Índia: encantos e desencantos

Viajar é sempre bom e enriquecedor. Alarga horizontes, traz conhecimento, cultura, e é um lazer muito especial, pois só conhecemos realmente o povo, a cultura, os costumes e a culinária de um país, estando nele.

Por mais que você ouça relatos de quem já esteve no local, que assista documentários, filmes, novelas, leia livros, veja fotos, nada se compara à aventura de estar lá, pisar seu solo, sentir a essência do país através dos seus próprios sentidos e vivenciar as emoções. Você tem que visualizar, ao vivo, o colorido, respirar a poeira, ver os ocasos e luares e degustar os diversos sabores da comida. Na Índia, o delicioso perfume dos incensos se mescla ao odor do estrume das vacas sagradas que transitam em qualquer local sem serem molestadas.

Ficamos fascinados com o brilho dos brocados nas lojas e com as estampas florais e de arabescos nas sedas finíssimas, e os metros e metros de tecido para enrolar no corpo e compor o traje tradicional. Mesmo que não use nunca, que fique sempre dobrado no guarda-roupa esperando uma ocasião especial que pode nunca acontecer, ninguém sai da Índia sem trazer ao menos um sári.

Um fotógrafo profissional com uma boa máquina, faria, com certeza, as melhores fotos de sua vida. O contraste do belo com o tosco daria fotos dignas de prêmios. Pena que não sou boa fotógrafa e perdi muitas boas oportunidades, mas minhas retinas guardarão para sempre cenas únicas que me marcaram.

A Índia é um país encantador, mas cheio de contrastes. Pobreza extrema e monumentos suntuosos, como o Taj Mahal, todo em mármore branco, com pedras semipreciosas incrustadas e a cúpula costurada com fios de ouro.  A todo instante vemos esses contrastes como não se vê em nenhum outro lugar.

Uma amiga, que já foi lá várias vezes, me deu um conselho que guardei como um mantra: “veja tudo com olhos de amor”. E foi o que eu fiz. Coloquei minhas lentes amorosas para filtrar o que via.

Por várias vezes meus olhos se encheram de lágrimas. Um rapaz se arrastava numa estrada, entre os carros, pedindo ajuda. Lá, a poliomelite não está erradicada e muitas crianças e jovens são portadores do vírus que causa a paralisia infantil. O guia alertou para não dar esmolas. Não me contive e joguei dez rupias pela janelinha. O garoto me devolveu um sorriso encantador, e pude ver seus dentes muito alvos e um olhar tão puro, sincero e amoroso que jamais esquecerei.

Eu penso que não aconselham a dar esmolas porque quando você faz isso, acontece o milagre da multiplicação, como naquela música do Roberto Carlos – Guerra dos Meninos – quando surgem centenas de meninos de todos os lados.

Outra cena que me emocionou, foi a de uma menininha de seus 4 anos, dançando e fazendo contorcionismo entre os carros. Estava frio, e ela com uma roupa leve, dançava, remexia os bracinhos magros e cheio de pulseirinhas, deitava naquele chão imundo, correndo risco de ser atropelada enquanto o irmão mais velho ruflava um tamborzinho feito por ele mesmo. Pouca gente dava moedas… Morri de pena. Ela e o irmão deveriam estar numa escola e não ali.

Na Índia dificilmente você será assaltado. Mas todos sempre acham um jeitinho de angariar algumas moedas para poderem comer, já que muita gente passa fome. Dançam, cantam, tocam instrumentos feitos por eles mesmos, dão toalhinhas de papel para enxugar as mãos ou vendem bijuterias lindas a preço de banana.

Há muita coisa interessante para contar, mas deixarei para uma próxima crônica!

