Piracicabanos lançam o disco O Samba da Gente

Piracicabanos lançam o disco O Samba da Gente

Numa composição que atravessa gerações, João Bosco e o saudoso Aldir Blanc, que faleceu em maio de 2020, vítima da Covid-19, escreveram: “A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar” e sob os embalos da canção que se tornou um dos sucessos interpretados por Elis Regina, a arte feita pelos piracicabanos André Bertini e Saulo Ligo segue se equilibrando em meio ao cenário pandêmico que assola todo o país. No próximo sábado (27), eles iniciam uma série de apresentações virtuais para lançar o disco O Samba da Gente, um alento cultural em meio a tantas notícias tristes.

Fruto de uma parceria de anos, repleta de composições e melodias feitas pela dupla, o disco é composto por 11 faixas e o projeto foi aprovado via chamamento público pela SemacTur (Secretaria Municipal da Ação Cultural e Turismo) por meio da Lei Aldir Blanc nº 14.017/2020. “O título é o nome da última música do disco. É um samba que fecha uma linha narrativa de um personagem que vive uma desilusão amorosa e sai pela madrugada para afogar suas mágoas, conhecendo outros personagens que passam por situações semelhantes. O Samba da Gente é o samba que marca o território dentro de uma disputa afetiva, onde cada uma das partes tem a sua verdade. O Samba da Gente é a nossa verdade”, contou Bertini.

A história que conecta as faixas do disco acabou sendo uma “coincidência” que deu certo, como explica Saulo Ligo. “No processo de composição não tínhamos reparado nessa trama narrativa. Geralmente eu enviava um áudio cantarolando a melodia para o André, buscando às vezes fazer sambas que tivessem uma referência clara da nossa predileção de compositores como Cartola, Gudin, Paulinho da Viola, Candeia. Eu fiz as melodias e o André as letras. Exceto na primeira faixa, ‘Buquê, onde dividimos letra e melodia. Fiz a parte A e André a parte B, mas pela intimidade da amizade, sempre vamos dando pitacos na composição um do outro”, disse.

Em tempos de isolamento social, a arte tem sido uma das “válvulas de escape” para a população. “Acho que a música e as artes nunca foram tão importantes quanto neste momento que vivemos. Imagino o que seriam esses dias de isolamento sem uma música para ouvir, um filme pra assistir, etc. Falando da música especificamente, acredito que ela consegue traduzir e expressar sentimentos que são difíceis de compreender por vezes, fazendo uma fundamental sinapse das abstrações que a vida tão material não permite”, falou Ligo.

Para André, a arte é uma forma de existência. “A arte existe para que a humanidade possa existir. É o grito de expressão do ser humano, sua bandeira de guerra. É a trapaça que inventamos para vencermos a morte. Pelo menos, naquele momento de catarse, não há espaço para ela. Afirmarmos isso, no nosso caso através da música. É um privilégio e uma honra imensa, ainda mais em um momento tão difícil”, definiu.

A LEI

Com atraso para auxiliar o setor cultural, um dos mais afetados pela pandemia, a Lei Aldir Blanc nº 14.017/2020 foi aprovada em junho pelo Congresso Nacional, mas recebeu a regulamentação do governo federal apenas em agosto.  “A movimentação das classes econômicas cria uma relação complexa para o campo artístico, já que a arte permite que ela seja expressa de muitas formas, muitas vezes amadora e mesmo assim não deixa de ser uma relação profunda. Mas em termos de classe, a arte e no nosso caso a música, sofre com a burocratização e a falta de legislação que permita que esses acessos sejam garantidos. Eles poderiam ser estruturados pensando numa melhor circulação de obras pelas mídias, mais inclusiva e diversificada, mas para isso precisa avançar nas políticas públicas. A Lei Aldir Blanc está sendo importantíssima nesse sentido e está criando uma grande rede de financiamentos, muito capilarizada e heterogênea, porque engloba toda a cadeia de produção e distribuição. Nós, neste momento, somos gratos à Lei Aldir Blanc pela possibilidade de produzir o álbum O Samba da Gente”, disse o músico Saulo Ligo.

LANÇAMENTO

O lançamento do disco digital acontece no dia 4 de abril. Antes, diversas apresentações serão realizadas pelo canal da produtora Miolo Musical, no YouTube. A primeira está marcada para sábado (27) e as próximas nos dias 2 e 3 de abril, sempre às 19 horas. O trabalho dos músicos também pode ser acompanhado pelo Facebook e Instagram.


Matéria: Carol Castilho, co-editora do Diário do Engenho.

Foto: Samuel Rodrigues.

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