Meados de março. O carnaval havia ficado para trás. Segundo o dito popular, o Brasil já havia começado a funcionar. Menos eu.
Isso mesmo. A correria da vida nos leva, não poucas vezes, à sensação de máquinas. Eu não estava funcionando bem. Aquele dia era uma quarta-feira e novamente não conseguira me levantar para ir trabalhar. Será que minha cama ganhara ímãs? Sair dela passara a ser um esforço sobre-humano.
DEPRESSÃO. Palavra que é ríspida, dura. Tem força em si, pois traz sons densos, como a pronúncia do pr, do ss, do ão. Por eu ser, talvez geneticamente, bem humorada e espirituosa e sempre ter marcado meu trabalho pela facilidade de comunicação, foi muito difícil aceitar que poderia estar em depressão. Cria que apenas estava passando por uma fase de tristeza e de solidão. Não deveria ser nada tão grave assim. Seria passageiro.
Mas com tantas faltas, tantas manhãs em que a cama me segurava… Na verdade eu necessitava, mais que urgente, de tratamento. Encarar a depressão como doença e não apenas como um estado de espírito foi de fundamental importância.
Uma nova pessoa surgia, a qual não reconhecia como sendo eu mesma.Que processo doloroso! Tive de encarar meu principal inimigo: o perfeccionismo. Meus limites me impunham outro ritmo de vida, agora mais lento.
Precisei diminuir minha carga de trabalho, iniciar uma atividade física regular, tomar mais cuidados com a alimentação, com o sono, com o lazer e redimensionar minha vida espiritual.
Em algumas épocas – dias chuvosos, nublados – tudo ficava mais difícil, mais complicado. O esforço para me manter bem era redobrado. A tristeza e o desânimo, às vezes, se fizeram fortes. Sempre há aqueles que não sabem lidar conosco nestas situações; há ainda os que acham que tudo não passa da falta do que fazer.
A impressão que muitas vezes pairou no ar foi a de que eu estava me dando ao luxo de ficar em depressão. Doeu profundamente quando fui obrigada a ouvir, em sussurro, de uma colega:
– Dá a ela um tanque cheio de roupa suja, pra ver se não sara na hora!
Muitas quartas-feiras se seguiram. Em algumas, consegui me levantar, em outras não. Deus enviou seus anjos que, humanamente, me acolheram e me encaminharam para o tratamento, o qual ultrapassou outros carnavais.
Passei a encarar minha vida como preciosa e única. Não mais devia me sentir como máquina. A passagem por aquele episódio depressivo me humanizou.
E a cama? Deixou de ser o refúgio imantado. Agora cumpre nada mais que suas prosaicas funções.
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A autora:
Suzane Alaíde Lindoso da Silva
Nasceu no Recife (PE), na década de 60, e reside em Piracicaba desde 1992. Estudou na Universidade Estadual do Ceará, onde cursou Letras. Desde que aportou por aqui, é professora de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental e Médio. Professora do Colégio Piracicabano, é apaixonada por textos, livros, palavras!
Creio que isso seja uma luta constante. (Sobre)vivemos a este mundo cruel e não é fácil. Vejo que superou muitas coisas. Fico feliz por você! Mas a luta continua, afinal, dificuldades sempre existirão. Um beijo grande. 😉
Como disse, sobre este tema, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, no Mais Você, na última semana, a cada dia temos de nos reiventar. Obrigada por sua palavras.
Nem sempre estamos preparados para os reveses da vida.Temos sempre a impressão de que as coisas só acontecem com os outros, nunca com a gente. Só que um dia somos apanhados de surpresa e nos vemos como protagonistas de um crônica não anunciada.É a vida. “Que é bonita, é bonita e é bonita.” Por isso vale a pena viver.
Um forte abraço.
Muito grata por suas palavras. A vida é surpreendente. Um abraço carinhoso.
Mas uma vez me delicio com seus escritos,é uma forma de matar as saudades.A depressão ou a tristeza as vezes nos pega de surpresa,mas saber que temos amigos, família fé em Deus e vontade de viver,logo nos tira da cama.hoje comentei no face,melhor que uma terapia é uma tarde de boas risadas com as amigas,hj nos encontramos,Nora Fatinha,bete,Sandra….e falamos nos tempos bons e demos muita risada.Vc esteve presente.Bjs
É muito bom nos sabermos queridos. Isto dá sentido à vida. Um abraço fraterno.
Fiquei encantada com suas palavras, Suzane!
Nunca havia lido nada seu, e gostei muito.
Vocês, professores, leem tantos trabalhos nossos mas nunca temos a oportunidade de nos contatar com os seus.
Parabéns!
Sua aluna,
Débora.
Como sempre me encantando! Fico feliz por me considerar ainda sua professora.
Um abraço bem apertado.
Suzane, teus textos são inspiradores. Sempre que recebo o link faço questão de ler cada um deles. Falam à alma… Parabéns! Abraços.
Suas palavras são sempre encorajadoras. Um abraço fraterno.
Mana, parabens pela fluencia e a maneira linda de dizer verdades sentidas e vividas. So depois de muito tempo soube desta sua luta, mas nosso Deus nao nos desampara e envia anjos para nos ajudar a passar por estes vales. Sei que sera sempre vitoriosa nos embates da vida, porque voce confia num Deus poderoso.Te admiro e te amo.
Também te amo. A distância muitas vezes nos silencia. O importante é que Deus cuidou de mim mais uma vez da forma que só eles mesmo pode fazer. Um abraço carinhoso.
Tia su, texto muito profundo e belo, e tão real! Adorei!
Eu agradeço suas palavras. Um grande beijo.
Suzane,
Mais uma vez parabéns pelo seu texto! Você fala sobre a vida real, consegue expressar tão bem seus sentimentos, toca no fundo do coração da gente. Continue a escrever suas histórias, para mim são uma inspiração. Bjs e fique com Deus.
Pastora, até me emocionou seu comentário. É interessante que até escrevermos não temos a noção do quanto iremos mexer com o leitor. É um privilégio servir de inspiração.
Também fique com o Pai.
Um abraço fraterno.
Que bom que você venceu, Suzane, e já pode até escrever lindamente sobre o assunto! É uma vitória importante. Parabéns!
Obrigada, Carla! Graças a Deus e a seus anjos venci mesmo. Escrever para mim tem sido uma experiência mágica.
Beijos.