A palavra economia tem a ver com a “ciência que analisa e estuda os mecanismos referentes à obtenção, à produção, ao consumo e à utilização dos bens materiais necessários à sobrevivência e ao bem-estar”, ou seja, é a área que trata das relações de lucro, envolvendo negociação, mercantilização e obtenção de resultados financeiros. Como dizem por aí, é a economia a grande máquina que faz girar a roda financeira do mundo, viabilizando, mantendo e sustentando pessoas, grupos e países.
O que normalmente não lembramos é a origem da palavra economia, que tem relação com o elemento “eco” (oikos) que se traduz por “casa, lar, domicílio, meio ambiente”. Em sua origem, portanto, economia é a arte de bem administrar a casa e tudo o que a circunda, incluiríamos aí, as pessoas, os relacionamentos, o lugar. Mas todos sabemos o quanto é necessário entender e saber gerir a economia financeira para proporcionar cuidado com a casa como um todo. Supostamente, quem tem mais recursos financeiros consegue resolver com mais tranquilidade essa gestão da vida, afinal, “via de regra”, o dinheiro “compra”, garante, sustenta, “bons” relacionamentos, boa saúde, bem estar.
Mas não é interessante perceber como os dois significados, quando colocados na concretude da existência, se confundem? Porque a vida, a cada minuto, é contabilizada, avaliada e projetada pela linguagem financeira. Se é que algum dia isso foi diferente, atualmente, o bem estar é contado somente por números e cifras, por saldos, lucros e aquisições. Parece impossível analisar e quantificar questões como felicidade, paz, tranquilidade e alegria sem recorrer a números, bens e condição monetária. É cada vez mais difícil dissociar uma coisa da outra.
Tudo é medido por marca e preço. As pessoas se classificam, se calculam, se interessam ou desinteressam umas das outras através das somas e subtrações imaginarias que têm dentro de si, que sistematicamente, diuturnamente, fazem contas, estabelecem patamares, níveis, castas construídas e baseadas em dinheiro e mais nada. Pessoas, empresas, instituições, igrejas, governos, todos estão prostrados diante do trono financeiro em adoração ao deus Mamon. Rico é quem tem dinheiro, pobre é quem não tem, e ponto final. Não há outro parâmetro, outra medida, critério, capaz de sinalizar o bem estar de alguém. A economia do “eco”, do “oikos” foi subjugada pela economia do “dinarius”, da dezena, do denário, da moeda.
Talvez, este seja o motivo de tanta confusão entre as pessoas. Não existe mais dicotomia. O dinheiro é o senhor absoluto da vida e a única referência da sociedade. Ele se tornou o deus sobre todas as coisas do tempo presente, por isso a relativização da vida. Tudo é justificado pelo efeito financeiro. Ação, reação, omissão ou interesse, tudo submetido à urgência pelo resultado “econômico”. Saúde, ética, princípios, verdade, justiça, paz, sentimento, vida, ficam em segundo plano. Pelo “Money”, tudo se justifica. Pôr em risco a si mesmo e os outros, oprimir, abafar, discriminar, ofender, subverter, enganar, denegrir ou elogiar. O mundo jaz no dinheiro! Dane-se a vida, o que importa é adquirir, obter, comprar, crescer.
A proposta de volta às aulas, em plena Pandemia, é sinal claro disso. Várias escolas, no Brasil e no exterior, já experimentaram a dor de ver professores e alunos infectados e até vitimados pelo COVID-19 depois do retorno presencial. Existem alegações bizarras como a crise emocional gerada nas crianças por conta do isolamento ou “estudos” que mostram a “segurança” do não contágio para alunos, professores e funcionários se estiverem dentro de uma unidade escolar.
As pessoas, em nome do dinheiro, devido aos lóbis das mega instituições educacionais, interesses políticos e pessoais, se esqueceram da dinâmica de vida de uma criança, sua agitação, impetuosidade e ativismo que contraria radicalmente qualquer norma ou protocolo de distanciamento, de não tocar nos outros, de manter-se isolado. A sociedade, o governo, as empresas e, infelizmente muitos pais, colocam suas vidas e as vidas de seus próprios filhos abaixo da preocupação financeira, não entendendo que a maior tragédia da existência, a maior fatalidade e dor está na possibilidade de perder uma pessoa querida pra sempre, sem retorno, sem chance, sem volta.
Diante desse iminente caos escatológico, resta a pergunta de Cristo: “… de que vale uma pessoa ganhar o mundo e perder a alma?” (Evangelho de Marcos, capitulo 8, versículo 16), ganhar riqueza, bens, ganhar “amigos”, “prestígio”, atenção, mas perder sentimentos, ternura, sensibilidade, consideração, admiração, respeito ou a própria vida?
Prof. Dr. Rev. Nilson da Silva Júnior é pastor e professor universitário.
(foto de capa: LP Nevermind – Nirvana).