Lugar do professor!

A preocupação em relação às profissões do futuro é constante em sociedades dinâmicas. Neste caso, há um anseio, especialmente por parte dos jovens, em se identificar com áreas profissionais que contemplem expectativas de demandas, garantindo possibilidades de emprego com boa valorização no mercado. Neste ambiente, algumas carreiras alcançam notório destaque enquanto outras caem no ostracismo, descaso, esquecimento e torpor.

Na era da informação, não é raro ouvirmos prognósticos anunciando o lugar obsoleto do professor. Aliás, alguns, inclusive, arriscam-se em decretar a aposentadoria dos próprios livros. Longe disso, deparamo-nos com sociedades cada vez mais carentes e vazias de mestres. Apesar do acesso cada vez mais amplo a informações variadas, não há, no mesmo compasso, um avanço na construção e no domínio de conhecimentos. De fato, os recursos tecnológicos permitem com que informações sejam acessadas com rapidez e agilidade. Entrementes, a agilidade pode indicar escassez, superficialidade e fragilidade de profundidade do conhecimento. Ou seja, a facilidade pode inibir e solapar a perspectiva da reflexão, da criticidade e do conteúdo. O acesso tranqüilo – principalmente, aquele concedido pela internet – muitas vezes não incita para a problematização, pesquisa, discernimento e dedução.

No entanto, quando envolvidas em uma dinâmica dirigida, as informações, antes alcançadas de maneira aleatória e desprovidas de sentido, passam a vislumbrar um caminho gradual de acessão intelectual e cultural. Situa-se aqui a imprescindibilidade do professor como experiente formador, capaz de caminhar ao lado do aluno, ainda em incipiente trajetória, a intermediar a construção do conhecimento. O professor pode orientar, incutir valores, experimentar a curiosidade e formar opinião. O aluno, sob o auspício do mestre, avança em direção a um saber concatenado e significativo.

O professor, desgarrando-se de uma perspectiva meramente técnico-profissional, assume o magistério como um autêntico legado, cônscio de que seu ofício cotidiano alcança a magnitude de formar pessoas, sobretudo tocadas pela sensibilidade estética, guiadas pela dimensão ética, ávidas por um saber denso e significativo, aptas a compreender a escolha profissional para além de metas objetivas – e sim como possibilidade de potencialização das mais legítimas aspirações do humano. O magistério atinge extrema relevância quando pensado em um mundo a conclamar por um sujeito que forma, sensibiliza para valores, incrementa o olhar para a cultura e para o refinamento do conhecimento. Nesta perspectiva, a docência deixa de ser compreendida como mera profissão para ser assumida como a mais elevada das vocações.

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Adelino Francisco de Oliveira é filósofo e professor de Ética e Filosofia na Faculdade Salesiana Dom Bosco de Piracicaba

 

 

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8 thoughts on “Lugar do professor!

  1. Ótimo texto, Adelino! Os melhores professores têm um talento natural para ensinar e demonstram esse dom mesmo longe das salas de aula. Magistério de qualidade, sem dúvida, envolve conhecimento e vocação. Abraço!

  2. Compadre Adelino, parabéns pelo seu texto! Acho válido lembrar que, infelizmente, muitos de nossos colegas, inclusive os mais vocacionados, estão adquirindo, cada vez mais, as chamadas “doenças invisíveis”, como depressão, síndrome de burnout, síndrome do pânico, stress pós-traumático e outras, sobretudo na rede pública. Um abraço!

    1. Querida Rita,

      Obrigado pela relevante interlocução. Suas ponderações avançam em uma questão bem delicada: as condições objetivas do cotidiano do professor. Talvez esta seja a questão central a ser enfrentada, com a máxima urgência.

      Esteja bem!

  3. Querida Carla,

    Obrigado pela interlocução, sempre rica e estimulante. O importante é não deixarmos de enfatizar o papel central do professor – assumindo a perspectiva de um autêntico mestre – no processo educacional…

    Esteja bem!

  4. Saudações Prof.Adelino.

    Penso também que o professor deve estar nesse lugar onde o coloca, como o “…sujeito que forma, sensibiliza para valores, incrementa o olhar para a cultura e para o refinamento do conhecimento…”.
    Nossas tecnlogias não teriam tanta flexibilidade….
    Obrigada pelas palavras em seu texto.
    Sílvia Magossi

    1. Prezada Profa. Silvia,

      De fato, para além de máquinas e práticas burocráticas deve estar situado o humano…

      Grato pela possibilidade de diálogo.

      Esteja bem!

  5. Prezada Natália,

    Agradeço pela interlocução. Sabemos bem do lugar do professor, a sociedade, especialmente em seu corpo diretivo, é que parece não compreender tão fundamental e relevante função…

    Esteja bem!

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