O fact-checking e o combate à desinformação

O fact-checking e o combate à desinformação

A pandemia do coronavírus é uma das maiores tragédias de todos os tempos e tem deixado um rastro de mortes e muitas lições. Uma delas é a de que a desinformação atua como um vírus, se expande rapidamente e também mata. É neste contexto que se celebra, neste 2 de abril, o Dia Internacional da Checagem de Fatos.

O fact-checking é uma metodologia de verificação de informações de interesse público que circulam na mídia, tanto na imprensa quanto nas redes sociais. E o seu objetivo é conter a disseminação de informações falsas, sobretudo aquelas que viralizam e têm potencial de causar danos individuais ou coletivos.

A atividade ganha destaque com a criação, em 2015, da IFCN (International Fact-Checking Network), que reúne mais de 150 instituições, iniciativas organizadas por veículos de mídia, ONGs e universidades. No Brasil há mais de uma dezena, entre as quais Lupa, Aos Fatos, Fato ou Fake, Estadão Verifica e Uol Confere.

A contribuição mais importante da IFCN é o código de ética para o fact-checking. O documento consagra princípios como a transparência em relação à metodologia de trabalho, ao financiamento e às fontes utilizadas. E também impõe aos checadores a necessidade de se manter o apartidarismo e uma política pública de correção de erros.

A verificação constitui a base do jornalismo, atividade essencial para o funcionamento das sociedades democráticas e que tem na credibilidade seu maior patrimônio. Por isso é crescente o número de empresas jornalísticas que incorporam o fact-checking, como gênero ou editoria. Mas, alguns dos seus princípios são desafios ainda, como a transparência em relação às fontes e às formas de financiamento, e políticas de correção pública.

A celebração é importante, mas o momento também é de alerta. O alcance do fact-checking ainda é pequeno e na maioria das vezes não se atinge as populações que mais precisam, aquelas que são as mais bombardeadas por informações falsas. É preciso melhorar no campo da linguagem, dos formatos e da monetização e, apesar dos avanços na legislação sobre transparência, o acesso a dados sobre gestão pública, em todos os níveis, ainda é precário.

O combate efetivo à desinformação exige um conjunto de ferramentas e a checagem de fatos é apenas uma delas. As ações incluem aprimoramento na legislação, tecnologia, colaboração e, o mais importante, a conscientização das pessoas. Sem a adoção da educação midiática como política pública, em todos os níveis, não se obterá uma transformação efetiva da realidade.


Paulo Roberto Botão é jornalista e mestre em Comunicação Social

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