O menino e a menina andavam de mãos dadas. Sorriam pelos seus caminhos, tanto que quase não notavam a diferença que havia no chão em que pisavam.
Um dia, durante uma briga, olharam pro chão – e a menina percebeu que debaixo de seu pé havia terra, enquanto que do menino, só grama. “- Que coisa estranha,” pensou a menina de vestido de bolinha.
O menino assoviava e nada percebia. Continuava em seu caminho, achando que ele dariam no mesmo lugar. Mas a menina, desconfiada que era, continuou olhando e notou que entre os seus pés e do menino agora corria um rio – ainda que fino e quase insignificante. “Os rios crescem,” pensou a menina, “e se esse se alargar?”
Continuaram sorrindo e cantando de mãos dadas, os pés não se encontravam – e logo perceberam os braços já afastados. Sentiam dificuldades de se tocarem. O menino olhou pra baixo e viu que era verdade: ao lado da grama em que pisava havia um rio até que grande.
Eles olharam para frente.
O rio alargara-se. As cidades se separavam. E eles? Apenas com os dedos tocando uns aos outros – e precisavam fazer uma escolha. Quem pularia de um lado para o outro?
A menina disse que não podia: “Eu cresci nesse caminho, o seu é muito confuso.” O menino a olhou tristonho: “O meu caminho é mais fácil, o seu não tem sentido.”
E, após horas, dias e semanas discutindo sentaram-se – cada um em uma pedra de seu caminho. Já não davam as mãos, olhavam-se apenas. Contemplavam o rio se alargando, o tempo passando, o olhar do outro ficando cada vez mais denso. Choraram.
Chegaram ao pensar que já não daria muito certo aquela amizade. “Para que duas pessoas andem juntas,” disse um corvo que pousou na grama, “não basta darem as mãos. Os pés e a cabeça devem estar no mesmo ponto.”
A menina suspirou profundamente, enquanto o menino não entendia nada. Já nada diziam,olhavam-se apenas. Era preciso seguir. Cada um em seu caminho? Alguém deve pular e abrir mão do que acredita e sente pelo outro?
O menino e a menina se levantaram. Finalmente a decisão estava tomada. Pelo quê? Para que lado? Juntos?
Depois disso, eu já não vi mais nada. Deixo então o final da história na imaginação de cada um que a ler.
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A autora:
Apaixonada pelas palavras, Cíntia Ferreira está no último semestre de jornalismo. Dona de uma prosa singela e leve, a autora frequentemente aborda em seus textos a complexa temática dos relacionamentos humanos.
Talvez devessem construir uma ponte onde um poderia passear no caminho do outro, e assim viveriam juntos e felizes se completando, já o corvo é somente um corvo.
É uma linda história e quem tiver imaginação conseguirá dar um final muito interessante, esse seria um trechinho do meu.
Parabéns, cada palavra surpreende cada vez mais em seus textos.
Bjoosss
Que belo texto. Belas palavras, bela história! Sempre me encanto com tudo que escreve, Cintia. Adorei este “final sem fim”. Cabe a cada um de nós escrever um final para esta singela e bonita história. Beijos, querida.
Obrigada aos que tem comentado e lido este texto. O texto é meu, mas cada um pode dar o final que quiser a ele.Mais que isso, pode criar comigo esta história
Gde abraço a todos.
Pra mim, um final legal seria os dois morarem num barco e passarem a visitar as margens quando quisessem. Beijos!
Cintia, belíssimo texto!! Adoreii!!