“A Liberdade, Sancho, é um dos maiores dons que podem nos dar os céus”
– Cervantes.
O silêncio da direita e de grande parte da sociedade brasileira em relação ao desfecho dos processos envolvendo Aécio, Temer e o governo como um todo é estarrecedor – mas não surpreendente. Acostumada à força colonial que a oprime e subjuga há séculos – apesar de estarmos a poucos anos de celebrarmos o aniversário de 200 anos de nossa pseudo-independência -, a nação brasileira aceita como benesse os arreios que seus feitores lhe colocam.
Atraída pela força que a violenta diariamente, grande parte da população brasileira consegue apenas desejar ser exatamente como quem a controla, como quem a submete. Num ciclo vicioso do qual nos falam pensadores que se debruçam sobre a formação do pensamento em países colonizados – como o faz também Fanon -, aceitar pacificamente os descalabros de quem julgamos poderosos é também, inconscientemente, parte de um desejo de se sentir parte deles.
Desejosa por parecer “limpinha”, “cheirosa” e “neoliberal”, a direita e seus eleitores fecham os olhos, os ouvidos, a mente e a boca para todo tipo de calamidade político-social impetrada por aqueles que – tomando o poder pela força de um golpe parlamentar comprado aos milhões – vendem hoje a preços módicos não mais apenas as riquezas naturais do país, mas também as instituições maiores do Brasil, com a PF, o Senado, a PGR e o próprio Congresso.
O “grande pacto nacional, com o Supremo, com tudo” – prenunciado pelo senador Romero Jucá como exercício suicida capaz de garantir o impeachment da presidente Dilma e estancar a “sangria” da Lava-Jato – completa-se agora com a derrocada e consequente capitulação das instituições acima citadas ante o poder hecatômbico do nefasto acordo estabelecido.
Em nome de uma cruzada contra a esquerda e contra os governos do PT, o “grande acordo nacional” obrigou às instituições nacionais a hipotecarem sua autonomia e liberdade em prol da criação de um status quo capaz de propiciar garantias de auto-preservação àqueles que compõem os quadros dessas instituições. Com as bençãos da opinião pública e a passividade da massa seduzida pelo “poder” de quem ingenuamente considera como seus iguais, os três poderes “trocam figurinhas” entre si e dão as cartaz de um jogo mais que marcado.
Perdida a autonomia e o poder de discernimento em prol da sociedade brasileira e, em especial, dos menos favorecidos, sobram desmandos e descasos por parte daqueles que deveriam ser os pilares da nação.
Perdida a liberdade, entregue a falsos profetas em uma bandeja de prata, sobram agora desastres que deveriam nos assombrar diariamente – mas que, de verdade, nem mais assombros conseguem causar.
Perdida a moral, o que resta mais?
Talvez apenas as sagradas esperanças dos loucos e dos visionários quixotescos.