A ascensão dos terríveis

A ascensão dos terríveis

Foi aprovada há alguns dias pelo Congresso Nacional a indicação do ex-Ministro da Justiça e Advogado Geral da União, Dr. André Luiz de Almeida Mendonça ao posto de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Além de Mestre e Doutor em Direito pela Universidade de Salamanca, é Teólogo pela Faculdade Sul Americana da Igreja Presbiteriana do Brasil, onde também é Pastor. Mas, infelizmente, não foi sua capacitação acadêmica tampouco teológica que o ajudou a ascender ao cargo, mas o fato de ser considerado “terrivelmente evangélico”, prerrogativa exigida e anunciada aos quatro ventos por quem o indicou. Não se trata de crítica à pessoa do futuro ministro, mas em refletir sobre que “grande passo” é esse (palavras dele) que essa posse representará para o cenário religioso nacional, principalmente para o meio evangélico.

Os evangélicos há muito são ridicularizados por serem indistintamente associados à postura do movimento neopentecostal, que sempre afrontou os valores do genuíno protestantismo brasileiro com atitudes ousadas, desrespeitosas e irreverentes como chute a santos católicos e ensinamentos que procuram a todo custo doutrinar pessoas a se sentirem patrões e senhores do próprio Deus ao exigir dele bênçãos barganhadas por dinheiro e promessas financeiras, sendo, por esta razão, muito criticado pelas denominações tradicionais evangélicas. Mas hoje, a partir dessa aliança ideológica entre algumas igrejas históricas e os políticos, como é o caso da denominação a qual pertence o novo ministro, são os tradicionais que tomam a cena como “terríveis”, copiando os equívocos do neopentecostalismo ao apoiar um estado de truculência, desrespeito e aberta pregação à violência e à morte por parte do governo que apoiam. Os equívocos do cenário evangélico atual abrangem tradicionais e neopentecostais indistintamente. Antes tão opostos, hoje tão unidos, ambos envergonhando o genuíno pensamento protestante ligado a uma religiosidade crítica, esclarecedora, libertadora e promotora de vida.

A palavra terrível diz respeito a quem promove medo, terror, aflição, pânico. Refere-se aos violentos, desrespeitosos, assustadores, ou seja, de quem se espera agressões, truculência e mesmo, morte. Não me assustarei se a pena de morte tiver voto favorável de um dito “cristão terrível”. Tampouco se a violência, a truculência e o desacato ganhar status de legalidade, ou se o racismo, o feminicídio, a perseguição política, a tortura e a discriminação religiosa forem chanceladas algum dia pela “justiça” brasileira, que agora tem a anuência desses ditos evangélicos.

Este é o estado que nos encontramos com a ascensão dos terríveis, dos ambiciosos, dos presunçosos, truculentos e ignorantes em todos os níveis desse governo. Afinal, basta ver para crer que lucidez e bom senso não se aprendem mais na academia nem na igreja. A ambição é mais poderosa que a bondade, a ignorância mais forte que a clareza, o desamor maior que a empatia nesse país caótico, cego e medíocre, onde assistimos pela TV o protestantismo outrora tão respeitado, sinônimo de seriedade e retidão, se afundar cada vez mais na lama do “poder” fazendo-nos lembrar da recomendação bíblica: “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres”. (Apocalipse 2:4,5).

 

 

Prof. Dr. Rev. Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.

revnilsonjr@gmail.com

 

 

(Foto de capa: Foto: Isac Nóbrega/PR).  

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