O assim chamado mercado anda muito nervoso ultimamente no Brasil. O volume de negócios da bolsa de valores despencou, as ações perdem valor e a cotação do dólar dispara. Esse nervosismo reflete a disputa eleitoral acirrada entre o projeto democrático popular e o projeto ultraliberal e – a cada pesquisa de intenção de voto – o chilique aumenta.
O mercado, que tanto encanta a Miriam Leitão e outros analistas da mídia oligopólica, não é o mercado popular – simbolizado pelos supermercados, pelas feiras livres, pelos shoppings, pelos botecos, pelas livrarias, pelas padarias, pelas filas do SUS e dos hospitais, enfim, pelo dia-a-dia das pessoas. Também não é o mercado da compra e venda de matérias primas, da contratação de trabalhadores, para a produção de bens e serviços para usufruto da sociedade.
Embora tudo esteja interligado, o fato é que o mercado que está tendo chilique é o mercado financeiro, que envolve os bancos, outras instituições financeiras e os rentistas em geral. Na verdade, é o mundo dos já muito ricos, uma minoria de privilegiados, desejosos de ganharem mais dinheiro e alheios ao interesse nacional. Desse clube fechado e privilegiado não participam os setores populares, que constituem a maioria esmagadora da população; afinal de contas, o povo lá tem algum vintém para comprar e especular com as ações da Bolsa e com dólares?
O mercado financeiro é o coração do sistema capitalista contemporâneo. As emanações do seu comportamento expressam o jogo pesado dos interesses das grandes corporações, controladas pelos bancos, ávidos pela pilhagem das riquezas disponíveis em todo o mundo, sobretudo nos países periféricos. Por essa razão, brandam e agem tresloucadamente pela desregulamentação plena das relações econômicas, pelas privatizações, pelo estado mínimo, pela perda e/ou precarização de direitos trabalhistas e previdenciários, pelo desmonte, por fim, de qualquer ilusão de um Estado de Bem Estar Social.
Para esses interesses, é fundamental deixar o caminho livre para submeter as riquezas naturais e a economia das nações ao seu jugo egoísta. Por essa razão, investem contra as instituições democráticas e o Estado Democrático de Direito, demonizando a política, capturando o Parlamento e o Judiciário e, se necessário, promovendo o fascismo e a barbárie.
A esquerda ameaça os interesses simbolizados pelo mercado porque está determinada a governar para a maioria da população – a base da pirâmide social e os setores médios, que incorporam os pequenos e médios empresários -, o que significa, sem meias palavras, contrariar os interesses da elite do dinheiro.
A esquerda quer governar promovendo a democracia, ampliando direitos, diminuindo as desigualdades econômicas e sociais e fazendo a transição ecológica. Para esse desiderato, considera imperativo realizar reformas estruturais, entre elas, a reforma do Estado (aí incluída a reforma do Judiciário), de modo a romper a sua estrutura oligárquica; a reforma tributária, com vistas a concretizar o princípio de que quem tem mais paga mais; a reforma da mídia, para democratizar a prestação da informação; a reforma política, para que o exercício do poder expresse a real correlação de forças na sociedade.
A polarização crescente no atual cenário eleitoral no país está colocando a nu o que verdadeiramente está em jogo na disputa. O chamado mercado, incensado pela grande mídia, vem acenando e tecendo loas ao candidato da ultra-direita, mesmo ciente dos riscos para a democracia e para a paz que essa opção representa. Para esse ente doentio e fantasmagórico, contudo, pouco importa a democracia – aliás, aos seus olhos turvos, ela se constitui num estorvo ao saciamento do seu apetite.
O crescimento das intenções de voto no candidato que clama por direitos, pela soberania nacional e pela democracia traz alento e esperança, mas causa arrepios e desespero nas hostes que apostam na barbárie.
O mercado está nervoso. O triunfo da democracia será o melhor antídoto para restabelecer sua calma.
José Machado (PT) foi deputado estadual, deputado federal por dois mandatos e prefeito de Piracicaba por duas vezes.
Parabéns, José Machado!