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Ivana Negri é escritora

33 thoughts on “Índia: encantos e desencantos

  1. Olá Xará
    Muito bonita a foto que você escolheu para ilustrar sua crônica mesclada de cultura, aprendizado e principalmente fortes emoções. Faria a mesma coisa no seu lugar, também ajudaria o menino, o que fazemos com amor é válido, nos faz bem, ajudar nunca é demais, e a certeza que fez o certo naquele momento foi o sorriso puro e verdadeiro que o menino lhe devolveu. Vou esperar a 2ª crônica, parabéns pela viagem que com certeza foi muito enriquecedora em todos sentidos. Um beijo!

  2. Ivana, sua amiga tem razão ao dizer que devemos ver a Índia com os “olhos do amor”, pois só com essa postura podemos navegar pela cultura indiana, mesmo sem entendê-la. Para nós, que somos vegetarianas seria um paraíso, mas os contrastes sociais são difíceis para nossa compreensão aceitar. Para nós, que amamos os animais, vê-los livres, sem serem molestados, também seria nosso ideal. Vivem livres, mas em que condições? Pelo visto, as piores possíveis. Continuo a afirmar que o que menos aceito nessa cultura é saber de crianças que não frequentam a escola, porque são discrimindas por terem nascido numa condição ou casta e não possuírem o direito como “pessoas”. Choca-me saber de tamanha riqueza paralela a extrema miséria. Vemos isso em todos os países, mas não em tão imensa escala. Conte-nos mais na próxima crônica. Abraço. Maria José Soares

    1. Pois é, Maria José, todos os países têm seus prós e contras. O que falta num, sobra no outro… Penso que tudo faz parte de um grande aprendizado. E viajar nos proporciona ampliar horizontes e aprender muito.

      bjos e obrigada

  3. Querida Ivana,
    Como é bom viajar ! Senti o perfume dos incensos, maravilhei-me com os sáris, encantei-me com o sorriso do menino,também fui à Índia…obrigada por proporcionar-nos esta viagem pelas palavras. Um beijo e parabéns pela crônica.

  4. Com seu jeito natural e envolvente, Ivana nos traz sua visão, nova perspectiva, filtrada por sua autenticidade humana, por suas qualidades pessoais, e assim, ampliamos nossos pontos de vista.
    Gracias por compartilhar conosco !
    E estamos aguardando as crônicas que se seguirão !

  5. Oi, Ivana! Adorei a foto da vaca comendo batata. Parece muito boazinha, vaca de estimação. 🙂 Evito comprar seda. Os defensores dos animais não percebem que milhões de bichos-da-seda são mortos em água fervente, para que seus casulos virem tecido. Compaixão é uma questão de tamanho? Larvas e insetos não a merecem? Gostei muito da crônica. Aguardo a próxima. Beijos!

    1. Tem toda razão, Carla. Muitas coisas que as pessoas aceitam como algo normal e natural, é pura falta de conhecimento, inclusive o corante vermelho conhecido como carmim, nada mais é do que um inseto conhecido como cochonilha. É necessário triturar cerca de setenta mil insetos para se conseguir cerca de meio quilo de corante, muito usado na indústria alimentícia. Hoje em dia existem as sedas sintéticas e corantes vermelhos extraídos de plantas. É preciso sempre fiscalizar os rótulos…

      bjos e obrigada pelo comentário!

  6. Ivana:

    Amei sua crônica, principalmente a parte em que você escreve que não há violência.
    Um país com pessoas tão pobres mas que têm muita fé, vivem em paz com os animais.
    Gostaria de saber como funcionam lá as castas, uma não pode passar para outra?, se é por isso o conformismo deles.
    Viajar é uma das melhores coisas da vida, aguardarei ansiosa a sua 2a. crônica.
    Beijos.

