Ao piracicabano as batatas

Apesar das inúmeras manifestações populares, de movimentos e campanhas a favor de uma renovação em massa na Câmara Municipal, os eleitores piracicabanos conseguiram reeleger 13 dos 15 atuais vereadores que compõem o legislativo da cidade. Sim, estão reeleitos esses mesmos vereadores que, há pouco, aumentaram – na calada da noite – os seus próprios salários em mais de 60%. Sim, voltarão à Câmara, por meio do voto popular, os mesmos vereadores que, temendo justamente a insurgência do povo contra os desmandos do legislativo, inibiram a participação popular nas sessões camarárias próximas das eleições, barrando-lhes a entrada e preenchendo os assentos da Câmara com os próprios assessores da respeitável Casa de Leis piracicabana. Estão novamente reeleitos pelos piracicabanos os digníssimos vereadores que tiraram do ar as sessões plenárias televisionadas e ameaçaram perseguir e censurar as manifestações dos internautas que se colocaram contra o absurdo aumento que elevou para mais de 10 mil reais os salários das doutas excelências.

 

E o que há de novo no front? Nada. Em se tratando de política, Piracicaba continua a mesma: reacionária, tradicionalista, bairrista, elitista e ultrapassada. Afinal, o jogo partidário das cartas marcadas continua como sempre foi – e se a esperança nos impulsionava a crer numa verdadeira mudança, o raciocínio lógico e a análise sociológica nos mostravam que nada, de fato, mudaria. Isso porque, em primeiro lugar, o piracicabano concorda e aceita pacificamente o peso da sela que se lhes  impõem sobre o lombo os “vultos” da falsa elite piracicabana – representantes de uma oligarquia rural extinta há décadas, porém vivificada eternamente sob a égide de poderosas famílias e de seus ilustres sobrenomes. Eleger quem tem status passa a ser, assim, uma obrigação. Afinal, vivemos numa terra afamada e nossos célebres representantes necessitam ser “gente nossa.” Em contrapartida, os eleitores que não pertencem ao grupo dos “bem-nascidos” da cidade votam naqueles que, supostos líderes de sua classe social e qualificação profissional, representam figurativamente os interesses do “povão” na política partidária da urbe. Esses são os “gente como a gente.”

 De eleição em eleição, o quadro se repete – e o piracicabano vai votando, entre “ilustres e plebeus,” naqueles que lhes tocam “a alma” e fazem parte do grupo social que os identifica como “gente.” Não há escolha séria, não há escolha pautada em plataformas políticas, não há escolha feita a partir da análise de projetos ou currículo dos candidatos. O que manda sempre na cidade, e sempre mandará, é a votação a partir da empatia social. Mesmo que essa empatia se dê com candidatos que, há décadas, ocupam quase que vitaliciamente uma cadeira na vereança do município – sem nada propor de útil ou importante. Desta feita, a escolha democrática – a qual devemos sempre defender, diga-se de passagem – resume-se assim, em Piracicaba, a um jogo de empatias e reacionarismo a partir do qual o ato supremo do voto converte-se em um “coleguismo” apaixonado, ignorante e inconsequente. Nada muda, nunca. Nem os problemas nem os eleitos – e esse é o jogo velado que domina a política partidária de nossa terra. Afinal, há décadas nossos cidadãos votam praticamente nos mesmos vereadores – em detrimento de aumentos absurdos de salários e falta de projetos e soluções eficazes para as questões pontuais que urgem ser solucionadas.

 

No que diz respeito ao legislativo é imperativo que os piracicabanos se calem daqui para diante. Não há, agora, do que reclamar. O instante mágico do voto foi subvertido num apadrinhamento continuista e bairrista. Votou o piracicabano pela manutenção do que ad eternun  se estabelece por aqui. Não há novidades (nem mesmo a eleição do transexual “Madalena” pode ser considerada uma novidade se pensada pelo viés do partidarismo pautado na empatia da qual aqui falamos). Por isso, por mais quatro anos o piracicabano está proibido de atirar sobre o legislativo qualquer injúria ou reclamação – afinal, o povo conhece muito bem quem ele elegeu. Por mais quatro anos, então, não pode o piracicabano atirar sobre seus eleitos a primeira pedra – sob a pena de serem os nossos conterrâneos justa e devidamente chamados de atrasados e achacados com batatas.

20 thoughts on “Ao piracicabano as batatas

  1. Esse texto diz tudo… Não houve renovação, tudo continua como antes no quartel de Abrantes.
    E que ninguém reclame de nada, pois escolheram o continuísmo. Nos próximos anos, centenas de novos nomes de ruas, moções de aplausos, títulos e mais títulos de cidadão praeclarus.
    Parabéns pelo texto! Posso copiar para o Blog do Golp?

    abraços

  2. Resumindo, um ranço! Contra toda essa tirania há o berço do carrapato e ele tem um nome Reaja Piracicaba! Vamos grudar neles, porque o movimento não terá fim, mesmo com isso. É só aguardar!

