As parábolas contadas por Jesus foram importantes para transmitir ao povo a essência daquilo que seria o evangelho, a boa nova, a nova filosofia de vida preconizada por ele. Todas elas serviam para contextualizar, para colocar na prática, na vida, sua pregação.
Foi assim que contou a história de um homem que foi assaltado enquanto viajava, sendo deixado jogado a beira da estrada machucado e sem condições de seguir sozinho a viagem. Depois daquilo, o relato diz que três pessoas passaram por ele. Um sacerdote, ou seja, aquele que oferecia sacrifícios no Templo, portanto, um símbolo importante da religião daquele tempo; um Levita, que era das pessoas que trabalhavam no Templo, também com um cargo proeminente na religião e, finalmente, um samaritano. Os samaritanos, assim chamados por serem de Samaria, eram também religiosos, também cumpriam as leis, no entanto se opunham “teologicamente” aos judeus. Talvez por isso, eram pessoas discriminadas, erradas, confusas religiosamente para os judeus. Eram deixados de lado e menosprezados, pessoas que deveriam ser mantidas a distância, e foi justamente um deles que, na parábola contada por Jesus, salvou o homem jogado na estrada.
Jesus enfatizou que, enquanto o Sacerdote e o Levita, ícones da religiosidade, se afastaram, passaram ao largo, cortaram volta, o Samaritano parou, foi misericordioso com o ferido, limpou seus machucados, deu-lhe remédios, colocou-o sobre seu próprio animal, o levou até a cidade, colocou-o numa hospedaria, pediu ao hospedeiro que cuidasse dele, deixou dinheiro para isso, e disse que voltaria para pagar o mais que fosse necessário. Jesus usou a imagem de um samaritano, um rejeitado e desprezado daquele tempo para dizer às pessoas da sociedade e da religião, qual seria o ponto, o alvo, o fator que transformaria realmente a vida: a bondade!
Infelizmente, vivemos um tempo de feridos e abandonados. As estradas da vida estão repletas de pessoas deixadas, que de alguma forma estão sangrando, desprezadas e humilhadas. Em muitas situações somos tentados a voltar nossa preocupação para o ladrão, o salteador, aquele que provocou a desgraça de tantos rejeitados. Pensamos na lei, na política, na implantação da justiça social, que realmente são importantes e têm sua tarefa. Atacamos os Sacerdotes e os Levitas que vivem cortando volta, mudando de calçada para certos assuntos, preferindo o conforto do quarto de oração do que o risco da palavra profética e da denúncia. Apontamos para todos, mas esquecemos de nós, do nosso animal, do nosso remédio e do nosso dinheiro. Outro dia, um apresentador muito famoso disse que “ninguém é rico num país onde existam miseráveis”, ninguém pode andar tranquilo numa estrada onde se encontrem pessoas sangrando, à margem, ninguém pode sentar à mesa em paz, num mundo onde exista quem não tem um pão para saciar sua fome.
Não é mais possível aos ricos cortar volta da pobreza que ainda existe. Não é possível aos padres, aos pastores, aos pais de santo, aos rabinos, e tantos outros líderes espirituais, desviarem das crises enquanto alguém sangra. Não é possível a cada um de nós nutrirmos a indiferença diante de um necessitado. É preciso parar, descer do cavalo, ajudar, dividir. Jesus quis, através desse conto, mostrar justamente isso, que está em cada mão, em cada bolso, em cada consciência a escolha entre a ganancia e a generosidade, a frieza e a bondade. O mundo novo, o mundo do novo normal, necessita, urgentemente, do novo bom samaritano, para ressignificar a vida, para reorganizar os sentimentos e para nos fazer seres realmente humanos.
Precisamos seguir o exemplo do Cristo que não somente se envolveu com os rejeitados sociais, mas se colocou em seu próprio lugar e nos espera, ansioso, para nos dizer: “… tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram” (Mt 25:35,36).
Reverendo Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.
Uma ótima leitura e reflexão! 👏👏👏
Obrigado por uma reflexão tão preciosa e oportuna do que é a vontade de Deus para todos nós especialmente Igreja(noiva de Cristo) da qual Ele é o cabeça