Foi meu primeiro contato com um hotel. Era um prédio imponente, que
ajudava a dar mais vida à Praça José Bonifácio. Em sua época fora palco de
muitas histórias que nem sempre foram feitas de beleza e glória.
Eu era criança e por baixo de sua marquise passei muitas vezes. Olhava sua
escada acarpetada de vermelho e imaginava o luxo que ali dentro se
instalava e fazia com que eu recuasse do humilde propósito de conhecê-lo.
Sobre ele, diziam que toda noite havia música ao vivo para os hóspedes –
com músicos profissionais. Os carros luxuosos ali paravam para deixar
descer hóspedes em seus trajes finíssimos, deixando transparecer a pujança
e a cultura de uma época.
Estava localizado na Praça da Catedral, esquina com a Rua Moraes Barros,
havia grandes janelas no andar de cima e de baixo, sendo dezoito na Rua
Moraes e dezoito na Praça da Catedral. Não havia o calçadão da Igreja e na
frente eram um amplo estacionamento, onde desfilavam carros de todos os
tipos – os quais hoje só é possível ver alguns semelhante nas mãos de
colecionadores!
O Hotel Central sempre fora motivo de minha curiosidade. Li que ali em
frente morrera assassinado o pintor Almeida Junior – morto por seu primo José de Almeida, marido de Maria Laura. José descobriu que estava sendo traído. O fato se deu no dia 13 de novembro do ano de 1899.
Foi Almeida Junior um dos maiores pintores regionalista do Brasil e
muito dos quadros desse mestre (nascido na cidade de Itu, no dia 8
de maio de 1850) receberam prêmios internacionais – como o de Chicago (USA),
com o “Picando Fumo” e “Caipiras Negociando”. Ainda hoje sua memória é
lembrada através do dia do artista plástico comemorado todo ano no dia 8
de maio (dia do seu nascimento).
Muitas obras do grande mestre estão espalhadas pelo Brasil, algumas
obras das mais representativas encontra-se na sala Almeida Junior, na
Pinacoteca do Estado de São Paulo, como: “Casinha Caipira,” “Nhá Chica,” “Recado
Difícil” e “Saudade.” Sem deixar de recordar algumas obras sacras que estão
na Igreja Matriz de Nossa senhora da Candelária.
Esta foi uma memória que me assombrou e sempre me assombra quando vejo um
quadro do pintor ou passo pela esquina onde ficava o Hotel. São lembranças
de um lugar que não existe mais, porém virtualmente sempre existirá como
um fato, como história de uma urbe que eu insisto em contar.
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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor dos cursos de Comunicação da
Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), memorialista e consultor em
Comunicação & Marketing de empresas.
(FOTO DO HOTEL CENTRAL EXTRAÍDA DO SITE: fotoeahistoria.blogspot.com.br)
Oi meu amigo, muito prazerosa sua leitura. Os quadros de que falou, fico até querendo conhecer PICANDO FUMO e CAIPIRAS NEGOCIANDO. Parabéns pelo inspirado texto, grande abraço.