No atual momento político brasileiro, não é tarefa fácil celebrar o dia do professor. Talvez nem mesmo nos anos de chumbo, de endurecimento da ditadura militar, a educação esteve tão fortemente sob ataque. Há um projeto em curso, que visa destruir toda a estrutura de ensino e pesquisa no país. O professor foi alçado ao nível de inimigo público, sendo inclusive tratado de maneira jocosa por autoridades públicas. Inacreditavelmente, instaurou-se uma espécie de doutrina política do Estado contra a educação, que criminaliza e persegue os professores, especialmente da área de humanidades.
Diante da grave crise em que se encontra a sociedade brasileira, submersa em um esgotamento político-econômico – decorrente de uma decisão eleitoral marcada por manipulações e das perversas políticas neoliberais –, a educação descortina-se como o mais importante caminho, capaz de abrir perspectivas para uma sociedade estagnada e perplexa. O fato é que não se constrói um país autônomo e soberano sem se colocar a educação como base de todo processo. O tema da educação configura-se como central para se vislumbrar novas dinâmicas sociais, ancoradas nos princípios de democracia e cidadania.
Na era da informação, não é raro se ouvir prognósticos anunciando o lugar obsoleto do professor. Em tempos de obscurantismo e anti-intelectualismo há quem decrete, inclusive, a aposentadoria dos próprios livros. Longe disso, deparamo-nos com sociedades cada vez mais carentes e vazias de mestres. Situa-se aqui a imprescindibilidade do professor como experiente formador, capaz de caminhar ao lado do aluno, ainda em incipiente trajetória, a intermediar a construção do conhecimento. O professor pode orientar, ajudar a discernir princípios, fomentar a curiosidade e formar para uma compreensão crítica e problematizadora da realidade. O aluno, sob o auspício do mestre, pode avançar em direção a um saber significativo, habilitado a recriar as relações humanas e a vida em sociedade.
A dimensão ética da atuação do professor descortina-se por meio de uma postura comprometida e engajada, com profundos desdobramentos políticos. A ética não se faz presente apenas no cumprimento de responsabilidades profissionais – o prévio preparo de aula, a assiduidade, a orientação criteriosa – mas alcança e contempla também o senso de responsabilidade diante dos rumos e diretrizes sociais. O professor constitui-se como sujeito que reflete, pensa, discursa, escreve e articula, acenando para formas cada vez mais democráticas de vida em sociedade. É evidente a contribuição social do professor, cioso das implicações políticas de seu ofício.
O professor deve assumir o magistério como um autêntico legado, consciente de que seu ofício cotidiano alcança a magnitude de formar pessoas, sobretudo tocadas pela sensibilidade estética, guiadas pela dimensão ética, ávidas por um saber denso e significativo, aptas a compreender a escolha profissional como possibilidade de potencialização das mais legítimas aspirações do humano. O magistério atinge extrema relevância quando pensado em um mundo a conclamar por um sujeito que forma, sensibiliza para valores, incrementa o olhar para a cultura e para o refinamento do conhecimento.
Desvela-se como imprescindível repensar a educação, tomada em sua totalidade – seu viés técnico, humanista e político. A articulação destes elementos pode conceber um processo formativo que fortalece o compromisso ético com o outro e com a sociedade. De maneira contundente, o processo de formação deve avançar no fortalecimento de princípios fundamentais, a tecerem o ideal de justiça social, no desejo de exercício da cidadania política, na tolerância às diferenças, na ação engajada de participação nos rumos políticos do país e na defesa da vida e da dignidade humana. Como indicava e nos ensinava Paulo Freire, a pratica educativa lança as bases e as condições para o exercício efetivo da democracia, consolidando o afeto e a solidariedade para a construção de uma nova sociabilidade.
Adelino Francisco de Oliveira é professor no Instituto Federal, campus Piracicaba. Doutor em Filosofia e Mestre em Ciências da Religião.