Altíssimo, Onipotente, Bom Senhor. Teus são o Louvor, a Glória, a Honra e toda a Bênção…
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual homem algum pode escapar.
São Francisco de Assis, Cântico do Irmão Sol
A epígrafe em tela retrata, segundo a percepção de São Francisco, o pobrezinho de Assis, a condição da morte como irmã do homem, da humanidade. Neste último Dia do Senhor, 11 de março, tempo forte da quaresma, o saudoso Frei Augusto – grande mestre de espiritualidade e pastoral, ícone do franciscanismo em Piracicaba – uniu-se à irmã morte, preservando, todavia, a vasta memória do serviço, da missão, do encontro e da vocação.
Retomando traços da história e práticas de Frei Augusto, atentamos, em um primeiro momento, à imagem e retrato de um religioso caridoso e carismático, atento às necessidades de sua comunidade, de seu tempo. O notável franciscano, para além do ideário de servir, congregar e acolher, fez-se um homem de refinada inteligência, arguta percepção de seu papel como religioso e sacerdote. Sua inequívoca contribuição teórica reforçou preceitos da Teologia da Libertação, acenando para uma Igreja aberta, crítica, voltada para a construção de uma comunidade a comungar dos mais genuínos e elevados princípios do cristianismo originário – amor, solidariedade, compaixão e equidade. Frei Augusto, com a eloquência profética de sua voz firme e vigorosa e a contundência de suas práticas pastorais, construiu seu discipulado reconhecendo a manifestação da face amorosa de Deus no rosto sofrido do próprio povo, seu povo em Piracicaba. O amor a Deus que se revelava na compaixão e solidariedade pelo seu próximo, em uma estrita e incansável atenção às necessidades espirituais e existenciais, indicando a urgência de uma nova ordem eclesial e social.
Salienta-se – e não podemos nos esquivar de aludir a tal fato – a zelosa e criteriosa organização do curso de Teologia para Leigos, construção sólida e ousada, propósito do longo caminhar de Frei Augusto, cuja intenção firmou-se em marcar a centralidade e protagonismo do laicato no fortalecimento da Igreja, comunidade de fé e partilha de vida. É difícil ponderar em torno do elevado número de leigos a experimentar o conhecimento teológico, marcando uma Igreja que, sem medo, forma o povo de Deus. O cultivo e gosto pela música, na regência de coral litúrgico, também compõe um traço marcante e característico do apostolado de Frei Augusto. O discernimento crítico e problematizador de Frei Augusto vislumbrou aproximar o fiel de sua Igreja, de seu sacerdote, enredando espaços de liderança, engajamento e conhecimento – outrora, possibilidades apenas acessível ao clero.
Entre tantas expressivas e ricas vivências ao lado de Frei Augusto, destaca-se da memória a ocasião em que caminhávamos em um rápido trajeto pelo centro de Piracicaba. O colóquio era constantemente recortado por saudações, apertos de mão e até afetuosos abraços vindos de todos os transeuntes que cruzavam e entrecortavam o caminhar. Demonstrações evidentes de profundo afeto e elevada admiração por um frade que assumiu plenamente a missão de ser pastor e guia de todos, isento de intenções de proselitismo, aberto ao diálogo sincero e fecundo.
Claramente, prosperava em Frei Augusto a dimensão do religioso franciscano. Há, também, a condição do homem, propagador de valores humanitários, afinado com a possibilidade de resgate do que é essencial no ser – a ética, o respeito, o encontro com o outro. Seu franciscanismo evidente e inconteste sugestiona um homem despojado, cuja simplicidade atentava para uma vida austera, alinhada ao amor pela natureza, suas criaturas, suas amplas possibilidades. Sabe-se que a perspectiva – dentro da vida religiosa – que mais lhe tomava, lhe encantava, causava-lhe vigor, alegria, era a compreensão de que sua missão fundamental, primeira, estaria enraizada na entrega à sua mais bela irmã, primeiro irmão: a sociedade, a comunidade, o povo de Deus. Indubitavelmente, Frei Augusto, com sua elevada visão teológica – como um frade que optou por seguir Jesus Cristo bem de perto –, aprendeu a integrar espiritualidade e comprometimento social.
O nosso adeus deve contemplar o louvor, o reconhecimento de seus serviços, da graça de seu empenho, sua vocação. Perfaz-se, a partir de agora e então, uma larga memória, um apreço por todos os feitos e as obras. As lembranças estão fincadas, colocam-se com solidez, tenacidade. Toda a comunidade, a consciência coletiva saúda o memorável Frei Augusto, tecem nas mais belas e apropriadas recordações sua conduta, resgatam seu exemplo, recontam sua humanidade, a apontar para a transcendência que deve enlear a existência.
Esteja em paz, querido irmão Augusto.
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Prof. Ms. Adelino Francisco de Oliveira. Professor de Ética e Teologia da Faculdade Salesiana Dom Bosco de Piracicaba. Assessor no Curso de Teologia para Leigos da Diocese de Piracicaba.
Obrigada, professor, pelas belissimas palavras referidas ao Frei.
Eu participei do curso de teologia até metade do ano passado, engravidei e minhas indisposições a noite não me permitiram concluir o quarto ano neste momento…
Acredito que a missão de frei Augusto foi cumprida, mas que vontade de ouvir mais… sermões belissimos, homem de atitudes firmes e convictas, exemplo de conduta e intelecto.
Só posso agradecer a Deus por tê-lo conhecido e aprendido com ele.
Não só em minha memória e coração, mas terei uma lembrança que o tempo não apagará, foi ele quem presidiu meu casamento e que sempre se interessava por saber como eu estava e todos que se aproximavam dele.
Com certeza essa Páscoa no céu será ainda mais festiva!
Frei Augusto foi um pai para nós que conviviamos com ele, ele era conselheiro espiritual de tres equipes de Nossa Senhora, uma das quais faço parte, Ele nos ensinou tantas coisas que jamais alguém vai conseguir. As nossas equipes ficaram orfãs de um verdadeiro pai, mestre, amigo. Que ele descanse em paz