Na abertura da FLIP 2013, conferência de Milton Hatoum não convence. Escritor apresentou “mais do mesmo” sobre obra de Graciliano Ramos.
Simpático, inteligente, bom escritor e boa prosa, o escritor Milton Hatoum – figura que se fez presente também em outras edições da FLIP – certamente ocupara um lugar equivocado dentro da programação do evento deste ano. Convidado a fazer a conferência de abertura – na noite de quarta-feira (3) – Hatoum não pode apresentar ao público o que de melhor teria a oferecer: a mediação de suas leituras e sua experiência de escritor/leitor.
A apresentação de Hatoum – ao contrário do que poderia se esperar – foi burocrática e até mesmo um pouco cansativa. Citando críticos renomados da literatura brasileira – como Lafetá, Carpeaux e Arrigucci — Hatoum traçou pela obra de Graciliano Ramos – corpus de análise de sua conferência – uma leitura que, de certa forma, seguiu pela tradicional vertente do universo social – com ênfase, sobretudo, nos reflexos que os problemas acerca de educação, do analfabetismo e do não-letramento ganham no texto de Graciliano. Ou seja, Hatoum trouxe a público um pouco “mais do mesmo” que sempre se diz da obra de Graciliano. Conferência realizada por meio de leitura de texto, Hatoum não teceu grandes análises nem tentou uma interpretação própria da obra do mestre alagoano.
Culpa do escritor? Certamente, não. Após a conferência, ficou claro que a curadoria da Flip 2013 se equivocou ao convidar Milton Hatoum para realizar uma atividade reservada em especial aos acadêmicos e teóricos da literatura. Longe – felizmente – desse plano, o escritor fez um grande esforço para tratar academicamente um tema que ele poderia ter abordado de outra maneira e em outra situação (quer dizer, em outra mesa que não a da conferência da abertura). Um exposição de Hatoum sobre a sua leitura mais particular e pessoal de Graciliano teria sido, com toda certeza, muito mais bem-vinda e bem mais feliz.