O mês dos professores: entre felicitações e reflexões

O mês dos professores: entre felicitações e reflexões

No último dia 15 comemorou-se o dia do (a) professor(a). Em razão disso, viu-se pelas mídias sociais homenagens de diferentes aspectos. Mas será que os professores têm algo a comemorar? Pelo que tenho acompanhado pelas análises da conjuntura política e econômica, os(as) professores(as) não têm muito a comemorar, não.

No dia do professor, estive na Escola Estadual Pública Hélio Penteado, mas não apenas para reverenciar aos (às) professores(as) como a categoria mais importante da nação (já que produzem e compartilham diferentes saberes e conhecimentos que vão desde a alfabetização aos níveis de formação e pesquisa científica). Estive lá, também, para discutir com a comunidade escolar sobre a violência que tem tomado conta das escolas públicas estaduais de São Paulo. 

Fato é que, no Brasil, com raras exceções, os professores não têm o menor reconhecimento e respeito da sociedade para a qual tanto se dedicam – e isso vem de longa data. No entanto, em se tratando de professores das escolas públicas mantidas pelo governo do Estado de São Paulo a situação se complica ainda mais, uma vez que o próprio estado sucateia suas escolas e não prestigia ou investe em seus professores. Para esses “governantes,” a educação pública não é prioridade – e a prova disso pode ser vista na precariedade da educação no estado: escolas sem infraestrutura adequada, salas de aula com superlotação, poucos funcionários, salários baixos, jornada de trabalho extenuante– de até três turnos e em diferentes escolas.

No âmbito nacional, o ataque à educação tornou-se estandarte de guerra dos desgovernos que sucederam a presidente Dilma. O congelamento dos recursos destinados à educação –previsto para acontecer ao longos do próximos 20 anos –através da “PEC DO MAL”, de 2016, e o contingenciamento de outros recursos públicos previstos em lei, como os que ocorreram neste ano de 2019 (agora tardiamente descontingenciados) comprometem sobremaneira a qualidade do ensino em todos os seus aspectos – além de inibirem, desestimularem e desestruturarem àqueles que vivem e se dedicam à educação pública.

Uma escola que não oferece um ambiente saudável para a práxis educacional tem tudo para se tornar um ambiente não-receptivo, não-motivador para quem nele trabalha ou estuda. Consequentemente, pode-se abrir aí uma vala de oportunidades para a prática de violências e delinquências entre outros atos reprováveis e criminosos. Não por acaso, as notícias dos inúmeros casos de violência contra os (as) professores (as) praticados pelos estudantes pelo país afora é aterrador. As formas dessa violência são as mais diversas – física, moral, verbal etc. De acordo com os dados levantados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2013, após ter ouvido 12,5% dos professores brasileiros do ensino médio, esses relataram que são vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos ao menos uma vez por semana. Tal resultado coloca o Brasil como líder no ranking de violência contra os professores.

Uma das faces da dinâmica de tal violência está também, mais atualmente, no uso de aparelhos celulares em sala de aula. Com os celulares em mãos, os (as) alunos (as) podem fotografar professores (as) e ou gravar aulas. No entanto, já há inúmeros casos em que tais gravações foram utilizá-las como forma de ameaça, chantagens e intimidações de professores (as) com os (as) quais alguns alunos têm diferenças pessoais ou divergências ideológicas – que estão, aliás, relacionadas ao gênero, à questão étnico-racial, a modelos/metodologias educacionais, aos defensores do “Escola sem Partido”(defendido pelo governo federal em exercício) entre outros.

Foi devido a um fato dessa natureza que fui convidada para, no dia 15, participar do diálogo com os alunos (as) e professores (as) da pública estadual Hélio Penteado, quando então abordamos juntos o tema da violência cibernética e as suas consequências – mas também dialogamos acerca de outros tipos de violências ocorridas no cotidiano escolar – como a violência, espelho do machismo de nossa sociedade, que é praticada contra a mulher professora.

Entendemos que entre as medidas para combater a violência contra os (as) professores (as), bem como outras violações de direitos, estão o contínuo diálogo entre alunos (a), professores (as), pais e mães, criando, assim, um ambiente de respeito mútuo e saudável, isento de preconceitos e machismo. Também se faz necessária a organização das entidades representativas da categoria e comunidade, para, juntos, reivindicarem dos governantes a melhoria de infraestrutura escolar, a contratação de mais funcionários (as), melhores salários e a formação continuada dos (as) professores (as). Tais medidas trariam, com certeza, melhorias para a escola e aumentariam em muito a qualidade de ensino.

Igualmente, acredito que estimular e propiciar a participação dos (as) alunos (as) no mundo das artes, da cultura e da política pode resultar em mudanças de valores e perspectivas de transformadoras de suas vidas. A chama, o vigor, a criatividade e a esperança são as forças motrizes da juventude, e para mantê-las acesas e vivas faz-se necessário que elas sejam nutridas e estimuladas, sob pena de o futuro – sem elas – estar comprometido, o que consequentemente comprometerá a própria nação.

Não há desenvolvimento sócio-econômico-político-cultural-intelectual em um país sem que haja investimentos em educação e cultura. E sem que haja um imenso respeito pela escola e pela figura do (a) professor (a).

Rai de Almeida é advogada.

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