O neofascismo tem mostrado seus dentes podres e aberto sua boca fétida já há algum tempo, e isso não apenas com palavrões e posturas inadequadas do ponto de vista moral. As Instituições, que deveriam zelar pela democracia, acabaram contemporizando com suas manifestações asquerosas. Mas agora as contradições estão prestes a explodir. Não há mais como tergiversar: ou se levantam vozes uníssonas pela democracia ou seremos lançados à mais estúpida barbárie.
A unidade que se almeja deve ir além da defesa de uma democracia meramente formal. A democracia não pode se restringir a uma questão que se esgota em tão somente poder votar com determinada periodicidade. É preciso a construção de uma democracia de fato, alicerçada em ampla participação popular e plena em direitos. Democracia, cidadania e direitos são conceitos inseparáveis. Democracia pressupõe justiça social e significa igualdade de oportunidades, em uma sociedade de cidadãos livres e sem pobreza. É por esta democracia que devemos unir todas as vozes, firmando um novo pacto social, uma nova sociabilidade.
O neofascismo antidemocrático,que deve ser denunciado e combatido, não se revela apenas no teatro esdrúxulo de beber um copo de leite ou em encenações com símbolos históricos associados ao nazifascismo. O neofascismo tem marcas e consequências muito mais tenebrosas. É preciso denominar o neoliberalismo como uma política econômica neofascista, na medida em que dissemina pobreza e exclusão social. O neofascismo avança ainda por meio de uma política ambiental insustentável que devasta a natureza, destruindo o planeta. A cultura de desprezo e ódio ao outro, de vigilância e cerceamento das consciências, de exercício ditatorial e totalitário do poder são também dimensões inerentes ao neofascismo.
As múltiplas formas de opressão étnica, o racismo estrutural, a violência contra a mulher, a negação e extermínio dos povos indígenas, o brutal preconceito contra todas as maneiras de diversidade são também representações do neofascismo. Na base de todo sistema que nega a dignidade da vida, em suas mais diversas expressões, encontra-se uma perversa lógica de dominação econômica, marcando as relações humanas, como uma ameaça à caminhada pela civilização.
A construção de um novo tempo, a utopia de uma sociedade estruturada na justiça, no direito e na liberdade só se tornará efetiva mediante um vasto, amplo e irresistível movimento de transformação social, capaz de aglutinar todas as forças que compõem a sociedade. Uma pauta se impõe: a defesa da democracia, da cidadania e dos direitos fundamentais. É urgente tomar esta luta como a defesa intransigente de nossa humanidade. A liberdade é sempre uma conquista e só poderá existir se for coletiva e universal.
O enfrentamento e derrota do neofascismo passa pelo resgate do sentimento de pertencimento e vínculo aos valores civilizacionais e pelo fortalecimento do senso de comunidade. Essa é uma tarefa que deve ser realizada em âmbito local, no contexto da municipalidade. É no território do município que a luta contra o neofascismo ganhará corpo e significado. Cabe às forças comprometidas com a democracia, no ambiente de cada cidade, avaliar as estratégias mais adequadas para a construção de uma unidade básica, em torno de um projeto democrático de sociedade.
Consciente de seu papel histórico, a população organizada, engajada e mobilizada pode assumir um protagonismo irresistível e transformador. Para a aurora de um novo tempo, sob o primado da solidariedade, da justiça e do direito, torna-se imprescindível que a voz do povo ecoe nos territórios, tomando as ruas das cidades, na conflagração de um vasto movimento de insurgência. Vamos juntos, com esperança sempre!
Adelino Francisco de Oliveira é filósofo, professor no Instituto Federal campus Piracicaba e pré-candidato à prefeitura de Piracicaba pelo Partido dos Trabalhadores.
Adelino sempre brilhante com esses textos instigantes. Parabéns
Situa muito bem o momento histórico. Muito bom