“Não há caminhos retos no mundo.”
Mao.
Tenho insistido que, curiosamente, essa é a aliança mais à esquerda do PT desde 2002. Muitos analistas de “esquerda” não têm sopesado a proporção dos fatos e das coisas de modo justo. Isto é, avaliado o significado político objetivo à luz da correlação de forças em presença. As alianças partidárias vitoriosas do PT (2002, 2006, 2010, 2014) eram além de mais heterogêneas, eram também politicamente mais frouxas. Dito isso, farei algumas breves considerações ao nível da cena política atual.
1) Quero dizer de partida o óbvio, que Alckmin como vice não é o PSDB. Aliás, este atravessa uma “crise catastrófica” como organização partidária desde 2014, pelo menos, agravada fortemente a partir de 2018, e caminha para se converter em mais um “partido de patronagem”.
2) Alckmin, para integrar a chapa presidencial com Lula, se viu na necessidade de mover-se para a “esquerda” em relação à sua trajetória político-partidária: ingressar no PSB.
3) Aqui está o núcleo da questão que tem polarizado setores considerados “mais à esquerda” da direção petista, dentro e fora do partido: “Alckmin seria uma espécie de risco eminente a um futuro governo Lula”. Bem, é preciso aqui considerar que Alckmin é um recém-chegado, num partido estruturado e com hierarquia organizacional definida e consolidada, para qualquer eventual e hipotética intenção de golpear por dentro o provável terceiro governo Lula, à moda de Temer, exigiria no mínimo um controle político absoluto (além da intenção) de Alckmin sobre o seu novo partido, o PSB. O que não é impossível, porém improvável até onde os fatos permitem ver.
4) É preciso estabelecer a justa relação entre a personagem política, Alckmin e o seu partido, o PSB. Qual é o fator principal na relação política entre o dirigente/ quadro e a organização partidária? Supor que o indivíduo é mais determinante no processo político do que as organizações coletivas (partidos, sindicatos etc.), – por mais que saibamos que o processo político no capitalismo tende a privilegiar a personagem política, o fenômeno político capitalista típico do personalismo político (a figura do líder, do dirigente) em relação aos partidos, proceder dessa perspectiva é uma inversão analítica que vai na contramão da tradição teórica do materialismo histórico.
5) Para qualquer plano golpista por parte da direita neoliberal tradicional, esta se deparará com uma força política (concorrente) muito mais ativa, o bolsonarismo, com base de massa mobilizada, potencial e comparativamente mais preparada para essa operação política.
6) A priori, Alckmin e mesmo seu partido não dirigem no plano da cena política a frente partidária que sustenta a candidatura Lula e Alckmin.
7) Por fim, a manobra política do PT/Lula para operar a composição da Chapa Lula e Alckmin produziu efetivamente uma desorganização política das pretensões eleitorais da famigerada “terceira via”, na verdade a direita neoliberal “tradicional”. Importa sublinhar que Alckmin era potencialmente o mais forte nome para uma tentativa eleitoral minimamente exitosa da “terceira via”; basta observar os nomes ventilados por esse campo político: Doria, Tebet, Leite, Moro, Bivar, Janones, são todos nomes irrelevantes nacionalmente.
Portanto, a manobra política petista sob liderança de Lula foi sumamente exitosa até o momento, liquidando provavelmente a constituição de uma candidatura neoliberal tradicional com algum grau de competitividade eleitoral.
Koba é colaborador do Diário do Engenho.