Mostra desvenda humor em preto e branco

Em 1974, quando Piracicaba sediava pela primeira vez uma festa de humor gráfico, dava-se o primeiro passo para consolidar a cidade como vitrine das revelações nacionais. À época, o lápis e a tinta nanquim eram os recursos mais usados para transpor as ideias para o papel. Passados 39 anos desde a criação do Salão Internacional de Humor, surge a mostra Humor em Preto e Branco, um convite para desvendar a história do evento piracicabano, rememorar fatos marcantes do país e conhecer de perto 50 trabalhos em exposição no Engenho Central, na sede do CEDHU Piracicaba (Centro Nacional de Humor Gráfico).

“O Salão de Humor surgiu no regime de recessão e a própria dureza do preto e branco, como expressão, se manifestava na exposição de metáforas do que acontecia na época. Somado a isso havia a questão tecnológica e as limitações de se imprimir em colorido, sem a presença da computação gráfica, por exemplo”, diz Eduardo Grosso, presidente do CEDHU Piracicaba.

Boa parte das obras da exposição – cartuns, charges, caricaturas e histórias em quadrinhos – reflete o descontentamento dos artistas com a censura vigente no Brasil entre os anos de 1964 e 1985. É o que retrata, de forma simples e direta, a charge de Júlio César Cardoso Barros, premiada em 1978. Nela, a frase “Liberdade de Expressão” aparece sem o X, que prende um homem caído ao chão.

Entre os nomes que ilustram os ambientes do CEDHU está Laerte Coutinho, cartunista do jornal Folha de S. Paulo. É dele o cartum vencedor do 1º Salão de Humor de Piracicaba, inspirado na tradicional fábula de Hans Christian Andersen, O Rei Está Nu, também alusiva à Ditadura Militar.

O jornalista Adolpho Queiroz, membro da comissão organizadora e um dos criadores do Salão, assim contextualiza a obra do cartunista: “O não de Laerte Coutinho foi uma das importantes contribuições das artes e do humor gráfico contra a Ditadura Militar no Brasil”.

Chama a atenção a obra de João Gomes Martins, de Campinas, premiada na oitava edição do Salão (1981). A inspiração veio do quadro Retirantes, de Cândido Portinari, que retrata o sofrimento dos migrantes, representados por pessoas magérrimas e com expressões que transmitem sentimentos de fome e miséria. Martins desenhou uma família admirando a pintura e utilizou a frase “Bons tempos aqueles” para criticar a pobreza no Brasil.

De ano a ano, o Salão modernizou-se, adaptando-se às inovações gráficas. Se em 1974, ano de fundação da mostra, todas as obras foram a partir do nanquim e do lápis, no ano seguinte a cor já ganhava seu espaço, ainda de forma tímida. Já em 1995, todos os trabalhos premiados da 22ª edição eram coloridos.

No entanto, o preto e branco é explorado em outros contextos e com suportes diferentes, como aconteceu em 2007 com a caricatura sobre o arquiteto Oscar Niemeyer feita a lápis pelo carioca Ray Costa e vencedora do 1º Prêmio Zélio de Ouro. “A arte, ainda hoje, pode ser realizada com o mínimo. Basta ter um papel e um lápis preto ou uma canetinha, principalmente quando se fala em desenho de humor”, reforça Eduardo Grosso.

Na mostra, há também a fotografia do colombiano Rafael Garcia, vencedora em 2008 da categoria Vanguarda, criada para abrigar obras em novos formatos. Até mesmo na última edição do Salão, em 2011, o preto e o branco se manifestam, desta vez por meio de escultura que retrata o apresentador do programa CQC (Custe o Que Custar), Marcelo Tas. De autoria de Robson José da Silva, a obra recebeu menção honrosa pela originalidade.

INSCRIÇÕES ABERTAS – Em 2012, o Salão de Humor será aberto no dia 25 de agosto. A 39ª edição está com inscrições abertas até 20 de julho para o envio de obras e vai distribuir R$ 47 mil em prêmios. O regulamento está disponível no site do Salão. A seleção acontece nos dias 4 e 5 de agosto.

São R$ 5.000 em cada uma das categorias (Cartum, Charge, Caricatura e Tiras/HQ), mais o mesmo valor em dinheiro para os trabalhos com o tema Intolerância e para o recém-criado Prêmio Júri Popular Alceu Marozi Righetto (por meio de votação na internet).

O Salão conta também com o Prêmio Aquisitivo Câmara de Vereadores de Piracicaba (R$ 3.131,11), exclusivo para Caricatura, e com o concurso para o cartaz comemorativo dos 40 anos (R$ 4.000). Já o Grande Prêmio Salão de Humor de Piracicaba – Zélio de Ouro, no valor de R$ 10 mil, será entregue ao melhor entre os premiados.

Anote

Exposição Humor em Preto e Branco, no CEDHU Piracicaba (avenida Maurice Allain, 454, Parque do Engenho Central). Entrada gratuita. Visitas: segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 17h. Informações: (19) 3403-2615, contato@salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br ou www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br.

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Rodrigo Alves – jornalista

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