O Programa Educativa nas Letras ocupou, por um período de 15 anos, a programação das manhãs de sábado da rádio pública 105,9 Educativa FM. Nesta última fase o Educativa nas Letras esteve sob a liderança de Alexandre Bragion e Josiane Maria de Souza. No início o Programa também pode contar com as apresentadoras Lucila Calheiros Silvestre e Carmelina Toledo Piza.
A qualidade da proposta do Educativa nas Letras sempre contou com o reconhecimento unanime de seus ouvintes. Seguindo um roteiro ousado e inovador, o Programa estabelecia, com criatividade e genialidade, a intersecção entre músicas, entrevistas, rodas de conversa, reportagens e aulas literárias. Com profundo e vasto cabedal intelectual, particularmente no campo da literatura, Alexandre Bragion e Josiane de Souza não apenas apresentavam o Educativa nas Letras, mas davam verdadeiras aulas, tomadas por beleza, conhecimento, irreverencia e senso de democracia.
O Programa Educativa nas Letras era um autêntico difusor de cultura, no sentido mais elevado do termo. Por meio do Programa a população da cidade tinha acesso a uma vasta e diversificada produção artístico-cultural, dando materialidade à democracia cultural. Mas o Educativa nas Letras era também um espaço de fomento às novas e originais manifestações de arte, efetivando o que se denomina de democratização da cultura. A cultura como um bem universal, como um direito tornava-se realidade em cada edição do Educativa nas Letras. Definitivamente o Programa cumpria o papel de promover o direito à cultura, função inclusive que cabe a uma rádio pública.
Além de ouvinte assíduo, por diversas ocasiões tive o privilégio de participar mais diretamente do Programa, desenvolvendo temáticas ora no campo da filosofia, ora com perspectivas mais teológicas, em outros momentos abordando temas sobre educação ou ainda debatendo questões a envolver a dimensão da cidadania política. Foi sempre uma alegria e um espaço de aprendizado poder acompanhar toda a trajetória das muitas fases do Educativa nas Letras.
O ambiente de gravação, o estúdio da rádio, era sempre marcado por certa espontaneidade e afabilidade. Os apresentadores, Bragion e Josiane, ambos da área de Letras, apesar de reunirem todas as condições para desenvolver com brilho e profundidade os temas abordados, acolhiam e valorizavam a percepção dos convidados a serem entrevistados. Em muitas oportunidades, na dinâmica do Programa, mesmo sendo o convidado para falar sobre determinado tema, meu desejo era simplesmente ficar ouvindo as ricas e densas ponderações dos dois professores apresentadores. Ouvi-los era sempre um momento de graça, beleza e enriquecimento cultural.
O que talvez cause espanto e certa consternação é como um Programa tão premiado, com incontestável reconhecimento por parte da população piracicabana, pode ser abruptamente encerrado. Qual a motivação para que a cidade inteira, a cultura local e regional, seja privada do Educativa nas Letras? A justificativa para o fim do Programa seria simplesmente técnica? O fato é que temos presenciado movimentações estranhas em nosso país, inclusive no campo da cultura. Em alguns lugares proíbem-se livros, recorrendo-se a uma espécie de novo index. Oxalá por aqui não se avance para se encerrarem programas de arte, ferindo de morte o direito à cultura. Espero que cada ouvinte, cada cidadão assuma uma ousada e prudente reflexão, reconhecendo o lugar do Educativa nas Letras na construção da história cultural desta cidade, assim como compreendendo a irreparável ruptura afetiva que a ausência do Programa implicará nas agradáveis e poéticas manhãs de sábado.
Educativa nas Letras, presente!
Adelino Francisco de Oliveira é filósofo, professor no Instituto Federal campus Piracicaba e pré-candidato à prefeitura de Piracicaba pelo Partido dos Trabalhadores.