  3. COMO DIZEM CADA POVO TEM SEUS GOVERNANTES QUE MERECEM, RECLAME AMANHA DAQUILO QUE VC ELEITOR FEZ HOJE (ONTEM) OPORTUNIDADE DE MUDANÇA FOI LHE DADO E VCS NAO APROVEITARAM , NA REALIDADE NAO SOUBERAM APROVEITAR, A NAO DIGA QUE VC ESTA GANHANDO MENOS DE QUEM ESTA LA, APROVEITE AO MENOS E EXIJA QUE FOI PROMETIDOD…

  4. Sinceramente, esse resultado passa longe de ser surpreendente. Via de regra o piracicabano, seja nas eleições majoritárias, seja nas minoritárias, não “enxerga-se” em quem defenda seus interesses.
    Só não concordo quando é dito nesse editorial que ” Por isso, por mais quatro anos o piracicabano está proibido de atirar sobre o legislativo qualquer injúria ou reclamação – afinal, o povo conhece muito bem quem ele elegeu”.
    Desculpe, o “povo” é algo muito amplo para que fique calado. Eu não me calarei e pressionarei, individual e coletivamente, esses senhores e senhoras tão bem remunerados. Que eles não esperem de mim qualquer misericórdia ou leniência.
    O povo JAMAIS , por motivo algum, será privado de seu direito de reinvindicação porque eleger os “representantes” não importa em renúncia da vigilância, ao contrário.

  5. Muito triste !! Participei do Reaja Piracicaba, principalmente compartilhando e defendendo mudanças, pelo facebook. isso foi uma vergonha para nossa cidade. Enfim,
    POVO ALIENADO É MELHOR CONTROLADO. Estamos nas mãos desses escrotos novamente.

  6. Belo texto!!!
    Também acho lamentável essa triste renovação da mesmice…
    Porém, não concordo que devemos calar e aceitar. O resultado das urnas está posto, isso não podemos agora mudar. Mas, devemos acompanhar as ações dos nossos representantes e cobrar resultados.

  7. Mais uma vez nosso povo mostrou que não entendeu o real valor do voto, poucos realizam pesquisas para saber quem são realamnet seu candidatos, o pior de tudo e que durante estes proximos 4 anos os que votaram nestes eleitos são os que mais você vai ouvir reclamar, mas vamos ter fé que um dia quem sabe nosso povo aprenda realmente amar PIRACICABA e seu povo…

  8. Disse tudo! Buscar pelo novo pode ser que algumas situações amedronte, porém mudanças sao necessárias e eu tenho certeza que tínhamos candidatos excelentes, de ficha limpa e com proposta interessante para a cidade. Agora ficamos nos aqui vendo roubalheira, abusos e assim vamos ter que esperar por mais 4 anos e quem sabe lá as pessoas comecem diferente.

  9. Disse tudo! Buscar pelo novo pode ser que algumas situações amedronte, porém mudanças sao necessárias e eu tenho certeza que tínhamos candidatos excelentes, de ficha limpa e com proposta interessante para a cidade. Agora ficamos nos aqui vendo roubalheira, abusos e assim vamos ter que esperar por mais 4 anos e quem sabe lá as pessoas comecem a pensar diferente.

  10. Só posso parabenizar pelo texto que conseguiu expressar tão bem o triste cenário que seremos obrigados a “engolir” por mais 4 anos . Não sei se o mais deprimente é a postura vergonhosa de nossos representantes na câmara ou a atitude do povo piracicabano reelegendo os mesmos.
    Que pena, tanto se luta pela democracia e infelizmente muitos ainda não descobriram a responsabilidade da escolha.

  11. O texto está ótimo, mas não devemos generalizar! Temos alguns vereadores que fizeram a diferença: Ari Pedroso, André Bandeira, Marcia Pacheco, enfim, apesar da saúde ainda ter muito a ser melhorada, quem precisa dela com frequëncia deve ter notado alguma diferença quanto a tempo de espera de exames, rampas de acesso pela cidade, divulgação dos direitos dos deficientes,etc. São passos de formiga, mas são passos! Não é só fazendo críticas destrutivas que vamos melhorar nossa cidade! Vamos fazer nossa parte de cidadãos e continuar exigindo e policiando nossos representantes para que façam mais!

  12. Não há luz no fim do túnel nem tampouco alguma razão para se perder a esperança.
    Insistemos no trabalho de dignificar, pelo menos, a história do lugar – que foi esquecida. É incoerente o fato de derrubarem toda a história em nome de manter os analfabetos ultrapassados nas cadeiras públicas. De qualquer maneira, sejamos mais críticos, incisivos e batalhadores por uma cidade digna, fora de sua verticalização e de seu protecionismo aristocrata barato e sem vergonha.

  13. Eu aplaudo em pé esse editorial e fico um pouco aliviado em saber q há pensamento crítico nessa cidade. O artigo é perfeito na análise da conjuntura política de Piracicaba. Eu julgo q nos últimos 4 anos, Piracicaba viveu, e parece q vai continuar vivendo, o pior momento político da cidade. Uma Câmara q, além do absurdo do aumento, foi aliada a tudo q o executivo mandou e continua mandando. Sem oposição, sem questionamentos, sem investigações e só no faz de conta esses edis ainda se auto concederam um aumento básico p/ a próxima legislatura.
    Horrível isso. Eu escrevo cartas no jornal e as vezes artigos questionando e fazendo um pouco o contraponto q ñ existe mais por aqui. Tenho nojo de ver só elogios e puxa-saquismo barato nos jornais.
    Esse artigo deveria ser publicado nos jornais da cidade. A Tribuna é um canal sempre aberto e q publicaria sem problemas esse texto.
    Parabéns

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