Era uma noite fria de inverno, o vento uivava ao passar entre os galhos secos das árvores. O céu limpo anunciava que a noite iria ser clara, graças à lua cheia que reinava absoluta entre às milhares de estrelas.
João estava dentro de sua cabana, degustando um vinho e o jantar que acabara de fazer, quando ouviu no rádio que uma enorme onda se aproximava da costa e em duas horas atingiria a região em que se encontrava. João, como se não tivesse ouvido nada do que o jornal tinha informado, terminou de comer, deu o último gole no cálice de vinho e foi para a varanda, sentar-se na rede e acender um cigarro de palha.
Nem mesmo Deus sabia o que se passava dentro daquela cabeça cujos cabelos grisalhos que denunciavam a idade de João. Ele estava para completar, no próximo mês, setenta anos de idade. Setenta anos de uma vida cheia, completa, experiente e – nos últimos – ano pacata. Mas sempre desfrutando ao máximo dos prazeres e sabores que ela lhe proporcionava. O que mais João poderia querer? Era um homem realizado.
Terminou o cigarro de palha e, apoiado, ficou olhando no balcão da varanda, vendo a planície e suas árvores – que se perdiam da vista no horizonte. Com o olhar perdido, viu a vida passar como um filme diante de seus olhos, todos os momentos, detalhes, experiências estavam junto dele novamente e de certo modo, juntos com se fosse um só.
Passadas às duas horas anunciadas na rádio, avistou a gigantesca e assustadora onda, vindo em direção da cabana. Seu coração começou a bater mais forte e naquele momento sentiu uma total paz de espírito, tudo pareceu estacionar no tempo.
Era o fim.
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Pedro Salvetti é aluno do ensino médio do Colégio Salesiano Dom Bosco de Piracicaba.