Mídia e Refúgio

Mídia e Refúgio

É imperativo (re)pensar formas de noticiar pautas humanitárias 

O deslocamento forçado é um fenômeno social e histórico das civilizações. As pessoas são forçadas a deixar suas casas, famílias, vidas por inúmeras razões: guerras, perseguições, conflitos políticos ou religiosos. É um problema complexo que expõe uma série de feridas humanas, como o preconceito, a xenofobia, a discriminação, a violência de gênero dentre outras formas.

A Convenção de 1951 e o Protocolo de 1967, são instrumentos que asseguram “a qualquer pessoa, em caso de necessidade, exercer o direito de procurar e de gozar de refúgio em outro país”. Apesar de ser um direito de toda a humanidade, ainda há um grande caminho a ser percorrido para que medidas e políticas públicas saiam do  papel  e sejam colocadas em prática.

Neste sentido, a mídia tem um papel importante na construção da representação social das pessoas em situação de refúgio. Como reprodutora de sentidos, é mola propulsora para a tomada de decisões governamentais na formulação de políticas públicas.  Principalmente agora com o grande fluxo de informação através das diversas mídias onde qualquer pessoa se sente profissional da escrita, sem consciência crítica, ética ou responsabilidade, produz e reproduz notícias falsas e preconceituosas. Com grupos disseminando ódio, que invertem valores e propagam uma verdadeira guerra de desinformação. O trabalho dos profissionais da comunicação é redobrado e precisa estar em consonância com os códigos éticos. O instrumento de trabalho destes profissionais é a informação, a qual deve propagar reflexão, diálogo, compreensão como formas de combater todas os tipos de discriminação. A desinformação é, sobretudo, uma das principais causas de preconceito e violência.

Em tempos de tantas emergências humanas, se faz urgente repensar as formas de noticiar as pautas humanitárias. É preciso dilatar o olhar diante do outro em situação de vulnerabilidade, se colocar em seu lugar, entender as suas dores, as suas lutas e as suas perdas. Infelizmente, muitas narrativas ainda são frágeis, carregadas de estereótipos e termos pejorativos. Muitas vezes apresentam recortes estatísticos sem falar das contribuições culturais que a pessoa agrega  à comunidade, ou então, usam termos  depreciativos como “foragidos”. O Guia de Jornalismo do ACNUR, Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, traz um material rico sobre a cobertura jornalística humanitária. É leitura obrigatória para todos os comunicadores. E pode ser livremente  acessado na internet.

Impossível prosseguir sem compreender as questões éticas e o papel de proteger e denunciar que têm os comunicadores. As abordagens devem lançar luz a contextos históricos, econômicos, sociais e ambientais, colaborando com construções mais humanas. É preciso conciliar respeito, delicadeza e compaixão. A Rede Acampa, em sua caminhada tem se articulado para orientar, refletir e instituir políticas públicas para todos e todas visando mudanças estruturais na sociedade.

 

Kátia Karan é formada em comunicação social, com certificação em educação midiática. Analista de projetos sociais no terceiro setor, faz parte da Rede Acampa.

https://piracicaba.redeacampa.org


Foto de capa: foto da ONU por Violaine Martin.

One thought on “Mídia e Refúgio

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *