a proposta de pensar e experenciar o teatro a partir de tal perspectiva, a Mostra visa atingir mais diretamente, no entanto, o povo negro periférico. “Queremos e precisamos garantir às meninas e aos meninos pretos das periferias que encontrem também na arte do fazer teatral um espaço de pertencimento, que se reconheçam nele (e também a partir dele) como indivíduos com perspectivas e sonhos”, afirma Eva Prudêncio.
Os grupos e coletivos negros de teatro que se identificarem com a proposta e quiserem apresentar seus espetáculos (prontos e preferencialmente encenados por significativa quantidade de atores e atrizes) podem enviar suas propostas – release, fotos, cartaz do espetáculo, programa, vídeo ou ainda em outra mídia que desejar – no email coisadepretas@gmail.com, do dia 13 ao 23 de fevereiro. As propostas serão avaliadas por uma comissão e as selecionadas receberão ajuda de custo. Mais informaçõespodem ser obtidas pelo mesmo email.
Na impossibilidade de, eventualmente, não se contemplar integralmente o conjunto de profissionais, espetáculos/elencos exclusivamente negros, a produção da Mostra abrirá espaço para os demais grupos – desde que respeitados o objeto e objetivo do projeto, que é o de potencializar a temática e o protagonismo negros.
Todas as atividades da Mostra serão gratuitas!
fotos: Rodrigo Alves.