Minha filha, meu filho, o natal está chegando. Se prepare! Para quem gosta de natal, essa é a hora de começar os preparativos. Mas, para falar a verdade, o clima natalino dos últimos anos me irritou tanto que eu, para este ano, já estou com o saco mais cheio de natal do que o do bom velhinho depois da invenção da pílula azul. Não que eu não goste do natal. Mas é que no Brasil ele anda muito “Ilha de Caras” para o meu gosto. Muito Amaury Jr., entende? As pessoas transformaram o natal numa época de colunas sociais e badalação. Para falar a verdade, acho até que estamos na era do natal fashion – já reparou? Até moda natalina existe. É sério! Ontem vi na TV uma fileira dessas modelos magricelas desfilando a “última tendência da moda para o natal 2012” – pode? E o pior era que as pernas das famintas eram tão fininhas que, de longe, mais pareciam uma dúzia de patas de renas. E a mamãe Noel, então? Pele e osso daquele jeito? Coitada. Só sendo mamãe Noel de país faminto, mesmo.
O fato é que o natal de hoje não tem mais a graça dos natais de antigamente. Sabe aqueles natais em que a gente era criança e os gastos com a ceia e compra de presentes ficavam todos por conta dos adultos? Pois, é. Eram tão bons, não? Eram perfeitos! A gente ganhava um monte de presentes e não desembolsava um tostão. Hoje, além de pagar a conta, tem de se enfrentar sempre uma imensa fila para tudo. Poxa. Nunca vi uma época do ano para ter tanta fila. É fila no supermercado, na padaria, no mercado municipal, nos bancos, nas lojas. Tem tanta fila que, se bobear, você entra numa fila sem querer. Outro dia eu estava em pé, numa padaria, conferindo o troco, quando de repente percebi três ou quatro pessoas atrás de mim – todas pensando que eu estava abrindo uma fila para qualquer coisa. E o pior é que, no Brasil, fila virou sinônimo de desconto ou promoção. Repare bem. Um produto pode até ser mais barato do que o outro, mas se não existir uma boa filinha em torno dele, então todo mundo desconfia que deva estar mais em conta em outro lugar. Promoção que é promoção tem de ter fila.
Pior do que fila para comprar presente é a fila, depois do natal, para trocar o presente que você ganhou e não serviu para nada. Aliás, tem gente que, como eu, há tempos não ganha nada que preste. No ano passado, por exemplo, eu ganhei um livro excelente sobre como fazer cervejas. Não é ótimo? Isso por que eu não bebo – e, mesmo que bebesse, não ia ser louco de perder dias preparando cerveja sabendo que o posto aqui do lado vende qualquer latinha gelada a preços bem refrescantes (desde que você espere alguns minutos na fila, é claro). Meu amigo secreto, por sua vez, me deu uma colher de sorvete. Fiquei pasmo com a criatividade dele: isso é que é saber escolher presentes. Fiquei imaginado ele na loja, olhando pra colher de sorvetes na prateleira e pensando: “ah, isso tem a cara do Genésio!” Para completar, ganhei também um peixe eletrônico desses que canta quando a gente bate palmas ou faz barulho diante dele – sabe qual é? Fantástico. Aliás, quem quiser ficar com ele é só me mandar o endereço que eu o envio pelo correio – com frete pago e uma colher de sorvete de brinde.
Mas o melhor de o natal chegar logo é que ficamos cada vez mais perto do réveillon. Não que eu goste de réveillon. Muito pelo contrário. É que no réveillon a gente pode ver na TV uma série de reportagens sobre as pessoas que foram passar o fim de ano na praia e acabaram ficando horas presas nos engarrafamentos das estradas – sem contar aquelas matérias sobre falta de água no litoral, surtos de intoxicação, viroses, assaltos… Daí, então, a gente pensa que o natal não foi tão ruim assim. Depois, dá até uma melancoliazinha triste e que acompanha a gente até o natal do próximo ano – não é não? E como o tempo passa voando, daqui a pouco o natal já está aí outra vez e a gente começa tudo de novo. Por isso, agora, o melhor é fazer como a minha tia velha: o negócio é tirar do armário aquele presente que a gente guardou do ano passado e repassá-lo a outra pessoa este ano.
——————————————————-
Genésio de Jesus é cronista, amigo secreto dedo-duro e papai-noel aposentado das Lojas Pernambucanas.