Hilara Crestana: música e terapia pela vida!

Hilara Crestana: música e terapia pela vida!

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Exímia pianista, pedagoga e musicoterapeuta reconhecida, Hilara Crestana é uma das grandes e respeitadas referências na área da música erudita piracicabana – e também no campo da cura por meio da música. Então, e para que você possa conhecer um pouco sobre essa profissional tão especial – e também descubra os benefícios da musicoterapia – o  Diário do Engenho traz a público um bate papo delicioso realizado com essa artista (e terapeuta) genial. Confira!   

 

1.0 que vem a ser a musicoterapia?

A definição de musicoterapia ainda está passando por várias modificações, mas, de modo geral, poderíamos dizer que é um tipo de terapia na qual a ferramenta de trabalho utilizada é a música.

2. Como você se interessou por ela?

Mesmo quando eu cursava Piano Erudito na UNICAMP, minha interpretação musical queria expressar muito mais do que simplesmente o que a própria partitura estava pedindo.

Durante meus estudos, fiz várias pesquisas sobre correpetição e movimento, iniciando pela própria anatomia do braço, antebraço, punho, mão, chegando a estudar várias pedagogias pianísticas diferentes, mas meu sentimento era de que faltava algo…

E este algo era claramente uma emoção não explicada através daquilo que se toca. Explico: – Sabe aquela música que você ouve e começa a chorar sem ter um sentido aparente ou sentir raiva por algum som que te irrita e você não sabe por quê? Era este “algo” que me indagava sempre.

Foi então que continuei minha busca e fui estudar pedagogia (sempre com um enfoque musical) e, com ela, eu também descobri muitas coisas. Mas ainda aquele “algo” não tinha resposta, eu só sabia que meu desejo de me descobrir com a música aumentava cada vez mais, principalmente quando estudava os grandes pedagogos como Piaget e Vygotsky, dentre outros.

Sem saber o porquê (depois de ter me formado em pedagogia), fui buscar a musicoterapia com o imenso desejo de estudar um pouco mais sobre o que acontece na mente das pessoas quando elas ouvem música, principalmente como forma de curar o outro, com o outro e através do outro. Aquilo que me deixava curiosa, aquele “algo” que eu queria descobrir profundamente e resolver, de uma vez por todas.

Não vou dizer que quando finalmente terminei meu trabalho de conclusão de curso, achei a resposta, pois posso falar com discernimento que este “algo mais” que a gente procura entender através da música, é, a cada dia, como musicoterapeuta que sou, uma busca constante, seja no outro, seja em nós mesmos.

3. Qualquer pessoa pode ser musicoterapeuta ou essa área de saber está ligada exclusivamente a quem é músico?

Acredita-se que qualquer pessoa pode se tornar musicoterapeuta, mas, pessoalmente, na prática, vejo que ter noções musicais faz toda diferença quando o profissional analisa seu paciente. Se a ferramenta de trabalho é a música e o musicoterapeuta está sempre atento aos toques e movimentos do seu paciente como um investigador, é claro que, se este profissional tem formação musical, tudo fica mais evidente.

4. Onde se estuda a musicoterapia? Quais as melhores referências de cursos
nessa área?

Existem muitos cursos de musicoterapia espalhados pelo mundo (e aqui vale dizer que a musicoterapia tem seu berço na argentina), mas no estado de são Paulo, tem a FMU. Antes havia um curso na FPA e na UNAERP, mas há pouco tempo eu soube que estes cursos fecharam e só restou, portanto, o da FMU. Lá, tem tanto graduação quando especialização.

5. Você trabalha em hospitais?

Felizmente aqui no Brasil esta ação do musicoterapeuta trabalhar nos hospitais está iniciando, mas aqui em piracicaba ainda não conseguimos abrir este ramo de trabalho.

A Musicoterapia é uma profissão não legalizada pelo Estado, é como a acupuntura: no início, essa profissão era considerada holística e não entrava nos hospitais; hoje ela já tem a autorização do Estado e entra nos hospitais como Medicina Preventiva.

Nós, musicoterapeutas, estamos na luta para que aconteça o mesmo com a musicoterapia!

6. Há algum exemplo ou caso interessante que você possa citar em relação ao trabalho do musicoterapeuta? Há algum caso que você se lembre no qual a musicoterapia foi importante no auxílio ao tratamento de um paciente?

