Somos dependentes de heróis! Não é à toa que os filmes americanos fazem tanto sucesso. Gostamos de “Batman’s,” “Superman’s,” Mulheres Maravilha, Capitães América… pessoas que voam, que usam capas e botas e têm poderes sobrenaturais. Apostamos sempre em algum “Salvador da Pátria” esperando que, na última hora, alguém surja do céu nos colocando em dúvida se “é um avião ou um homem, ou um pássaro” e, enfim, nos resgate da tragédia final.
Por isso, elaboramos estereótipos ideais, construímos personagens perfeitos. Apostamos nossas fichas na pureza, na honradez, na honestidade e no bom caráter de um aqui, depois de outro ali, damos a vida, brigamos, nos indispomos, discutimos, até nos decepcionarmos para novamente encontrarmos outra imagem, outra ilusão que nos dê esperança de que tudo voltará ao lugar certo. Vemos coisas que não existem, ouvimos notícias como queremos, encontramos qualidades que não correspondem aos fatos, mitificamos, idolatramos e até divinizamos. Esquecemos os conselhos do poeta alertando que “todo mundo faz pecado logo assim que a missa termina”. Preferimos repetir, o tempo todo, que “a bailarina que não tem” defeitos!
Essa é nossa ilusão e nossa tragédia. Vivemos de “dourar pílulas”, levantando bandeiras de personagens imaginários, santificados por nossa falta de realismo. Temos medo de criticar e questionar os heróis que vivem em nossos sonhos por não aceitarmos que sejam mortais, que sangrem, que cometam erros, que tenham deslizes e que sintam dores. Preferimos não ver. Fechamos os olhos para a natureza humana de quem elegemos para não cairmos novamente decepcionados e desiludidos. Mas essa falta de realismo, que faz com que os olhos, os ouvidos e a capacidade de reflexão fiquem estáticos é que traz perigo à vida! É a negação da possibilidade de falhas que oculta o erro. É a preguiça de pensar que dá espaço ao engano!
Ora, não há pecado em ser falho, em ser humano! Não há vergonha em voltar atrás, pedir perdão! Não há fraqueza em pedir ajuda, em depender, em ser educado! Ninguém precisa voar para ser herói, basta ser gente, ser gentil! Um bom sorriso não desautoriza ninguém! Um bom salvador da pátria não precisa ser rude, tosco, bronco, grosseiro, mal educado. Há espaço para humanidade e sensibilidade no dia a dia de um bom herói! Não precisamos de arrogância para encontrar caminhos, mas de solicitude, parceria e franqueza. Ninguém pode se achar infalível, completo, perfeito, isso não existe! É necessário desconstruir esse sonho de personagens perfeitos! Na verdade, o que mais se precisa é um bom senso de realidade capaz de levar às ruas pessoas que clamem por justiça, verdade, respeito, igualdade, solidariedade, dignidade. Estas são bandeiras que se vale a pena levantar!
Definitivamente estamos enfadados de quem se declara bom! Não precisamos mais desses heróis. Carecemos de quem se declare disposto, disponível, para se sentar à mesa da vida e celebrar um mundo mais justo e igual, com menos heróis e mais gente que se assume gente e esteja consciente das palavras do Cristo ao dizer que “ninguém é bom, a não ser um, que é Deus” (Evangelho de Marcos, cap. 10, v. 18).
Prof. Dr. Rev. Nilson da Silva Júnior é pastor e professor.