Ao longo de sua história, Piracicaba já teve muitos ilustres e memoráveis jornalistas. Tomada por talento, criatividade e beleza a produção jornalística piracicabana configura-se como uma das contribuições relevantes da cidade para a cultura nacional. É sempre delicado nominar personagens, mas apenas para ilustrar talvez seja interessante fazer menção ao jornalista José Antônio Bueno de Camargo, que foi pioneiro em colunas de humor na cidade. Ligado à cultura, o nome de José ABC está estreitamente vinculado ao desenvolvimento do carnaval em Piracicaba.
Há tantos mais jornalistas na contemporânea Piracicaba. Em uma reminiscência livre e despretensiosa, sem dúvida o nome de Cecílio Elias Netto não poderia deixar de ser lembrado, com seu legado de registrar o dialeto caipiracicabano. Cometeremos o pecado de não citar aqui todos os jornalistas que devem ser celebrados. Mas não se pode fechar essa introdução sem mencionar a força da pena da jornalista Beatriz Vicentini.
A profissão de jornalista cumpre o papel social fundamental de tornar a informação um direito. A informação é o componente básico para se alcançar o nível do conhecimento qualificado. Quanto mais informação, mas possibilidade de se avançar para a produção de um conhecimento denso e crítico. O jornalismo investigativo desvela a esfera dos poderes, tornando a dinâmica das relações sociais mais transparente. Em um contexto democrático, o jornalismo é sempre livre, crítico e comprometido com a verdade dos fatos.
É sempre possível se criticar a atuação jornalística, especialmente em cenários em que grupos empresariais controlam, hegemonicamente, os meios de comunicação, impedindo a produção e circulação democrática das informações. Quando o jornalismo não é livre e independente, a informação se corrompe, tornando-se enviesada, manipuladora e ideológica. Mas a crítica deve sempre vislumbrar o fortalecimento e autonomia do ofício jornalístico, entendendo sua centralidade em sociedades democráticas.
Historicamente a desqualificação da imprensa sempre foi uma estratégia utilizada por poderes com pretensões autoritárias. Uma das primeiras ações de ditadores consiste em destruir a imprensa livre, para poder disseminar fake news sem ter que enfrentar nenhum tipo de contestação. A autêntica imprensa é aquela que se coloca a serviço da verdade dos fatos, fazendo da informação um direito que consolida a democracia.
A detratação da pessoa do jornalista é um ataque direto ao direito constitucional, portanto democrático, à informação e ao conhecimento. Recorre-se a um antigo jogo falacioso, no qual se agride o mensageiro, para não ter que se confrontar com o impacto da verdade contida na mensagem. O insulto, a difamação são artifícios utilizados para se desviar do tema central, que é a notícia veiculada.A prática da detratação é também um crime, uma maneira de se atingir a honra do profissional de jornalismo. Quando este profissional é uma mulher, na tentativa de se desqualificar a notícia, tornou-se comum a criação de representações carregadas de machismo, preconceito e misoginia. Essa é uma atitude inaceitável, não apenas por violentar a dignidade humana da profissional em particular, mas também por agredir todos os profissionais de comunicação social em geral.
Piracicaba guarda uma história de ilustres jornalistas, memória que deve ser reverenciada. É preciso que a sociedade em seu conjunto repudie, com veemência, as atitudes que buscam impedir a plena liberdade de imprensa, ao mesmo tempo em que explicitem total desprezo à dignidade humana. A cidade presenciou, nestas últimas semanas, os ataques pelas redes sociais aos jornalistas, desqualificando a prática e disseminando mecanismos irracionais de ódio, preconceito e intolerância. Toda instituição que tenha dirigentes que comunguem com visões discriminatórias, difundindo preconceitos e que se colocam contra a liberdade de imprensa acaba dando guarida para as sementes do fascismo.
Adelino Francisco de Oliveira é filósofo e professor no Instituto Federal campus Piracicaba.