Como meu foco é trabalho com autismo, em todas as sessões acredito cada vez mais no poder que a música tem nas emoções dos seres humanos. Tive um caso de um garoto de 12 anos, G., diagnosticado com autismo leve, que me deu um retorno magnífico. Assim como todos os pacientes que chegam com uma problematização, ele veio para a musicoterapia com o intuito de se sociabilizar e se conhecer melhor. Fiz com ele um trabalho profundo de equilíbrio emocional e também corporal (entrando um pouco na área da psicomotricidade), dentre outros tipos de intervenções, sempre dentro da música. Quando ele teve “alta”, pedi para a mãe dele escrever algumas palavras pra dizer como ela estava vendo agora o seu filho. Segue abaixo as considerações dela:

Logo que o G. iniciou a MT, percebi que ao sair das sessões estava mais sereno e falando com entonação de fala (e não cantando como é do seu costume) e mais baixo, mesmo que mais tarde voltasse a falar alto e cantado.

Ele saía das terapias mais introspectivo, no sentido de se auto-perceber, parecia que “caía as fichas”.

Quando mudamos de uma para duas sessões semanais, a meu pedido, com a minha presença em uma das sessões, pude perceber e compreender como a MT trabalha com a criança de maneira lúdica e sutil.

O G. conhecia apenas dois tipos de emoções: a alegria e o medo. Claro que as outras emoções fazem parte de sua vida, porém, ele não tinha percepção e a compreensão das mesmas em si mesmo e nos outros. Para ele, raiva, tristeza, ansiedade, alegria, medo, etc. era uma coisa só: alegria e medo. Apesar de ainda não conseguir denominar suas próprias emoções, bem como a emoção do outro, já tem a percepção de que existem diferentes tipos de emoções. Isso fica claro quando perguntamos o que o outro está sentindo em uma determinada situação.
A MT trabalha ritmo, melodia, etc, mas o mais importante é que ajuda a criança a compreender o mundo e a si mesmo.

7. Como os demais profissionais da medicina veem a musicoterapia? Há algum tipo de preconceito?

Ainda existe um preconceito bastante grande com relação dos outros profissionais aos musicoterapeutas. Como muitos imaginam, a musicoterapia é algo zen, que relaxa a pessoa porque nas sessões ela só fica deitada ouvindo músicas de relaxamento. Mero engano! A musicoterapia é muito mais do que isso, é uma parte da ciência e que trabalha com as duas frentes: a da música e da psicologia, tendo metodologias próprias e técnicas específicas.

Acredito que, como a musicoterapia é ainda um “bebê”, muitos pré-conceitos irão mudar, pois é como eu disse anteriormente, quando sentimos e provamos todos os dias que a música tem realmente um poder curativo, as pessoas não terão mais dúvidas, principalmente da diferença do que é holístico (num sentido místico) e do que é ciência.

8. Quais os maiores benefícios da musicoterapia? Em que casos ela é mais
indicada?

A Musicoterapia, no geral, é indicada quando a pessoa apresenta uma problematização. Mas existem trabalhos maravilhosos com idosos, por exemplo. Na minha área, meu trabalho é mais voltado para o equilíbrio emocional com pacientes diagnosticados com autismo e Parkinson.

Os maiores benefícios são a melhor qualidades de vida, de um modo geral. Mas de um modo específico, posso dizer que a musicoterapia potencializa funções físicas e mentais com dificuldades; contribui para elaboração de conteúdos cerebrais mais complexos, através do resgate da história do indivíduo e o retorno de movimentos corporais comprometidos, orienta a pessoa, restabelecendo as coordenadas de tempo e espaço; reforça a autonomia pessoal e a afetividade, dando “cores novas” à vida e Relaxa, no caso de insegurança e ansiedade.

9. E seus projetos musicais, Hilara? Mudando um pouco de assunto, quais
são os seus projetos como instrumentista para 2013?

Meus projetos musicais, como instrumentista, para 2013 é continuar como correpetidora dos corais de Câmera (da D. Cidinha e do Sr. Mahle), como regente dos dois corais que já estou faz um bom tempo (o da escola Coopep e o da associação colibri Parkinson piracicaba), além de continuar trabalhando aqui e em são Paulo com aulas particulares de piano e, é claro, na clínica, como musicoterapeuta e fora dela como palestrante.

10. O que é a música para você?

Música para mim é uma intervenção divina na vida terrestre. É uma arte e uma ciência transcendental que estamos desvendando e tendo a virtude de vivê-la como seres humanos.

Aproveito aqui para agradecer aos internautas pela atenção e disponibilidade em ler um pouco sobre meu trabalho.

Deixo também meus contatos para supostos comentários:

www.hilaracrestana.com.br

contato@hilaracrestana.com.br

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