Há quem defenda que a solidariedade tem forças para mudar o mundo. Que a solidariedade é uma dimensão fundamental, trazendo um imprescindível ingrediente de humanidade para a dinâmica das relações sociais é algo inegável. Mas apenas a solidariedade não basta para suplantar estruturas que geram injustiças e muito sofrimento.
O projeto Solidariedade às Marias, que trabalhou na recuperação da casa de dona Cida, moradora do bairro Bosques do Lenheiro, região norte da cidade de Piracicaba, contou, de maneira decisiva, com a solidariedade e generosidade de tantas pessoas. Em um evidente exemplo de solidariedade ativa, o projeto contou com a participação e engajamento de mais de 200 pessoas, que contribuíram com apoio moral, mão de obra e também recursos materiais.
Mas essa solidariedade que recuperou a casa de dona Maria Aparecida é suficiente para resolver o grave problema habitacional na cidade de Piracicaba? Somente no bairro Bosques do Lenheiro são cerca de 10 casas com sérios riscos de desabamento. A cidade conta com aproximadamente 100 comunidades de favela, com milhares de famílias vivendo em condições de extrema precariedade. Como resolver um problema que é crônico na cidade sem uma atuação direta do poder público? Piracicaba tem urgência de políticas públicas que garantam o direito à moradia.
Na mesma medida em que a sociedade se volta para uma solidariedade tão urgente e necessária, amparando pessoas em situação de vulnerabilidade extrema, ela deve também se debruçar no debate das mazelas sociais, buscando saídas permanentes, assentadas em políticas públicas.
Os graves problemas sociais – como o déficit habitacional que atinge a cidade – precisam ser amplamente debatidos pela sociedade em seu conjunto, de maneira a produzir soluções estruturais. A superação da miséria não pode depender de ações de caridade. É preciso construir estruturas sedimentadas no princípio da justiça, capaz de gerar autonomia a todos os cidadãos. As pessoas precisam, sobretudo, de oportunidades para construírem suas vidas com autonomia e plena liberdade. É isso que queremos para Piracicaba e também para o nosso Brasil.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal, campus Piracicaba. Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião.
@Prof_Adelino_