O Verbo era a verdadeira luz que, vinda ao mundo, ilumina todo homem.
(JO. 1, 9)
Para além de rituais e gestos meramente externos e vazios de espiritualidade, a grande preparação que o período do Advento nos convida é de caráter interior. A expectativa da chegada (nascimento) de Jesus Cristo – que é o Dom Divino doado e revelado à humanidade – exige uma preparação, dinamizada por uma profunda e autêntica revisão de vida. Alcançamos aqui o ponto fundamental: o Advento deve significar um tempo de intenso mergulho interior, a possibilitar a revisão de ações e valores.
Neste caso, o Advento se traduz em uma expectativa fecunda e transformadora, na medida em que o ser humano é convidado a se desfazer de tudo o que é banal e supérfluo para viver, exclusivamente, a esperança que se plenifica na chegada de Jesus, a atribuir sentido e beleza existenciais.
Celebrar a tradição do Natal é fazer memória ritual do encontro entre o divino e o humano. É neste encontro que a vida alcança plena realização e significado. É preciso, portanto, que não nos distanciemos do significado perene e profundo do Natal. Muitas vezes tomados pelo imediatismo, pragmatismo superficialidade, sempre concernentes à prática do consumo, podemos perder a perspectiva da comunhão com Deus e com o próximo. De fato, afastando-se da representação genuína do Natal, corremos o risco de sucumbirmos a uma existência perdida e soturna. O Natal pode compor-se como uma possibilidade singular de encontro vivaz e constante consigo mesmo, com o outro e com o Sagrado.
Neste ponto, a beleza profunda do Natal descortina-se no movimento de Deus que se revela como Emanuel (Deus conosco). A encarnação guarda,
em sua teologia, um sentido pedagógico. Ao assumir a condição humana, Jesus nos ensina o sentido do próprio existir, como devemos viver a vida, inclusive em sua dimensão mais cotidiana. A vida humana alcança plena dignidade, pois o próprio Deus veio habitar entre nós. É preciso, então, celebrarmos intensamente todo o mistério que envolve e dinamiza o Natal, aprendendo com Deus as possibilidades de nossa humanidade, superando uma condição esvaziada, perdida, cindida para uma existência de plena luz. A celebração do Natal faz memória do acontecimento que marcou, em definitivo, a história humana: o próprio Deus se fez menino e veio habitaentre nós.
O nascimento de Jesus Cristo configura-se como a manifestação mais contundente e impressionante de Deus. De fato, a encarnação de Jesus Cristo consiste no mais sublime dos mistérios. Em Jesus, Deus revela seu amor, concedendo-nos a Graça de sua presença. No entanto, as sociedades contemporâneas, dinamizadas por uma alienante lógica de consumo, tendem a reduzir o evento do Natal a um mero momento de troca de presentes. Neste ponto, desponta a sedução da indústria do Natal, a produzir e fomentar falsas necessidades. É reciso explicitar, não obstante, que a lógica do mercado globalizado, a dinamizar uma vida centrada em consumo e conforto, não tem nada a comunicar sobre o sentido do Natal. De fato, a futilidade, o hedonismo, o culto ao poder e ao sucesso, o apego exacerbado à materialidade etc, delineiam existências vazias, desprovidas de referências e sentido. A beleza e profundidade da mística cristã – fundadas na memória da encarnação divina – são esvaziadas pela fugacidade e superficialidade de um consumo voraz e ávido por objetos, artigos e frivolidades. O Natal, em sua essencialidade, ultrapassa e transcende a tudo isso, revelando o verdadeiro sentido do existir.
Ora, a Boa Nova do Natal constitui-se como o acontecimento definitivo para a dinâmica de nossa existencialidade. Com a encarnação de Jesus Cristo, Deus instaura uma relação de plena proximidade com a condição humana. A celebração do Natal consiste, essencialmente, em fazer memória do momento histórico no qual Deus nos elevou à condição de filhos diletos. O nascimento de Deus criançaconfigura-se como o passo fundamental do processo revelatório.
Ao fazer-se criança, Deus manifesta sua face reluzente de amor e misericórdia. Evento totalmente incompreensível no contexto religioso do mundo antigo. Assim, o relato do nascimento de Jesus, está recortado por simbolismos e imagens, de maneira a explicitar um novo horizonte teológico a balizar o cotidiano humano. As dimensões de fragilidade e pueridade infantil – Deus que se desveste da perspectiva de onipotência –; a manjedoura, os animais e a estrela – o novo rei nasce sob o signo do total despojamento, estabelecendo comunhão com toda a criação –; a cidade de Belém – herança e superação da aliança davídica –; a presença dos reis orientais – a aliança em Jesus alcança toda a humanidade, a salvação assume uma perspectiva universal.
