A conjuntura brasileira é tão complexa e delicada que tem sido difícil identificar as causas mais profundas dos problemas que devem ser enfrentados. Apesar de ser relativamente fácil apontar a infinidade de situações problemáticas que marcam o país, que são visíveis e sentidas no cotidiano, compreender as origens de tantos dramas exige uma atenção maior. É preciso sair do senso comum, avançando para percepções mais críticas e problematizadoras.
Quando não se alcança a raiz dos problemas, corre-se o sério risco de ficar apenas nas margens superficiais da questão. Combater as consequências sem identificar e superar as causas dos graves problemas que tomam o país tem sido um erro grave e constante. A tarefa fundamental, neste momento, consiste em avançar sobre as causas que se encontram na base das mazelas que assolam o Brasil.
A grande urgência que se impõe ao país hoje é, sem dúvida, o enfrentamento ao novo coronavírus, que explode velozmente em um ciclo infernal de contaminados e alcança um número aterrador de pessoas mortas. Junto com o perigoso vírus o Brasil precisa também se defrontar com o projeto neofascista, que se insurge contra a já frágil democracia. Estes são os inimigos. Ambos se revelam letais e se levantam contra a vida.
Sobre o novo coronavírus, o país já amarga a segunda posição mundial em número de mortos, com forte potencial para se tornar o primeiro do mundo neste trágico e macabro índice.Sem a produção de uma vacina, que possibilite a prevenção e a cura; sem a aplicação de testagens em massa, para identificar previamente contaminados, a única maneira de se proteger da Covid-19 é a prática do isolamento social horizontal, de maneira a bloquear o ciclo de contágio.
Entendendo a fonte da doença fatal, basta aplicar a solução cientificamente conhecida. No caso de tantas vidas ceifadas, a causa é o novo coronavírus. É preciso criar as condições para que toda a sociedade possa fazer uso do remédio: o isolamento social horizontal. Isso significa que o governo deve implementar políticas públicas de amparo econômico e social, permitindo com que o isolamento social se torne uma realidade. A renda emergencial para todo o cidadão que precisar (trabalhadores informais, desempregados, artistas etc.), linhas de crédito subsidiadas e isenções de taxas para pequenas e médias empresasse configuram como algumas das ações fundamentais a serem assumidas pelo governo.
Sobre a questão do neofascismo também se faz necessário compreender suas razões. Em seu âmago encontra-se o neoliberalismo econômico, com a elevação do mercado ao altar de divindade. Os donos do poder financeiro promovem uma verdadeira idolatria do mercado. O seu perverso e silencioso mantra tem sido: ao mercado tudo, ao povo a morte. O objetivo último consiste em reduzir a população à condição de mera mão de obra, pronta a ser explorada, subjugada e oprimida. A luta deve ser contra este sistema profundamente desigual, que produz miséria e destrói toda esperança.
Interessante que a defesa de uma sociedade que tenha a democracia como base significa assumir a lutar pelo direito à vida, enfrentando a Covid-19 e, ao mesmo tempo, contrapondo-se ao projeto neofascista, com tudo que ele representa. A democracia de alta intensidade, com plena participação popular, descortina-se como o caminho e a solução para os males que se abatem sobre o Brasil. A saúde como um direito, em uma sociedade ecologicamente sustentável e com uma economia voltada para a partilha e distribuição dos bens produzidos.
Identificar os verdadeiros inimigos configura-se como o ponto fundamental para se travar as lutas certas. Na sede do poder central ou na localidade da cidade o inimigo assume as mesmas representações. A estratégia deve ter como referência o pensar global e o agir local. A Covid-19 e o neofascismo ultraliberal seguem disseminando morte. É preciso vencer estas batalhas no contexto do município, com ações transparentes, envolvendo toda a cidade, com políticas públicas de saúde. Um município forte, atuante, promotor de equidade social, dinamizador de cidadania política e mobilizando para o debate democrático acerca da vida na cidade é também um antídoto contra as pretensões neofascistas.
Adelino Francisco de Oliveira é filósofo, professor no Instituto Federal campus Piracicaba e pré-candidato a prefeito de Piracicaba pelo Partido dos Trabalhadores.