    1. Beth, fiquei lá muito pouco tempo para me aprofundar mais nas culturas, costumes e tradições como gostaria, mas tenho certeza que a espiritualidade, a fé e a crença, é que os faz aceitarem com resignação as condições miseráveis de vida e a serem, a maioria, honestos e éticos.
      Por duas vezes, ao pedir para os pais se eu podia fotografar sua filhinha (todas usavam trajes muito bonitinhos), eles disseram:”pode levar pra você”. Não consegui decifrar se era brincadeira ou eles oferecem mesmo as filhas para as pessoas criarem…
      bjos

  7. Ivana, a propósito, gostaria de dizer que, como bem lembrou a Clara,compaixão não é por questão de tamanho do animal. Colocamos isso também no nosso trabalho com as crianças no MICA. Quando trabalhamos com pintura em “seda” e damos esse nome à técnica por uma questão de hábito (porque quando dizemos pintura em tecido, não é tão bem entendido, descaracterizando-a, para alguns, como arte), na realidade trabalhamos com tecidos de fibras vegetais ou sintéticas.Insetos também sentem dor e,certamente, outras sensações.Parabéns pela lembrança aos desavisados.Beijo.
    Maria José Soares

  8. Ivana, belíssima a sua crônica, focalizando aspectos interessantes no passeio feito por alguns lugares da India, sobretudo em relação às condições em que vive aquele povo, a diferença existente entre os mais abastados e aqueles que não têm as mesmas oportunidades na vida. Acho que você poderá escrever mais crônicas (e não apenas mais uma) com riqueza de detalhes sobre tudo o que vivenciou no rápido passeio que fez por aquele país, provavelmente, recheados de curiosidades. Parabéns.

  9. De fato o constraste é muito grande. Todavia a suntuosidade dos monumentos, parece ser algo normal, pois é fruto do Capitalismo e se vê em abundância em qualquer cidade grande. Agora, a pobreza extrema da India,divulgada pela mídia, é algo de causar pena. A tristeza expressa no rosto daqueles miseráveis, a meu ver, mostra também a tristeza de suas almas. Mas está havendo lá a reunião dos líderes mundiais (BRICS)…Tomara que seja algo sério e não mais uma enganação de políticos que queiram apenas mostrar ao mundo suas boas intenções.
    Muito instrutiva e proveitosa sua crônica, Ivana.Parabéns.
    Manda a outra logo.
    Abraço.

    1. André, fico lisonjeada com comentários de pessoas cultas como você!
      Eu senti que o povo de lá é miserável sim, pois faltam-lhes coisas materiais, mas espiritualmente, são muito ricos, e por isso mesmo, aceitam naturalmente a situação, com alegria nas almas e não tristeza.

      abraços e obrigada

      1. Ah…q bom que gostou! são uma delícia mesmo. As meninas que fazem são da “Amor Integral”. depois te passo o contato. Elas fazem delícias integrais, vegetarianas e verganas. você vai adorar. Elas trabalham de segunda e terça sob encomenda. Bjinho

  10. Oi Ivana,gosto do seu estilo literário,pois você transmite também
    sentimentos,sensações,emoções e não somente kodaquiza os lugares.
    Senti-me um pouco na India e a sua cronica me fez ufanar mais do
    nosso Brasil.Bjos Leda

  11. Ivana,

    Parabéns pela crônica, infelizmente no mundo temos nossos encantos e desencantos, basta sabermos olhar, refletir e respeitar os costumes de cada um, mesmo que machuque nosso coração. Enfim, a cada viagem vivemos e aprendemos os pequenos pedaços do nosso mundo.

    Nilce

  12. OI,Ivana,gosto do seu estilo literário,pois quando você escreve transmite
    também sentimentos,sensações e emoções.Muitos escritores só kodaquizam os
    lugares descritos.Parabéns Bjos Leda

  13. Oi Ivana,gosto do seu estilo literário,pois transmite sentimentos,sensações
    e emoções.Alguns autores só kodaquetizam os lugares.Parabéns Bjos Leda

    1. Obrigada, Daniel, por sempre estimular os amigos da literatura. E precisamos incentivar também os novos talentos, como sua filhinha, que tão nova ainda, já escreve e declama poesias com muito talento.

      abração

  14. Realmente esse choque cultural nos faz pensar em nosso modelo de vida ocidental… Compramos o que não precisamos, idolatramos quem não merece, desperdiçamos os presentes que a natureza nos dá…

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