Outro dia, vi uma mulher que carregava embaixo dos olhos as marcas do passado. Vi um homem cujas costas encurvadas me contavam sobre o peso da sua vida – e em outro caso, os olhos de um velho estampavam a história de uma cidade. Vi também uma moça com uma voz de passarinho cantando sobre o seu amor que se foi e um outro que virá.
Pensei, assim, que somos nossos livros e somos nossas historias. Não escritas sobre o papel com caneta, mas escritas em tábuas de corações humanos. Então, me peguei pensando em que tipo de livro sou eu, que histórias tenho contado (se é que conto alguma).
Será que conto sobre mágoa e tristeza? Será que trago correntes aos meus pés, ilustrando minhas paginas? Penso que sim. Às vezes, penso que tem dias que trago em mim todas as dores e as piores histórias do mundo.
Mas também penso sobre que tipo de livro pretendo ser. Penso que poderia ser um livro infantil, com cores gritantes e castelos saltando dos limites das páginas, com uma princesa e um dragão que ri. Ou posso ser um livro sobre ypês amarelos e uma avenida que se estende ao infinito, sobre pessoas que se agarram à vida – ainda que com as unhas, e fazem dela um motivo de viver para um outro alguém.
Quero ser também aquele livro que canta, que toca alguma musica não importando qual. E se alguém dançar, ainda que só uma pessoa, estarei completo. Um livro que fale sobre Deus e o mundo, que toque aqueles que passam.
Quero contar histórias de povos que se dão as mãos, de adultos pulando corda na rua e crianças que são ouvidas e amadas como lhes convém. Histórias de velhos acalentados por aqueles a quem acalentaram no passado. Sobre gente que cai e levanta. Que chora de noite, mas morre de rir no dia seguinte.
Quero falar de mim e não ter que virar nenhuma página por vergonha ou ressentimento. Quero ser um livro bonito de se ler, que acalme e acolha. Porém, o que não quero mesmo e nem passa pela minha cabeça é ser mais um na estante empoeirada do tempo, esquecido pelos que passam correndo, atropelando a vida. Aquele que está ali, mas nada acrescenta a ninguém, porque nunca foi aberto.
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A AUTORA:
Cíntia Ferreira está no último semestre de jornalismo. Apaixonada pelas palavras, a autora prima a cada texto pelo (re)encantamento da escrita por meio do viés literário.
Parabéns, Cíntia! Muito legal seu texto. Adorei a parte “livro sobre ypês amarelos”. Vc teve muita sensibilidade!
Parabéns, Perfeito !
Cintia, parabéns!!
Muito lindo seu texto.
Você me fez refletir… Que livro será que sou?
Um enorme bjo, sucesso sempre!!!
Cíntia como sempre muita sensibilidade. Parabéns, essa é a diferença de quem ama o que faz. Abraços.
Sabe de uma coisa, Cíntia? Acho que você é um livro de poesia. Parabéns!
Belíssimo texto. Altamente reflexivo. Adorei cada palavra sua, minha querida. Até agora, este é o melhor texto seu aqui no Diário. Meus parabéns. Você tem muito talento. Que Deus te abençoe. Beijos 🙂
Ah! E eu concordo com a Carlinha. Acho que você é um livro de poesia. Eu diria mais, você é um livro de poesia com gosto de algodão doce: encantado!
Acreditem nao e somente poesia e sim vida em poesia, ha reflexao em cada palavra. Parabens muito lindo
Os seus textos dizem muito sobre o livro que és. Concordo com a Carla, você é poesia! Seu texto me lembrou uma obra da Bienal da Arte ano passado, que nos perguntava: com que livro você construiria sua casa? Belas palavras Cintia!
Agradeço a todos que leram e comentaram…estou muito feliz por esse espaço e mando um grande abraço a todos.
Olá Cíntia,
Demorei para ler (risos), mas valeu a pena ter lido. Muito Bom. Parabéns e continue produzindo textos com essa qualidade toda. Abraço.