“O Pão e Circo do Século XXI” – palavra do leitor

A política do Panem et Circensis – ou Pão e Circo, como é conhecido atualmente – é um modo de governo milenar criado na Roma dos Imperadores, por volta do Século I a.C, com a função de entreter os romanos através de jogos que aconteciam em arenas ou circos, nas grandes cidades do Império Romano. Esse entretenimento fazia os romanos esquecerem das mazelas e da desorganização daquela sociedade disfuncional – que sobrevivia com base no sangue e sofrimento de outras pessoas – fosse através da luta dos gladiadores ou da aniquilação dos povos “bárbaros.” Todavia, e pensando-se agora em nossa sociedade atual, tal ocorrência acaba por nos propor uma questão: como sociedades ditas democráticas, onde teoricamente não existem imperadores e onde segundo muitos não existem opressão, podem estar seguindo um modelo opressivo tão antigo como Panem et Circensis?

A resposta é: o “Pão e Circo” nos dias atuais geram lucros, além de uma população mais suscetível a manipulações feitas por governantes mal-intencionados e empresas bilionárias que lucram ao empurrar seus produtos, de qualidade nem sempre boa, para consumidores suscetíveis ou – conforme alguns dizem – alienados (termo latino amplamente usado por Marx no desenvolvimento de sua teoria, durante o Século XIX). Alienados esses que aceitam tudo passivamente e não se incomodam com tal condição de vida. Mas como nessa “democracia,” na qual o mundo está imerso, o “Pão e Circo” pode estar ocorrendo com a população passiva, sem questionar-se sobre o tema?

Então, analisemos a teoria criada nos anos 20, pelos estudiosos alemães da Universidade de Frankfurt: Theodor Adorno e Max Horkheimer, criadores do movimento filosófico batizado como Escola de Frankfurt. Segundo esses filósofos do inicio do século passado, o mundo está seguindo uma “Indústria Cultural,” um comércio que hoje movimenta bilhões e nos vende a cultura como mercadoria – não só na forma de músicas, novelas, filmes ou outros produtos, como futebol e a Formula 1 (que, mesmo não sendo produtos da arte, são produtos do esporte) tão alienantes quanto os de origem artística. Porém, os empresários por trás de tal Indústria Cultural também realizam muita publicidade e marketing, não só em relação aos artistas que patrocinam, mas também por meio das propagandas dos produtos que vendem (levando muitos fãs a comprarem toda uma série de produtos apenas porque tais produtos apresentam uma celebridade — também integrante dessa indústria cultural – divulgando-os.

Peguemos, como exemplo, o futebol e a Formula 1 (esportes muito chamativos, que atraem a atenção de milhões de pessoas mundo afora e que podemos comparar, por sua influência, à luta dos gladiadores romanos). Há entre esses esportes apenas uma diferença especial, a qual as pessoas que acompanham futebol e Formula 1 já devem ter notado: o volume financeiro envolvido com patrocínios e vendas de produtos oficiais e que, consequentemente, beneficia um determinado piloto, escuderia ou time de futebol. Tais personagens, que ganham tais competições, se comparados a seus adversário nem sempre são os melhores, mas são os mais atraentes, devido à pressão de patrocinadores por determinada vitória (sem contar as pessoas que passam a viver cegamente por acompanhar esses esportes, esquecendo de pensar em assuntos de maior necessidade como a política, por exemplo, além daqueles que compram produtos e aumentam os lucros bilionários das corporações envolvidas em divulgar-se nessas competições, a pessoa compra somente por ter visto a propaganda no carro de um grande piloto ou na camisa do seu time preferido).

Essa “Indústria Cultural” também produz arte, com seus cantores e bandas pré-fabricados, histórias mentirosas vendidas em novelas, filmes e livros criados pelo apelo mercadológico com a função de gerar lucro (e fazendo surgir fãs que perseguem esses “artistas” de maneira alienada). Peguemos como exemplo Justin Bieber, cantor fabricado para milhões de fãs ao redor do mundo – na maioria, garotas que gritam histericamente por ele –, fãs que não possuem e talvez nunca possuam a formação cidadã decente (afinal, essas pessoas – em sua maioria – costumam pensar em aumentar os lucros dessa indústria, e acabam por esquecer de refletir sobre o que é melhor para si e para sua comunidade).

Por fim, tenho de concordar que o homem sempre pensa apenas em viver numa cultura na qual se valoriza o individualismo e o consumismo, fazendo com que o Panem et Circensis ou Pão e Circo continue presente tão fortemente quanto o era no período dos gladiadores, há cerca de dois mil anos atrás.

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O  autor:

 Leonardo Maluf é aluno do ensino médio do Dom Bosco Assunção.

8 thoughts on ““O Pão e Circo do Século XXI” – palavra do leitor

  1. Prezado Leonardo,

    Sua reflexão destaca alguns pontos fundamentais, denunciando estratégias de massificação, alienação e difusão de ideologia. A saída que temos é a reflexão crítica e problematizadora. Parabéns!

    Esteja bem!

  2. Estimado Leonardo;

    Que maravilhosa e providencial reflexão, fico feliz por constatar que um Jovem com tenra idade, possa nos brindar com um texto tão brilhante. Parabéns.

    Abraço

    Gabriel

  3. Viva ao Colégio Salesiano Dom Bosco,

    Parabéns ao Jovem Leonardo, há
    muito tempo nossa raça sofre com a orientação planejada pelo “pão e circo”.

    Eder

  4. “Individualismo e consumismo…” nas palavras desse jovem devemos nos alertar para a solidão consumista.

    Não sobra nada para a decisão isenta…

    Parabéns Leonardo.

    Maurício

  5. Lendo a que escreveu Leonardo, constatei o quanto é grave em todo esse processo, a projeção dos piores, menos talentosos, medíocres e até desprezíveis. Tudo em nome da dominação cega e surda.

    Devemos reagir com inteligencia questionativa, assim como fêz o proprio Leonardo.

    Parabéns – Murilo

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