A Insensatez do Retorno às Aulas Presenciais

A Insensatez do Retorno às Aulas Presenciais

É inacreditável que após um ano de pandemia da Covid-19, com uma triste e dramática marca de mais de 220 mil vidas perdidas, a sociedade ainda não tenha assimilado às duras lições impostas por essa grave crise sanitária. A vacina é a única saída, que permitirá o retorno às atividades cotidianas que exigem intensa convivência. Sem a vacina ainda se fazem necessários o isolamento e o distanciamento sociais, a utilização de máscaras nos ambientes públicos, o hábito de constantemente higienizar as mãos com sabão e álcool gel. 

A insensibilidade e insensatez da ausência de políticas governamentais no campo da saúde pública são estarrecedoras. O governo federal, de maneira inacreditavelmente irresponsável, não fez nenhum acordo prévio para garantir vacinas à população. Os brasileiros, mesmo diante do vírus letal, encontram-se abandonados à própria sorte. Os interesses mais imediatos, defendidos por seguimentos econômicos e financeiros, não podem se impor em detrimento do cuidado para com a saúde da população. Enquanto não alcançar a imunização, por meio da universalização da vacinação, não será possível o retorno a uma rotina de normalidade. A pandemia nos desafia a repensar as dinâmicas do cotidiano.

Neste contexto de significativo aumento no número de pessoas infectadas pelo Novo Coronavírus, a proposta de retornar às aulas presenciais é insensata, de uma irresponsabilidade inaceitável. Reabrir as escolas, tanto públicas quanto privadas, retomando a dinâmica cotidiana de aulas presenciais, significa fechar os olhos e ignorar a gravidade da situação que ainda vivemos. Retomar as aulas presenciais é uma decisão, no mínimo, insana. Nenhum país retomou às aulas presenciais sem que houvesse antes uma queda significativa na curva de contágio. O fato é que o Brasil está ainda longe de controlar a pandemia.

A lição é que, com aulas presenciais, ocorrerá uma aceleração ainda mais intensa no ciclo de contágio do Novo Coronavirus, provocando, por consequência, o número de internações e óbitos. O ambiente escolar não tem estrutura para implementar protocolos adequados que permitam uma convivência segura entre seus usuários. A escola não pode se tornar um foco de transmissão da doença. É urgente agora defender a saúde das crianças, dos jovens estudantes, das famílias, dos profissionais que atuam na educação e de toda comunidade. Em uma visão humanizada e de conjunto, as aulas presenciais não devem ser retomadas até que a pandemia esteja sob controle e toda a sociedade esteja imunizada. É preciso que a sociedade erga a sua voz, dizendo um contundente não ao retorno às aulas presenciais.

 Defender o não retorno às aulas não representa desconsiderar os impactos da pandemia para o setor educacional, bem como para o cotidiano da vida das famílias, com as crianças em casa. É preciso aqui que o governo implemente políticas públicas com auxílios na forma de isenções e linhas de créditos para o setor educacional, preservando a sustentabilidade financeira das escolas privadas. É preciso ainda que o governo, também por meio de políticas públicas, crie condições para que as crianças, os jovens estudantes e todos os profissionais da educação possam desenvolver atividades pedagógicas e educacionais por meio de um sistema remoto de comunicação, promovendo interações sem a presença física nos espaços escolares. Literalmente, seria imprescindível equipar, com tecnologia, educadores e estudantes, principalmente aqueles mais vulneráveis e pobres. O Estado existe para financiar as políticas e serviços que garantam a dignidade e a igualdade de acesso à educação.

Adelino Francisco de Oliveira é mestre em Ciências da Religião, doutor em Filosofia e professor no Instituto Federal campus Piracicaba.

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