Na época de Jesus havia muitos personagens importantes na religião, entre eles podemos destacar os Escribas, que eram os defensores da Lei, cabendo a eles zelar e atualizar a Lei de Deus. Por isso, exerciam seu papel com a máxima competência jurídica e eram sempre procurados quando havia alguma dúvida em relação às escrituras sagradas. O escriba representava toda honradez e lisura religiosa da época.
Se pudéssemos de alguma maneira localizar os Escribas de nossa época, chegaríamos talvez aos teólogos, estudiosos da bíblia que interpretam o texto santo a partir do estudo sistemático não somente da teologia pura, mas também da sociologia, antropologia ou mesmo da filosofia. Mas também havia os Fariseus, que seriam os religiosos pragmáticos, também zelosos, mas não somente em relação à Lei, sobretudo à hierarquia, à estrutura e principalmente em relação ao sumo sacerdote. Eram homens piedosos (sim, homens, porque as mulheres nem eram contadas, principalmente na religião).
Conhecedores profundos da lei, criteriosos, rigorosos. Esses, se contextualizados, seriam os religiosos ditos carolas, fundamentalistas, rígidos quanto ao testemunho pessoal e implicantes com os que não valorizam tanto a religião institucionalizada. Mas Jesus pouco conviveu com essas pessoas, tampouco com os zelotas, anciãos, levitas, saduceus, publicanos, os doutores da lei ou os sacerdotes. Os relatos bíblicos o mostram em festas, junto do povo, com pessoas simples, se aproximando de aleijados, de prostitutas, de cobradores de impostos corruptos. O povo que o seguiu era a camada mais pobre, marginalizada, oprimida e carente de seu tempo. Uma gente sem saúde, sem roupa, comida, dinheiro e respeito. Jesus andou por estradas poeirentas, pegando milho de plantações que não eram suas pra saciar a própria fome e de quem com ele andava.
Mas “os seguidores” atuais de Cristo, os que figuram na sociedade como os Fariseus e Escribas, apesar de evocar para si o “status religioso” da nação, tem asco do povo e, distantes, descomprometidos da realidade dura e palpável de quem tem o pé no chão, de quem bate massa nas construções, de quem capina terrenos por um prato de comida, ou limpa casa a troco de uma caixa de leite para alimentar sua família, andam de carro caro ou até de avião próprio. Diferentemente dos bem-aventurados, eles não têm fome e sede de justiça, sua justiça é movediça para atender seus interesses; eles não choram, não têm motivo, não se preocupam com o preço do combustível, da cenoura, do gás; eles não têm misericórdia – principalmente de quem não é de sua ideologia política; não são pacificadores, antes pregam guerra, arma e destruição de quem não se submete.
Esses novos Escribas e Fariseus vestem ternos caríssimos e frequentam reuniões políticas com seu “rei” – que pensa ter o controle do Céu e da Terra – frequentam os palácios, mas não para reivindicar direitos e qualidade de vida ao povo que lhes aplaude nos púlpitos. Eles estão preocupados em política, em estratégias eleitoreiras, em poder, em votos. São na verdade uma roda de escarnecedores, onde se escarnece da situação humilhante de milhares de pais de família desempregados, dos muitos que mendigam uma moeda nos sinais das grandes cidades. Esses “religiosos” estão à mesa do “poder” onde se relativiza a vida, onde se negocia favores e privilégios, onde se zomba do nome de Deus.
Prof. Dr. Rev. Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.
Imagem de capa: Cristo e a Acusada (1565) – Pieter Bruegel