A Atividade do Amor Político: terceira dose de reforço para o ano da eleição. Reflexões a partir da encíclica FRATELLI TUTTI

A Atividade do Amor Político: terceira dose de reforço para o ano da eleição. Reflexões a partir da encíclica FRATELLI TUTTI

O amor político está no centro de toda a nossa vida social, cuja atividade torna a vida mais sadia e aberta. O amor político precisa da luz da verdade “esta luz é simultaneamente à luz da razão e da fé” nos diz o Papa emérito Bento XVI. Manifesto respeito e credibilidade ao “desenvolvimento das ciências e a sua contribuição insubstituível para encontrar os recursos concretos”, por exemplo os recursos da vacina contra a pandemia.

O Papa Francisco nos fala do chamado amor “elícito”, que expressa os atos políticos que brotam diretamente da virtude da caridade dirigidos a povos e pessoas. Ele nos diz que há também um amor “imperado” como atos de caridade que nos impelem a criar instituições sabias, justas e estruturas mais solidarias. O Conselho Pontifício Justiça e Paz nos impõe “o objetivo de organizar e estruturar a sociedade de modo que o próximo não venha a se encontrar na miséria.”

É amor político ajudar uma pessoa que sofre, mas é também tudo o que se realiza para modificar as condições sociais que provoca este sofrimento. Por exemplo ajudar alguém a atravessar um rio é caridade, mas construir uma ponte é amor político. É amor dar comida a quem tem fome, mas dar condições de trabalho enobrece a ação política, nos confirma Papa Francisco.

O “coração do espírito da política é sempre um amor preferencial pelos menos favorecidos.”  No amor político “os pobres são reconhecidos e apreciados na sua dignidade imensa, respeitados no seu estilo próprio e cultura… e integrados na sociedade. Tal olhar é o núcleo do autêntico espírito da política.” Gosto quando Francisco afirma “não se pode enfrentar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que só tranquilizam e transformam os pobres em seres domesticados e inofensivos.  Como é triste ver que por detrás de presumíveis obras altruístas, o outro é reduzido a passividade.”

É profético quando o Papa diz que “os políticos são chamados a cuidar da fragilidade dos povos e das pessoas. Cuidar da fragilidade quer dizer força e ternura, luta e fecundidade, no meio de um modelo funcionalista e individualista que conduz inexoravelmente a cultura do descarte. Descartes: o fenômeno da exclusão social e econômica com suas tristes consequências de tráfego de seres humanos, tráfego de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo, incluindo a prostituição, tráfego de drogas e de armas, terrorismo e criminalidade internacional organizada. Devemos ter cuidado com as nossas instituições para que sejam realmente eficazes na luta contra esses flagelos.”

Diante da globalização dos direitos humanos o objetivo principal e irrenunciável é o de eliminar efetivamente a fome, nos declara Francisco. No encontro mundial dos movimentos populares ele destaca “quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos tratando-os como uma mercadoria qualquer, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isso constitui um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável.”

AMOR POLÍTICO QUE INTEGRA E REUNE

“A caridade política expressa-se também na abertura a todos… e no saber escutar o ponto de vista do outro facilitando um espaço a todos.” Um sublime objetivo, sem negociações de tipo econômico “é um intercâmbio de dons a favor do bem comum.”

Percebemos e sentimos na própria pele e nos nossos relacionamentos que a intolerância fundamentalista, fanatismos, logicas fechadas e fragmentação social e cultural danificam nossa convivência, “comprometamo-nos a viver e a ensinar o valor do respeito e o amor capaz de aceitar as várias diferenças.” Cito a campanha da fraternidade 2022 que tem por tema FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO com o lema “FALA COM SABEDORIA, ENSINA COM AMOR”. O Papa Francisco pede que nos comprometamos seriamente com a difusão da tolerância, da convivência e da paz. Um bom líder, “um bom político dá o primeiro passo para que as diferentes vozes sejam ouvidas.”

Nossas diferenças geram conflitos, nossa uniformidade gera asfixia e neutraliza-nos cultural e politicamente.  Diante disso Papa Francisco insiste que “não nos acostumemos a viver fechados em um fragmento da realidade.” Nossa realidade para ser sadia e aberta tem que ser um envolvimento político e social, ou seja, uma realidade fraternalmente aberta.

MAIS FECUNDIDADE QUE RESULTADOSNO AMOR POLÍTICO

Em meio a todas nossas atividades incansáveis somos chamados a viver o amor. No sonho de mais fecundidade do que resultados das nossas atividades incansáveis cada um é chamado a viver o amor em suas relações interpessoais diárias.

No parágrafo número 194 da encíclica FRATELLI TUTTI o Papa afirma “na política há lugar também para amar com ternura.” Ternura “é um movimento que brota do coração e chega aos olhos, aos ouvidos e as mãos… no meio da atividade política os mais pequeninos frágeis e pobres devem enternecer-nos: eles têm o direito de arrebatar a nossa alma e o nosso coração.”

“Na atividade política, é preciso recordar-se de que independentemente da aparência, cada um é imensamente sagrado e merece nosso afeto e nossa dedicação. Por isso, se consigo ajudar a uma só pessoa a viver melhor já justifico o dom da minha vida.”

“Ao amor, a boa política une a esperança, a confiança nas reservas do bem que apesar de tudo, existem no coração do povo.”

Termino com as questões que Francisco propõe.

Ao pensar neste ano de eleições as perguntas devem ser: “para quê? Para onde estou realmente indo?” Em quem devo votar? “As perguntas, talvez dolorosas serão: Quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? O que produzi no lugar que me foi confiado?”

Recomendo a todas as fraternidades, movimentos sociais e partidos políticos que leiam e estudem o capítulo 5 da encíclica FRATELLI TUTTI – A Melhor Política, senão todos os capítulos buscando no diálogo a fraternidade e amizade social por caminhos de um novo encontro social, religioso e político.


Frei José Orlando Longarez é OFM Cap. pela comissão de justiça e paz JPIC.

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