Ao se fazer criança, Deus abraça e dignifica a realidade humana. Assim, a encarnação de Jesus dinamiza um conteúdo ético, explicitando o que de fato é fundamental para a existência. Toda a vida de Jesus, desde o seu nascimento até a sua paixão e, sobretudo, ressurreição, é recortada por imagens e representações, a apontarem o caminho para a realização plena da vida humana. Jesus ilumina nossa existência, ensinando-nos a viver sob a ótica do amor e do serviço ao próximo, critérios éticos universais e absolutos.
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O autor:
Adelino Francico de Oliveira é filósofo, mestre em Ciências da Religião. É professor da Falcudade Salesiana Bom Bosco de Piracicaba.
Olá Adelino,
Agradável reflexão, que nos relembra a sublimidade de uma relação filial com Deus, por meio da sua própria inserção na condição humana, nos recortes de simbolismos que Jesus nos deixou por meio de seus evangelistas. A visão do Deus transmutada de Entidade terrível, punitiva, para a figura do Pai, amável e misericordioso. Que grande presente! Este não se compra em loja, mas deveria ser distribuido gratuitamente em todos os lares, todos os dias.
Felicitações.
Obs.: Pode ser implicância minha, mas acho que você podia trocar o quadro de fundo da foto…
Abraço.
João Batista
Prezado João Batista,
Gosto de suas considerações… de certa maneira elas reforçam a dimensão da esperança… tenho encontrado em você um interlocutor profunda, que não perdeu a medida das coisas… inclusive a medida estética… vou solicitar a troca da foto (risos).
Esteja bem!
Oi Adelino,
muito boa e gostosa a sua reflexão. Sempre gostei da forma em que você apresenta o Deus como um pai, e não como um ente que devemos respeitar pelo medo. A humildade de Deus (divino) se fazendo de carne e osso numa criança que nasce (humano). PARABÉNS!
Você bem que poderia compilar suas reflexões num livro.
Prezado Luiz Xavier,
Agradeço por suas considerações… de fato, é preciso que superemos a visão de um Deus pesado, pronto para distribuir punições… Sobre o livro, é uma ideia bem interessante… mas ainda penso que haveria um número muito restrito de leitores (risos).
Esteja bem!
Professor adelino,
Que ótimo poder verificar suas palavras e refletir sobre o verdadeiro significado do Natal, pensar sobre o sentido de nossas vidas e, sobretudo, aproximarmos cada vez mais do criador. Pensamentos para o Natal de 2011, reflexões para o ano novo de 2012, sempre com Deus em nossas mentes, nas nossas vidas e solidário aos nossos irmãos.
‘Jesus ilumina nossa existência, ensinando-nos a viver sob a ótica do amor e do serviço ao próximo, critérios éticos universais e absolutos’`Professsor Adelino F. de Oliveira`
Obrigado por suas palavras…
Cordialmente,
Manoel Gonçales
Prezado Prof. Manoel Gonçales,
Suas considerações vão se compondo como um forte incentivo à reflexão… agradeço por isso. Vivemos em uma época em que a reflexão mais densa não desfruta de aceitação… É bom encontrar interlocutores…
Esteja bem e obrigado!
Profº Ms. Adelino de Oliveira,
Que o Professor e sua família tenham um Natal feliz e um ano novo inesquecível. Mais do que nunca é hora de vivermos a mensagem de Jesus Cristo, é época de aproximação das pessoas, e o quando elas estão próximas é sinal que o sentido do Natal se realizou.
Passe esses dias ao lado dos seus familiares e amigos, pois são eles quem ficarão ao nosso lado quando mais precisarmos. Um forte abraço meu e da minha família à você e a sua família com muito carinho.
Até breve.
Manoel Gonçales
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Caro Mestre Adelino,
Uma bela reflexão da origem e sentido do natal, com fundamentos cristãos, alem de lembrar o principio mais belo do Natal, rever quem somos e oque fazemos, ainda mais no “clima” alegre e cintilante do natal, que mostramos o melhor de nós.
Desejo um Feliz Natal e muita alegria no Ano Novo,
Abraços Renan
Querida Renan,
É sempre bom e interessante ler seus comentários, capazes de captar a essência da mensagem textual…
Um forte abraço e esteja bem!
Prezado Adelino,
Excelente texto, parabéns !
Que saibamos a cada ano reforçar e vivenciar o verdadeiro sentido do Natal.
Boas Festas !
Próspero ano Novo !
Abraços !
Prezada Sandra Ducatti,
Precisamos resistir à banalização do consumo, que, de maneira paulatina, vai esvaziando o sentido de todas as coisas…
Obrigado pelos bons votos.
Esteja bem!